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“Deltan, ainda é tempo de pedir demissão e pagar os pecados”

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A entrevista de Deltan Dallagnol à revista Época é coisa adequada a fanfarrões, a embusteiros, a trapaceiros.

Se ele é ou não isso que sua fala ao menos semelha, aí fica a juízo de cada um. O que dizer de um procurador da República que é chefe de uma força-tarefa e que admite, na prática, serem verdadeiras todas as informações publicadas por reportagens derivadas do material recebido por The Intercept Brasil?

Ocorre que, ao mesmo tempo, ele insiste em não reconhecer a autenticidade dos diálogos, como se as duas coisas fossem realidades compatíveis. Se o material que hoje está com a Polícia Federal e com o Supremo coincide com aquele publicado nas reportagens oriundas do material recebido por The Intercept Brasil? Ocorre que, ao mesmo tempo, ele insiste em não reconhecer a autenticidade dos diálogos, como se as duas coisas fossem realidades compatíveis.

Se o material que hoje está com a Polícia Federal e com o Supremo coincide com aquele publicado nas reportagens oriundas do material recebido pelo TIB, bem, isso não cabe ao site revelar porque resguardado, como deve ser, pelo sigilo da fonte. Mas há caminhos legais — não é mesmo, senhor procurador? — para atestar a autenticidade ou não do que está sob sigilo.

E então se poderia saber se o que ali está guardado é ou não autêntico. Dallagnol continua a apostar, pelo visto, na destruição do material sem que seja submetido a nenhuma perícia. Aposta na tese da “prova colhida de modo ilícito”.

Trata-se, adicionalmente, de uma aposta covarde. Dallagnol foi o grande defensor e o grande arauto da admissão em processo de provas ilícitas. Era uma das tais “Dez Medidas Contra a Corrupção”. Eis o lado fanfarrão da sua fala. Parecia corajoso defender aquela proposta. Hoje, a tese subjacente à entrevista se ancora na covardia de negar o próprio pensamento. Não sei se chegou a ficar corado enquanto falava.

Como as coisas não são ditas às claras, como tenta enrolar o interlocutor com uma afirmação e seu contrário, manifesta-se o comportamento que é próprio de embusteiros e trapaceiros.

Como eu aposto que, no fundo das consciências, todo homem sente um pingo de vergonha ao menos, Dallagnol poderia evidenciar que, em essência, não é o que seu comportamento sugere, fazendo um mea-culpa e admitindo todos os erros cometidos — alguns deles, entendo, criminosos.

A admissão da culpa o inabilita para continuar na condução da força-tarefa e no próprio Ministério Público. Ele é jovem. Não dá mais para investir na carreira de surfista. Mas ainda pode ser advogado caso a OAB não lhe casse a carteirinha — o que, sinceramente, seria merecido.

Ademais, nesse caso, a tese da prova ilícita suscita um bom debate. Sim, o material que chegou ao TIB e que veículos de imprensa, incluindo este blog, publicam deve mesmo ter sido colhido de uma maneira que não está prevista em lei. Mas aquilo que foi apreendido pela PF e que hoje está compartilhado com dois ministros do Supremo foi obtido segundo os rigores legais.

Ninguém precisa apelar a provas ilícitas, a estar certa a PF — segundo quem o material colhido pelos hackers e aquele passado à Intercept coincidem — para evidenciar irregularidades e crimes cometidos pela força-tarefa. Basta, então, apelar às lícitas.

De onde vem a garantia, que Dallagnol parece ter, de que esse material jamais será submetido à perícia?

Dallagnol, seja um bom cristão e se arrependa de seus erros. Deus há de ficar satisfeito. É claro que isso não volta a habilitá-lo para a vida pública. Ainda há tempo, aos olhos do Senhor, de evidenciar que o comportamento próprio a um fanfarrão, embusteiro e trapaceiro não caracteriza um real fanfarrão, embusteiro e trapaceiro.

Busque a remissão de seus pecados institucionais. Não erre mais e suma da vida pública. Você viveu muito pouco para o mal que já causou. Que tenha uma vida longa para experimentar o arrependimento.

É o desenho sincero de um cristão. Como você diz ser.

De UOL