ONG indica alta de 15% no desmatamento da Amazônia

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foto: reprodução

A ONG Imazon divulgou nesta sexta-feira, 16, seu levantamento independente sobre o desmatamento da Amazônia apontando uma alta de 16% na perda da floresta entre agosto do ano passado e julho deste ano, na comparação com os 12 meses anteriores. O sistema tem uma metodologia diferente da usada pelo Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e observa uma região um pouco menor, mas traz o mesmo indicativo de alta já alertado pelo Deter.

O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon detectou 5.054 km² de desmatamento neste período, principalmente no Pará, no Amazonas e em Mato Grosso. Somente no último mês de julho, a destruição das florestas somou 1.287 km² – um aumento de 66% em relação a julho de 2018.

Para o mês de julho, o SAD aponta que o municípios com maiores áreas desmatadas foram Altamira, com perda de 128 km², e São Félix do Xingu (96 km²), ambos no Pará, e Porto Velho (78 km²), em Rondônia. O Acre como um todo também chamou a atenção. Segundo o Imazon, o Estado não costuma aparecer entre os líderes de desmatamento, mas ficou em terceiro lugar no ranking em julho, com uma alta de 257% em relação a julho de 2018.

O governador do Acre, Gladson Cameli (PP), vem dizendo para proprietários de terra que não paguem multas que eles venham a receber em caso de serem autuados pelo órgão ambiental local, como noticiou o  jornal Folha de S. Paulo no final de julho.

O cenário é bastante parecido com o observadovado pelo monitoramento do Inpe. Pelo acumulado de alertas do Deter, a perda entre agosto de 2018 e julho de 2019 foi 6.833 km² – alta de 49,45% em relação ao período anterior. O sistema do Inpe também observou uma disparada significativa no mês de julho, de 2.254 km² –  278% maior que o verificado no mesmo mês de 2018.

As informações do Inpe alertando para alta do desmatamento foram combustível ao longo do último mês para investida do governo contra o instituto – o que acabou resultando na demissão do então diretor, o pesquisador Ricardo Galvão, que tinha mais de 40 anos de experiência. O presidente Jair Bolsonaro afirmou mais de uma vez que os dados eram “mentirosos” e prejudicavam a imagem do Brasil no exterior e ainda acusou Galvão de estar “a serviço de alguma ONG“.

Na sequência, o ministro do Meio Ambiente, Rocardo Salles, passou a dizer que os dados tinham problemas e que ele iria contratar um novo serviço para fazer o monitoramento. O Estado mostrou nesta quinta, que o sistema já está sendo testado pelo Ibama.

Em debate com Galvão na GloboNews no último sábado, 10, Salles disse que nunca falou que os dados são manipulados. Voltou a dizer que o problema era a forma como foram divulgados, que seria sensacionalista, na visão do ministro, e que não poderiam vir a público sem o governo ter conhecimento. Galvão frisou que o Inpe envia os dados do Deter para o Ibama e os deixa disponíveis para consulta no site Terrabrasilis.

“O que nós usamos são publicações científicas, ministro. Não balela como vocês usam. Não coisa de jornalzinho e Twitter. Eu admiro quem usa Twitter, mas eu não uso. Uma coisa que qualquer dirigente de um país precisa entender é que quando se trata de questões científicas, não existe autoridade acima da soberania da Ciência. Nem militar, nem política e nem religiosa”, disse Galvão no debate.

O pesquisador voltou a explicar que o Deter não traz os dados finais de desmatamento da Amazônia – função que cabe a outro sistema do Inpe, o Prodes –, mas de alertas que servem para orientar a fiscalização. “Não significa que os 40% de alta vistos pelos alertas vão depois significar uma alta de 40% no Prodes. Os sistemas são diferentes. É como se um olhasse com uma câmera mais aberta e o outro focasse mais. Mas há correlação em torno de 82%. Vai ter alta neste ano com o Prodes, não tenho a menor dúvida”, disse Galvão ao Estado dois dias antes de ser exonerado.

Além do Imazon, o problema vem sendo observado por vários outros sistemas de monitoramento da Amazônia, inclusive os de instituições estrangeiras, como a universidade americana de Maryland.

Do Estadão