BA tem conferência climática sem presença do governo federal

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Foto: Max Haack/Secom PMS

Realizada pela agência de mudanças climáticas da ONU em parceria com o governo brasileiro, a conferência Climate Week, Semana Climática da América Latina e Caribe, começa na manhã desta segunda-feira (19) em Salvador sem contar com representação do governo federal.

Dividem a mesa de abertura do evento o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), o secretário municipal de sustentabilidade, André Fraga, o embaixador da Holanda, Kees van Rij, o primeiro-secretário da embaixada da Alemanha, Lutz Morgenstern e o diretor agência de mudanças climáticas da ONU (UNFCCC), James Grabert.

“Nós estamos aqui graças ao prefeito ACM Neto”, disse Fraga na abertura do evento.

“Afirmei que Salvador fazia questão de sediar e que a prefeitura iria mobilizar todos os esforços e todos os recursos para realizar a conferência. E aqui estamos”, afirmou ACM Neto.

“Precisamos superar as discussões ideológicas e partidárias porque esse é um tema que interessa a todos”, acrescentou o prefeito.

Em maio, a conferência chegou a ser cancelada pelo Ministério do Meio Ambiente, responsável por sediar o evento. O ministro Ricardo Salles havia comunicado à ONU que o Brasil não receberia o evento. Ele recuou da decisão, no entanto, por insistência de ACM Neto.

Antecessor de Salles, o ex-ministro do Meio Ambiente Edson Duarte também participa do evento. Reconhecido por ter negociado para que a conferência acontecesse no Brasil, foi aplaudido na abertura do evento.

Em encontro de ex-ministros em maio, Duarte havia afirmado que Salles se recusou a receber informações do antecessor para a transição de mandato. Segundo servidores da pasta, o atual ministro foi pego de surpresa ao descobrir realização da conferência.

“Nós quase levamos uma COP”, lembrou o secretário André Fraga, em referência à COP-25, conferência da ONU voltada à negociação do Acordo de Paris e que aconteceria no Brasil no próximo dezembro, mas foi cancelada pelo governo federal ainda em novembro do ano passado, em um pedido de Bolsonaro a Temer.

Com 5.000 inscritos, o evento tem o objetivo de discutir a implementação regional das metas do Acordo de Paris, trocar experiências e promover negócios que apoiem a redução de emissões de gases-estufa.

Ao longo do ano, também foram organizadas semanas climáticas regionais na Ásia e na África.

A multiplicidade de eventos climáticos acontece em um contexto de urgência climática e busca convocar os países a aumentar a ambição das metas do Acordo de Paris, que são determinadas por cada nação.

As metas anunciadas por cada país em 2015, na assinatura do acordo, não são suficientes para conter os efeitos mais desastrosos do aquecimento global e ainda levariam o mundo a um cenário de aquecimento superior a 3°C até o final do século.

Até o fim do evento, na sexta-feira (23), também se deve chegar a uma carta que será levada ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que promoverá uma conferência sobre clima  em setembro, um dia antes da assembleia geral da ONU em Nova York, obrigando os chefes de Estado do mundo a dedicar atenção ao tema das mudanças climáticas. A expectativa é que os países passem a anunciar metas mais ambiciosas a partir do ano que vem —adiantando a revisão de metas prevista apenas para 2023 no acordo climático.

A pressa vem acompanhada de aumento dos eventos extremos e uma sequência de recordes de temperatura —os últimos quatro anos foram os mais quentes já registrados, segundo a Organização Mundial de Meteorologia.

Os efeitos são sentidos localmente e têm aumentado o engajamento dos governantes regionais. A despeito da oposição dos governos Trump e Bolsonaro ao Acordo de Paris, governadores e prefeitos nos Estados Unidos e no Brasil têm reforçado a agenda climática.

Em seu discurso de abertura, ACM Neto anunciou a criação do Painel Salvador de Mudança do Clima —inspirado no IPCC, o painel da ONU de mudanças climáticas, composto por cientistas de todo o mundo.

“O Painel Salvador de Mudança do Clima vai dar toda a base de discussão para que Salvador possa ter seu próprio plano de adaptação e mitigação às mudanças climáticas”.

O prefeito listou compromissos climáticos com ciclovias, aterros sanitários, plantio de corredores verdes e estímulos a startups para criação de soluções climáticas e sociais. “Hoje nós olhamos a sustentabilidade como elemento econômico importante de Salvador. Temos um plano municipal de resiliência que serve de farol para as prioridades de orçamento e de investimento em infraestrutura”, afirmou.

Da FSP