Deltan sabia que dados de suas palestras podiam gerar problemas legais

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Foto: Rodolfo Buhrer-25.jul.19/Folhapress

As mensagens no Telegram mostram que o procurador receava que a divulgação dos dados de suas palestras pudesse levar à descoberta de situações embaraçosas e consequentemente promover questionamentos legais e críticas.

Em 3 de julho de 2017, após um pedido de esclarecimentos da Folha sobre o assunto, Deltan disse a um assessor da Procuradoria que colegas da força-tarefa da Lava Jato compartilhavam dessa preocupação.

“Tenho pensado se devo soltar os nomes dos tomadores, mas o pessoal da FT acha que não, pq vão fuçar para dizer que um diretor da entidade tem isso ou aquilo, que o médico vinculado àquela unimed tá procesado por sonegação ou isso ou aquilo… acham que quanto mais ficar dando corda, pior será”, afirmou o procurador.

O assessor concordou com a posição de Deltan: “Sim, vão acabar querendo especular que vc deu palestra em entidade de tal pessoa que já foi citada em algo…. etc…”.

Palestras remuneradas do procurador Deltan Dallagnol entre fev.17 a fev.19, conforme mensagens, planilhas, contratos e recibos que circularam no seu aplicativo Telegram

Data | Contratante e local | Valor, em R$ milhares*

17.fev.17

Unimed Assis

28,8

Assis (SP)

21.abr.17

Unimed SC

36,0

Florianópolis

14.jun.17

Soc. Brasileira Cirurgia Plástica

35,9

São Paulo

22.jun.17

XP Corretora de Câmbio

35,9

São Paulo

20.jul.17

FIEC – CIC

29,0

Fortaleza

26.ago.17

B3

37,7

São Paulo

26.out.17

Sindicombustíveis

30,6

Curitiba

9.nov.17

Unimed Central Nacional

32,0

14.nov.17

Sicoob

20,9

Volta Redonda (RJ)

9.mar.18

Neoway

35,1

Florianópolis

4.abr.18

AML Consulting

28,5

São Paulo

25.mai.18

Assoc. Emp. de S. L. do Oeste

10,5

São Lourenço do Oeste (SC)

30.jun.18

Sindipostos Ceará

29,9

Fortaleza

2.ago.18

Unimed Porto Alegre

34,3

Porto Alegre

15.ago.18

Gartner

27,5

São Paulo

22.set.18

XP Corretora de Câmbio

32,5

São Paulo

17.out.18

Febraban

24,4

São Paulo

10.dez.18

ACI Santa Cruz do Sul

10,3

Santa Cruz do Sul (RS)

21.fev.19

Unimed Presidente Prudente

27,6

Presidente Prudente (SP)

11.fev.19**

Uniodonto de Campinas

33,9

O procurador buscou evitar até mesmo que a Corregedoria-Geral do Ministério Público Federal, órgão interno de fiscalização dos procuradores da República, tivesse acesso às informações sobre as palestras, como a Folha e o Intercept informaram em 8 de agosto.

A falta de transparência sobre as palestras remuneradas realizadas por membros do Ministério Público difere do que é previsto em lei para os juízes brasileiros.

Os magistrados são obrigados a informar quem são os contratantes de suas palestras para que os dados sejam publicados nos sites dos tribunais, conforme resolução do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). O objetivo da regra é permitir a verificação pública de eventuais situações de conflitos de interesse.

Da FSP