Bolsonaro diz não ter quebrado decoro em fala sobre a ditadura

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Foto: Divulgação

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse nesta quarta-feira (31) que não quebrou o decoro ao dizer que poderia explicar ao presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, como o pai dele desapareceu durante a ditadura militar (1964-1985).

A declaração de dois dias atrás provocou uma série de repercussões de políticos e entidades.

“Não tem quebra de decoro. Quem age desta maneira, perde o argumento”, disse Bolsonaro, ao deixar o Palácio da Alvorada no começo da manhã.

“Muita coisa aconteceu, lamentamos muita coisa. Mas não pode valer um lado só da história. E como eu sempre disse: Alguém acredita que o PT está preocupado com a verdade? Tá de brincadeira.”

“Quando aquelas caras criaram a Comissão da Verdade, eles deram gargalhadas. Vocês da imprensa sabem o que é informação, contrainformação e contra contrainformação. É muito simples”, afirmou o presidente.

Criada em 2011 e instalada em 2012, durante o governo Dilma, a Comissão Nacional da Verdade teve por finalidade apurar graves violações contra os direitos humanos de setembro de 1946 a outubro de 1988. Ela foi concluída em dezembro de 2014.

Seus integrantes foram advogados, especialistas em direitos humanos, um ex-procurador geral da República e um ex-ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Foram ouvidos vários militares que atuaram na repressão às organizações de esquerda durante a ditadura militar (1964-1985).

A CNV trabalhou com diversas bases documentais, mas o grosso dos papéis, agora questionados pelo presidente Bolsonaro, veio das próprias Forças Armadas.

Como no caso dos documentos questionados por Bolsonaro, setores da inteligência militar produziram informações que, a partir dos anos 1990, foram entregues ao Arquivo Nacional, um dos principais colaboradores dos trabalhos da CNV.

A CNV não se confunde com outra comissão no âmbito do governo, existente desde 1995 ao longo de todos os governos desde então, a Comissão Especial para Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), formada por sete conselheiros, incluindo membros do Ministério Público e do Congresso.

Foi essa comissão, e não a CNV, que emitiu um atestado de óbito no último dia 24 que reconhece que Fernando Santa Cruz morreu em 1974 de forma “violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985”.

DESAPARECIDO

Na segunda-feira (29) Bolsonaro ironizou o desaparecimento de Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira. Ele desapareceu em fevereiro de 1974, após ter sido preso junto de um amigo chamado Eduardo Collier por agentes do DOI-Codi, órgão de repressão da ditadura militar, no Rio de Janeiro.

“Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de uma dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele”, afirmou Bolsonaro no início da semana, reclamando da atuação da Ordem na investigação do caso Adélio Bispo, autor do atentado à faca do qual foi alvo.

Nesta quarta-feira, Bolsonaro voltou a falar do caso Adélio. Afirmou que se recusava a falar com o advogado dele, mas que aceitaria conversar com o próprio agressor.

“Ele tem a chance de falar agora. Eu to me dispondo a ele, se ele quiser conversar comigo, abrir o jogo, eu vou conversar com ele, com familiar dele. Com advogado eu não converso”, disse o presidente.

Bolsonaro disse que a conversa precisaria ocorrer logo para que não haja uma queima de arquivo, hipótese que ele levanta. O presidente sustenta a tese de que o ataque foi financiado por partidos de esquerda.

“Estou dando uma chance a ele, porque ele está condenado. E ele com toda certeza tem o que falar. Alguém acredita que ele está maluco? Se estivesse maluco, estava esfaqueando todo mundo, não só eu. E outra: ele tinha dinheiro para andar o Brasil todo.”

Da FSP