Vaza Jato: já pensou na cara de desespero de quem lê a Veja?

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A Veja publicou nesta semana a reportagem mais grave, até agora, sobre a Vaza Jato. Justo a Veja! Eu fico aqui imaginando a cara de pudim (pra não dizer outra coisa) dessa gentinha “de bem”, assídua leitora da revista venal, ao ver seu ídolo Sergio Moro estapampado como o que sempre foi: um corrupto, um verdadeiro bandido.

Quem diria. Ver Moro derretendo entre os dedos que folheiam o periódico que, certa vez, pediu a cabeça de Lula, literalmente. Uma gentalha pertencente à classe média ridícula, fascista, escravagista e brega, que sempre leu Veja com sangue nos olhos quando a pauta era Lula.

Quem não se lembra desta aberração acima, de setembro de 2016? Pois eu me lembro do asco e do horror que senti. Isto nunca foi jornalismo. Foi crime. Lula foi vítima da maior campanha de ódio e difamação da história deste país. E Veja foi um dos principais autores dessa chacina de reputações, ao lado da Rede Globo. Duas excrescências.

Dito isto, acho curioso o que está acontecendo. Ainda mais se recordarmos da fala profética do presidente Lula a Sergio Moro, na ocasião de seu depoimento, antes de ser preso.

Lula mostrou a Moro, na oportunidade, que haviam sido feitas 298 matérias contra ele na Folha de São Paulo. No Globo, 530 matérias negativas. No Estadão, 318. No Jornal Nacional, 18h15min falando mal dele (o equivalente a 12 partidas de futebol).

Acusou a operação de vazar informações, às quais sequer a defesa dele teve acesso. “Esse cidadão tem que pagar o preço por existir”, disse de si. Mas a parte mais impressionante vem às 4h27min54seg do depoimento:

“Esses mesmos que me atacam hoje, se tiverem sinais de que serei absolvido, prepare-se porque os ataques ao senhor serão maiores”, disse Lula, em suas considerações finais.

O magistrado respondeu ao ex-presidente que “infelizmente” ele já é atacado por bastante gente, inclusive por blogs simpáticos a Lula.

Assim como em outros momentos do depoimento, Moro disse a Lula que ele será julgado com base nas provas do processo.

Pois é. Um desses “blogs” a quem Moro se refere é este aqui, o Blog da Cidadania, cujo editor, Eduardo Guimarães, Moro mandou conduzir coercitivamente, de maneira ilegal, com intuito de intimidá-lo. Não conseguiu.

Mas vamos voltar às palavras premonitórias de Lula: “Esses mesmos que me atacam hoje, se tiverem sinais de que serei absolvido, prepare-se porque os ataques ao senhor serão maiores”. Pois é.

Diante da gravidade dos vazamentos trazidos à tona pelo The Intercept Brasil, boa parte da imprensa anti-petista, anti-Lula e anti-democrática percebeu o óbvio: Lula será absolvido, pois a farsa irá ruir. Ver a revista Veja, uma das mais venais, estampar os crimes de Moro me trouxe três alegrias impagáveis:

1) ver ser cumprida a profecia de Lula, dita diretamente nas fuças desse verme travestido de juiz;

2) imaginar a cara de @#$%&* dos leitores dessa revista, os tais “cidadãos de bem”, engolindo seca a leitura a respeito de seu heroi despedaçado;

3) ler um editorial sem vergonha da Veja, admitindo a culpa de ter feito de Moro um heroi e, agora, tendo que “atacá-lo”, como previu Lula.

Imagem: Revista Veja

A imagem acima, aliás, estampa o referido editorial. A Veja criou uma massa de leitores ferozes. Uma massa que não pensa, só odeia. O que será dessa gente agora?

De maneira cínica, a revista que pediu a cabeça de Lula e criou esse exército de gente que odeia muito (e pensa pouco) escreveu o seguinte trecho:

VEJA sempre foi — e continua — a favor da Lava-Jato. A luta contra a corrupção tem sido um dos pilares da nossa história. Mas os diálogos que publicamos nesta edição violam o devido processo legal, pedra fundamental do estado de direito — que, por sinal, é mais frágil do que se presume, ainda mais na nossa jovem democracia. Jamais seremos condescendentes quando as fronteiras legais forem rompidas (mesmo no combate ao crime). Caso contrário, também seríamos a favor de esquadrões da morte e justiceiros. Há quem aplauda e defenda esse tipo de comportamento, reação até compreensível no cidadão comum, cansado de tantos desvios éticos. Mas como veículo de mídia responsável não podemos apoiar posturas como essa.

Aham. Quem não te conhece, que te compre na primeira banca. Veja foi rápida ao analisar o contexto: as informações da conduta criminosa de Moro são tão graves e verdadeiras que a revista preferiu se antecipar. Lula avisou.

Moro e seu cão de estimação, Deltan Dallagnol, foram tão soberbos e descuidados que se imaginaram acima de qualquer circunstância. Subiram-lhes à cabeça o poder, o “apoio do público”, os holofotes. Esqueceram de analisar a história e ver como ela trata gente como eles.

Ela é implacável. Às vezes demorada, é bem verdade. Mas, no caso desses dois manés, a limpeza de tanta sujeira foi rápida e eficaz, tipo um… lava a jato (o nome da operação sempre foi escrito de maneira errada, diga-se).

Detalhes bobos, mas que fazem toda a diferença.

Aguardemos cenas dos próximos capítulos. O que virá nas futuras capas da Veja?

Em tempo: a revista também, muito em breve, vai encarar a fúria dos acéfalos que alimentou com ódio. Já já vai ser chamada (se é que já não foi) de “revista petralha”. A ver.

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Meire Cavalcante é jornalista, educadora e co-editora do Blog da Cidadania.