Moro: “se conversas forem verdade, mostrariam esquizofrenia, não parcialidade”

Todos os posts, Últimas notícias
Foto: Adriano Machado | Reuters

ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, ironizou nesta sexta-feira mensagens divulgadas pelo site “The Intercept Brasil” e pela revista “Veja” em que ele estaria pedindo a procuradores da Lava-Jato a inclusão de uma prova no processo de um réu. Moro disse que os fatos narrados na reportagem, “se fossem verdade”, mostrariam esquizofrenia da parte dele, e não parcialidade.

— Relativamente a esse caso houve absolvição. Eu absolvi. Vou pedir para incluir fato na denúncia e depois absolver? Não é nem questão de parcialidade. É esquizofrenia — reagiu Moro, ao falar sobre o processo envolvendo o operador de propina Zwi Skornicki.

De acordo com a “Veja” e o “The Intercept”, em conversa de 28 de abril de 2016, Moro teria orientado os procuradores sobre prova em um processo. Dallagnol teria avisado à procuradora Laura Tessler que o então juiz o avisou sobre a ausência de uma informação — um depósito a um funcionário da Petrobras — na denúncia do réu Zwi Skornicki, representante do estaleiro Keppel Fels, operador de propina do esquema e, posteriomente, delator na Lava-Jato.

“Laura no caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do [Eduardo] Musa e se for por lapso que não foi incluído ele disse que vai receber amanhã e da tempo. Só é bom avisar ele”, teria escrito Dallagnol.

“Ih, vou ver”, teria respondido Laura.

De acordo com a revista e o site, o comprovante do depósito de US$ 80 mil, feito por Skornicki a Musa, foi incluído no dia seguinte à peça pelo MPF. Moro aceitou a denúncia e, para isso, citou o documento. Mais cedo, em nota, Moro afirmou que não tem como “confirmar ou responder pelo conteúdo de suposta mensagem entre terceiros”. E que a “acusação relativa ao depósito de USD 80 mil, de 7 de novembro de 2011, e que foi incluído no aditamento da denúncia em questão, não foi reconhecido como crime na sentença proferida pelo então juiz em 2 de fevereiro de 2017, sendo ambos absolvidos deste fato (itens 349 e 424, alínea A e D)”.

Em palestra para investidores na Expert XP 2019, Moro não falou sobre as supostas mensagens trocadas com integrantes da Lava-Jato que envolveriam deputado cassado Eduardo Cunha, também apresentadas pela revista. Segundo a reportagem, os procuradores teriam concordado em marcar uma reunião com o advogado de Cunha, Délio Lins e Silva Júnior. Em conversa privada, na noite do mesmo dia, Moro teria questionado Dallagnol.

“Rumores de delação do Cunha… Espero que não procedam”, teria escrito Moro.

“Só rumores. Não procedem. Cá entre nós, a primeira reunião com o advogado para receber anexos (nem sabemos o que virá) acontecerá na próxima terça. estaremos presentes e acompanharemos tudo. Sempre que quiser, vou te colocando a par”, teria respondido Dallagnol.

“Agradeço se me manter informado. Sou contra, como sabe”, teria escrito Moro, em seguida.

Em nota, o ministro firmou que eventual colaboração de Eduardo Cunha, por envolver supostos pagamentos a autoridades de foro privilegiado, “jamais tramitou na 13ª Vara de Curitiba ou esteve sob a responsabilidade” dele.

No evento desta sexta-feira, o ministro criticou os dois veículos de comunicação por não ter sido procurado antes da publicação da reportagem para dar sua versão.

— Pelo menos, tenha a honestidade. Se quiser produzir uma matéria dessa, (teria) de disponibilizar as mensagens antes, e não construir narrativas sem respeitar o direito de resposta — disse.

Na palestra, Moro manteve o discurso de que se trata de vazamentos de mensagens sem comprovação de veracidade e que ele sempre agiu com “correição” quando juiz. Mais uma vez, queixou-se de ter que dar explicação sobre conteúdo vazado pelo “Intercept” e considerou se tratar de “historia requentada”.

— Acho estranho ter que ficar respondendo sobre mensagens obtidas de maneira criminosa, cuja autenticidade não está demonstrada e que não são apresentadas de uma vez. É história requentada.

O ministro acredita que as mensagens vazadas não foram obtidas a partir de possível uma invasão do celular dele.

— Porque teriam (vazado) mensagens trocadas com outras pessoas — afirmou.

De O Globo