Crise na Venezuela vira outdoor para políticos de direita

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Foto: Lucas Jackson/Reuters

Os países do consórcio diplomático que tenta pôr fim ao regime de Nicolás Maduro estão paralisados. Enquanto a crise política permanece sem solução à vista, alguns governantes só parecem preocupados em usar a Venezuela como outdoor em suas campanhas sobre os perigos do socialismo.

Presidentes que querem fustigar adversários de esquerda continuam dando atenção a Maduro. O pronunciamento de Donald Trump na ONU citou o caso venezuelano para dizer que o socialismo é um “destruidor de nações”. Jair Bolsonaro prometeu lutar para que outros países “não experimentem esse nefasto regime”.

Ficou por aí. Em 48 horas, três reuniões sobre o assunto em Nova York produziram somente um par de notas amenas e uma resolução com poucos avanços objetivos.

A boa notícia é que as discussões sobre uma ação militar estrangeira sumiram do mapa. Não se falou sobre isso nem quando Trump, que já disse que “todas as opções estão sobre a mesa”, apareceu como convidado numa reunião do Grupo de Lima.

O lado ruim é que muitos países reconhecem, com franqueza crescente, que os canais de negociação com Maduro continuam obstruídos. Começaram a demonstrar também, nos bastidores, uma descrença cada vez maior com a capacidade de liderança do opositor Juan Guaidó.

Um integrante do primeiro escalão do governo Bolsonaro que estava na comitiva brasileira em Nova York tratava o presidente autoproclamado da Venezuela como um caso quase perdido. Afirmou, sob reserva, que agora torcia para que as tensões internas não voltassem a subir, provocando uma guerra civil.

O Brasil ainda tenta encontrar uma saída, mas o comportamento de Bolsonaro mostra que, por ora, seu governo está bem contente em tirar proveito político da crise. O presidente falou da Venezuela na ONU e evocou o fantasma do socialismo, mas seu chanceler faltou a uma reunião do Grupo de Lima. Ernesto Araújo preferiu assistir a um discurso de Trump sobre religião.

Da FSP