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Bispo faz apelo pela Amazônia antes de Sínodo

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Em uma prévia de como o clero vai se posicionar durante o Sínodo da Amazônia, o bispo do Marajó (PA), d. Evaristo Spengler, integrante da comitiva brasileira que viaja ao Vaticano na próxima semana para a assembleia especial com o papa Francisco, manifestou nesta terça-feira, dia 1º, um pedido de rechaço à mineração e a grandes obras na região, o que vai contra planos do governo Jair Bolsonaro. O bispo cobrou, durante audiência na Câmara dos Deputados, a “suspensão imediata da implementação de megaprojetos que agridem o bioma da Amazônia”.

“Queremos pedir um não a projeto de mineração em territórios indígenas, não ao garimpo legal e ilegal na Amazônia, não à regularização de novos garimpos. Não às rodovias, ferrovias e hidrelétricas que destroem o meio ambiente. Nenhum grande projeto pode ser implantando sem a consulta prévia, livre e informada”.

Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro, que já admitiu monitorar a preparação do sínodo por suspeita de ameaças à soberania brasileira,  conversou com um grupo de garimpeiros em frente ao Palácio do Planalto e criticou o interesse estrangeiro na floresta. “O interesse na Amazônia não é no índio e nem na porra da árvore, é no minério”, afirmou Bolsonaro. O presidente cogitou mobilizar as Forças Armadas para assegurar a possibilidade de exploração mineral na região de Serra Pelada, sul do Pará. Além disso, o governo Bolsonaro prepara na Secretaria de Assuntos Estratégicos o programa Barão do Rio Branco, que inclui a construção da Ponte de Óbidos, de uma hidrelétrica no Rio Trombetas e a expansão da BR-163.

A Igreja nega ser a favor da internacionalização da Amazônia. O bispo afirmou que a Igreja conhece bem a região porque “mergulhou na Amazônia” e que os missionários “chegam onde o Estado não chega”. Spengler voltou a dizer que as lideranças católicas que defendem direitos humanos e da terra são “criminalizadas e tratadas como inimigos da pátria” – uma referência a críticas feitas por integrantes do governo federal ao sínodo e os documentos preparatórios. “Há uma inversão total de valores”, reclamou Spengler.

O representante da Igreja anunciou que a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam-Brasil) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) vão lançar logo após o Sínodo uma campanha por mais proteção aos defensores. O clérigo solicitou que a Câmara “se empenhe e reforce o programa de proteção a defensoras e defensores de direitos humanos, socioambientais e indígenas, hoje ameaçados de morte por sua luta”.

“Esses defensores de direitos confrontam com grupos econômicos poderosos que violam normas do direito nacional e internacional. Para garantir seus objetivos, esses não têm escrúpulo em eliminar vidas quando cruzam seus interesses”, denunciou o bispo. “É imprescindível para manter a floresta em pé e a vida dos povos preservada que suas lideranças e comunidades ameaçadas estejam efetivamente protegidas de todo tipo de violência e ameaça que hoje estão sofrendo.”

A Igreja também pediu a criação de políticas públicas de financiamento de iniciativas econômicas que valorizem o projeto socioambiental em detrimento de “projetos de exploração predatória”.

“Há necessidade de criar linhas de financiamento público para que as comunidades tradicionais e os povos indígenas possam desenvolver seus meios de vida garantindo a floresta em pé. Até hoje, só acontece financiamento público para projetos predatórios e pessoas que não são da Amazônia. Nessa perspectiva, também é muito importante que se invista em políticas públicas para valorização dos produtos que mantenham a floresta em pé e que possam ter efetivamente a preservação da própria identidade, até com patente dos produtos da Amazônia. Se não os japoneses vão patenteá-los.”

De ESTADÃO