Deltan usou dinheiro público em propaganda para deixá-lo famoso e rico

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reprodução

Deltan Dallagnol pediu para o ex-juiz dinheiro de depósitos judiciais (38 mil reais) para pagar publicidade da Lava Jato e destaque ao seu nome.

Como vocês viram, na conversa em que o procurador Deltan Dallagnol pede a Sergio Moro dinheiro para finalizar a produção de uma peça publicitária que seria veiculada pela Globo, há o envio de dois PDFs.

Um deles é esse que se vê no alto: trata-se do orçamento enviado pela produtora, que, obviamente, não comete crime nenhum e está apresentando o que lhe foi encomendado. Certamente Deltan há de reconhecer a sua autenticidade, não é mesmo? O outro documento traz o roteiro do filmete, cuja imagem segue abaixo. Transcreve-se o texto na sequência.

TRANSCRIÇÃO DO ROTEIRO

Dez Medidas Contra a Corrupção

Roteiro 30″

“Engravatado”

Cena de madrugada, numa casa de família de classe média. O silêncio deixa claro que a família está dormindo. O trinco da porta da cozinha se mexe e um homem de terno e gravata entra na casa.

Ele mexe na geladeira e começa a jogar fora toda a comida da família. Ouvimos a locução em off:

– A corrupção atinge a sua vida de tantas formas que você nem percebe,

Se dirige ao banheiro e pega vários frascos de remédios, jogando-os fora também. Corta para imagem do casal, que dorme sem perceber nada. – desviando recursos que deveriam ir para a saúde,

O homem entra no quarto das crianças, que dormem quietas. Ele pega os livros nas mochilas delas e rabisca todos eles, rasgando as páginas também. – para a educação Ele segue para o quarto do casal, que continua dormindo.

Antes de entrar, engatilha um revolver. – ou para a segurança. O homem entra, a porta do quarto se fecha e a tela fica escura.

– É hora de acordar. Na tela preta entra o lettering: 10 Medidas Contra a Corrupção.

– Ajude a campanha 10 Medidas Contra a Corrupção a virar lei.

Telas de assinatura com logo e site: www.combateacorrupcao.mpf.mp.br/10-medidas – Acesse o site, conheça as medidas e assine o projeto que pode acabar com a corrupção no país. Fica apenas a marca do projeto:

– Não desista do Brasil.

 

A ESTÉTICA DO TERROR

Como vocês podem perceber, Deltan Dallagnol e sua turma podem ser bem mais solares e divertidos quando tratam de meios para ganhar dinheiro com a Lava Jato, conforme revelou reportagem da Folha e do site The Intercept Brasil neste domingo.

No diálogo entre Deltan e “Robito” — o também procurador Roberson Pozzebon —, há até certo clima de galhofa. Este chega a dizer que, caso a empresa a ser constituída pelas respectivas mulheres de ambos para receber os “lucros” das “palestras e aulas” chame a atenção dos críticos, então é porque ambos estarão sendo bem-sucedidos nas artes de ganhar o vil metal — “vil metal” é expressão destes escribas, claro!

Vale lembrar trecho do diálogo travado no dia 14 de fevereiro de 2019, quando Deltan fala sobre a conveniência de o quarteto se associar a uma empresa de palestras chamada “Star”, de propriedade de Fernanda Cunha:

Roberson
21:42:13

Gostei da ideia, Delta!

21:42:37
E se falássemos pra ela que a divisão seria por 5 (20% cada um)

21:42:44
Vc acha que ela toparia?

Deltan
21:44:59
Ela ganha 20% sobre palestrantes sem fazer muito esforço… e aqui ela faria toda a organização… acho que os 20% não vão servir de estímulo, mas posso ver com ela

21:45:04
posso propor sim

21:50:55
só vamos ter que separar as tratativas de coordenação pedagógica do curso que podem ser minhas e do Robito e as tratativas gerenciais que precisam ser de Vcs duas, por questão legal

21:51:21
é bem possível que um dia ela seja ouvida sobre isso pra nos pegarem por gerenciarmos empresa

Roberson
21:57:08
Assim vai funcionar, Delta. Ótima ideia

21:59:07
Se chegarem nesse grau de verificação é pq o negócio ficou lucrativo mesmo rsrsrs

21:59:11
Que veeeenham

DE VOLTA

Notem que há uma pegada de euforia desafiadora: “Que veeeenham”. A certeza de que eles podem qualquer coisa é de tal sorte que, como se verifica, vão ficando ousados. Não custa lembrar que Deltan, “Robito” e suas respectivas mulheres — Fernanda e Amanda — estão tratando da criação de uma empresa, que ficaria em nome das “conges”, para que a dupla de procuradores, que fala a linguagem pública do jacobinismo inflamado, possa haurir seus “lucros” em razão do que Deltan chama “networking e visibilidade”.

A Lava Jato, como se vê, já era um negócio.

 

TERRORISMO COM O PÚBLICO

Com o público, com o pagador de impostos, com os que ficaram desempregados, com os que viram as empreiteiras a demitir mais de 300 mil pessoas até o ano passado, com os justamente indignados com a corrupção — e qualquer pessoa moral e decente defende que seja combatida —, a linguagem é bem outra.

Aí trata-se da terapia de choque, da estética do terror, da lógica do medo, da paralisia pelo susto.

E, como se nota, o público alvo é a classe média.

Foi assim que a Lava Jato seduziu e mantém apartadas da razão milhões de pessoas. A lógica implícita é esta: “Se a corrupção existe, então tudo é permitido para combatê-la”.

As agressões à ordem legal estão sendo reveladas de maneira miserável e irrespondível.

Enquanto os senhores procuradores viam engordar sua conta bancária — Dallagnol diz a sua mulher que o ano de 2018 deve fechar com R$ 400 mil líquidos oriundos das atividades paralelas —, os brasileiros eram convidados a experimentar o clima de terror, medo e desesperança.

Para os protagonistas da Lava Jato, o futuro sorria, certos de que nada poderia lhes pôr um freio, uma vez que imprensa, Supremo Tribunal Federal, Conselho Nacional de Justiça e Conselho Nacional do Ministério Público pareciam rendidos e no papo. E estavam mesmo!

E se alguém reclamasse? Robito tinha a resposta: “Que veeeenham”.

Nos diálogos publicados por Folha/The Intercept Brasil no domingo, fica claro que, no dia 25 de fevereiro de 2015, faltando alguns dias para a Lava Jato completar um ano (começou no dia 17 de março de 2014), Deltan já estava bravo com críticas que se ouviam à sua desenvoltura para conceder palestras. Escreveu:
“Estou a favor de maior autonomia, mas não me encham o saco, pra usar sua expressão, a respeito de como uso meu tempo.”

Entenderam?

Não encham o saco de Deltan!

***

Do Blog do Reinaldo Azevedo.