Após morte de Ágatha, Witzel faz propaganda para si mesmo

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Foto: reprodução

Wilson Witzel adora um microfone, mas levou três dias para comentar a última tragédia do Rio. Na sexta-feira, uma menina de 8 anos foi morta com um tiro nas costas. Ontem o governador reclamou dos protestos e disse que “é indecente usar um caixão como palanque”.

O ex-juiz entende do assunto. Há um ano, ele estava no ato em que dois deputados do PSL quebraram uma placa com o nome de Marielle Franco. Witzel não se incomodou com a celebração da morte da vereadora. Aproveitou a euforia da plateia para pedir votos.

No mês passado, o governador repetiu a dose. Depois de uma ação que libertou reféns na Ponte Rio-Niterói, ele saltou do helicóptero aos pulos, como se comemorasse um gol. Festejava o tiro que matou o sequestrador, um ajudante de padeiro que tinha transtornos mentais.

Ontem Witzel disse lamentar a morte de Ágatha Félix, mas não chegou nem perto de uma autocrítica. Ao contrário: culpou os usuários de drogas e fez propaganda do próprio governo. Ao que tudo indica, o ex-juiz já absolveu os PMs suspeitos de atirar na menina. “A polícia age sempre na legítima defesa da sociedade”, declarou.

O governador também elogiou o pacote de Sergio Moro, que amplia o excludente de ilicitude em favor de policiais que matam em serviço. O texto beneficia agentes que alegarem “escusável medo, surpresa ou violenta emoção”. É mais um incentivo ao bangue-bangue, que Witzel confunde com política de segurança.

Em sintonia com o secretário da PM, o ex-juiz definiu a morte de Ágatha como um “fato isolado”. A expressão ofende a inteligência alheia. A menina foi a quinta criança a morrer em operações policiais em nove meses. Todas eram pobres e negras — a carne mais barata do mercado, como diz a música gravada por Elza Soares.

Há duas semanas, a cantora disse que o Brasil está “doente” e não reage à escalada da barbárie. “Parece que botaram Lexotan na água do povo”, comentou. A morte de Ágatha pode ter começado a quebrar essa letargia. Ontem Witzel parecia preocupado com os protestos contra a brutalidade da polícia. Diante das câmeras, ele embargou a voz e tentou encenar um novo papel. “Eu não sou um desalmado. Eu sou uma pessoa de sentimento”, recitou

De O Globo