Nenhuma criança merece ser assassinada aos oito anos

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Leia o texto de Luís Carlos Valois, juiz, diretor Ibccrim e membro AJD.

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Eu sou juiz de direito, mas nasci em uma família de classe média, meu pai era funcionário do Banco do Brasil, não morávamos em uma favela e, em razão das minhas condições de vida, principalmente em razão delas, nunca fui considerado negro, apesar de meu avô paterno ter nascido em uma senzala no Maranhão.

Eu vi uma declaração atribuída ao avô da menina Ágatha, de que ela era estudiosa, fazia balé, falava inglês e não saía de casa, aí eu fiquei pensando: pô, eu não era estudioso, dei tanto trabalho para minha avó, minha professora particular de matemática e português; comportado, nem pensar, matava aula, fugia dos cursos de inglês e só fui entender um pouco dese idioma adulto; viver em casa também não bate, pulava o muro do colégio, corria para a casa que explorava o que chamavam de jogos eletrônicos na época, pichei, briguei, bebi, fumei, tudo antes dos 15 anos, mas aí veio o pré-vestibular, a faculdade, etc, minha família me apoiou, estudei para o concurso e passei.

Meritocracia, minha gente… Ágatha está morta e ela estava muito mais preparada nos oito aninhos dela para ser juíza do que eu, mas onde eu morava não tinha polícia dando tiros por aí, não não tinha… vou carregar no peito, com vergonha, essa meritocracia de merda tão alardeada, quando terminar o meu pós-doutorado na Alemanha.

Sim aquele moleque está na Alemanha fazendo pós-doutorado, ou seja, não precisa ser estudioso, não precisa falar inglês, não precisa viver em casa, para não merecer ser assassinado aos oito anos.

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