Caso Ágatha: PMs são ouvidos nesta segunda

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Foto: FABIANO ROCHA

Polícia Civil do Rio vai ouvir, na manhã desta segunda-feira, os policiais militares da UPP Fazendinha que participaram da ação que terminou morte de Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, no Complexo do Alemão, na última sexta-feira. A chegada deles está prevista para as 11h, na Delegacia de Homicídios (DH) da Capital, na Barra da Tijuca, Zona Oeste. A Kombi, onde Ágatha estava, está estacionada no pátio da especializada. É possível ver a marca de tiro no banco traseiro, sinalizada pela polícia. No entanto, não há qualquer perfuração na lataria do veículo, o que pode indicar que a porta da mala estava aberta na hora do disparo.

A DH também vai fazer uma reprodução simulada do assassinato durante a semana, para tentar esclarecer de onde partiu o tiro. Ágatha chegou a ser levada para o Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na madrugada de sábado. Quando soube da morte no hospital, Ailton Félix, o avô materno de Ágatha, entrou em desespero:

— Matou uma inocente. Cadê os policiais que fizeram isso? A voz deles é a arma. Não é a família do governador ou a do prefeito ou a dos policiais que está chorando. É a minha. Eles vão pedir desculpas, mas isso não vai trazer minha neta de volta. Foi a filha de um trabalhador, tá? Vão dizer que morreu uma criança no confronto. Que confronto? A minha neta estava armada, por acaso, para levar um tiro? — lamentou o avô, bastante abalado.

A investigação

Além dos depoimentos, os PMs entregarão as armas usadas por eles. Um projétil foi retirado do corpo da menina ainda no hospital. Posteriormente, em exame realizado por meio de scanner no Instituto Médico Legal (IML), foram removidos fragmentos de projétil.

O material foi encaminhado para exame pericial no Instituto de Criminalística Carlos Éboli e enviado para a perícia. Ele será utilizado para fazer a comparação balística.

Sonho destruído

A menina foi enterrada no Cemitério de Inhaúma neste domingo. Muito emocionados, familiares e amigos se despediram de maneira precoce da criança que tinha o sonho de se tornar bailarina e era aluna nota dez na escola.

— Deus a levou agora porque ela não merece ficar nesse mundo. Menina pura, obediente, não xingava palavrões, obedecia ao pai e aos tios. Era um anjo e agora vai obedecer a Deus — desabafou o avô, Aílton Félix.

Ágatha era o orgulho de toda a família. Uma menina alegre e que tinha o sonho de se tornar uma bailarina. Ágatha Vitória já dava os primeiros passos para realizá-lo. A menina fazia aulas de dança numa academia dentro do Complexo do Alemão. Determinada, ela seguia o treinamento à risca, mas sem nunca se descuidar da escola. Aluna do 3° ano do ensino fundamental num colégio em Ramos, ela gostava de escrever. Tirou nota máxima na última redação, sobre células-tronco.

Antes do enterro da menina, moradores do Alemão fizeram uma manifestação. O protesto começou por volta das 13h, em frente à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região, na Estrada do Itararé. “Nós exigimos justiça” e “governador, pare de nos matar” eram os gritos mais frequentes no cortejo.

O que diz a Polícia Militar

O porta-voz da Polícia Militar, coronel Mauro Fliess, defendeu, no sábado, a política de segurança adotada pelo estado. Em entrevista ao “RJTV”, da Rede Globo, disse que os homicídios estão em queda e também lamentou o episódio. Ágatha foi a quinta criança morta por bala perdida este ano no Rio e 57ª desde 2007, de acordo com levantamento da ONG Rio de Paz .

— A Polícia Militar se faz presente na rua para preservar vidas. Quem busca o confronto são os marginais com a convicção de que, caso alguma pessoa inocente seja ferida, essa culpa recairá imediatamente sobre os ombros da Polícia Militar. Não iremos recuar. O governo do estado está no caminho certo — disse Fliess.

De O Globo