BERTRAND GUAY / AFP

Alemanha diz NÃO a pedido de Salles

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O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, deixou a Alemanha nesta quarta-feira, 2, sem completar sua missão: reconquistar a verba de 155 milhões de reais para projetos de conservação florestal no Brasil. Da conversa com Svenja Schulze, a ministra alemã do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear, saiu sem fotos, sem declaração e de mãos abanando.

Em agosto, em meio à crise das queimadas, o fundo foi congelado sob o argumento de Schulze de que a política do governo de Jair Bolsonaro em relação à Amazônia “deixa dúvidas se ainda persegue uma redução consequente das taxas de desmatamento”. Em resposta, o presidente brasileiro sugeriu que a chanceler Angela Merkel “pegasse essa grana” para “reflorestar a Alemanha”. Afirmou ainda que o Brasil não precisava do dinheiro.

Nem dois meses depois, o governo brasileiro voltou atrás. Em entrevista publicada pelo jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), Salles disse que o Brasil está interessado no financiamento alemão e que a fala do presidente foi uma reação “a uma manifestação da Europa”. “Não vamos misturar política com questões técnicas”, afirmou.

Mas reaver os 155 milhões de reais não será tão fácil. Segundo afirmou um porta-voz do Ministério do Meio Ambiente alemão à agência Deutsche Welle, a pasta não vai reconsiderar a suspensão da bolada até que haja “uma impressão bem fundamentada de que o dinheiro será bem investido”.

Para não perder a viagem, Salles também encontrou-se com o ministro Gerd Müller, de Cooperação e Desenvolvimento, a fim de discutir o também ameaçado futuro do Fundo Amazônia, o programa bilionário de proteção à floresta que conta com recursos da Noruega e da Alemanha.

Apesar de os países ainda não terem suspendido o financiamento, expressam insatisfação com as mudanças de Salles no programa – como a extinção de dois comitês, sem qualquer acordo. Além disso, a Noruega já cancelou em agosto um novo repasse de 133 milhões de reais ao fundo.

Salles quer apresentar-se como um agente conciliador, amenizando as declarações do presidente brasileiro. Mas sua postura não enganou ninguém: em todos os três dias que passou no país houve protestos contra sua visita. O ministro ainda vai ter que trabalhar muito para seduzir o governo e o povo alemão e reaver a verba necessária para a proteção ambiental.

De VEJA