Bolsonaro nega ameaça à Globo

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Foto: AFP

Em meio a uma série de ataques à TV Globo, que publicou na terça-feira (29/10) uma reportagem mostrando que o nome do presidente Jair Bolsonaro foi citado por uma testemunha ao longo da investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco, o líder brasileiro disse nessa quarta-feira que nunca ameaçou qualquer orgão de imprensa.

Em conversa com jornalistas, ele foi questionado pela BBC News Brasil se não teme comparações com Hugo Chavéz, que em 2007 não renovou a concessão da RCTV, emissora de maior audiência no país, após discordar da cobertura do canal sobre seu governo e acusá-la de ser “golpista”.

“Ô, ô, ô, aqui não tem ditadura, aqui não tem ditadura”, disse o presidente brasileiro, exaltado, a jornalistas em Riad, na Arábia Saudita.

“Qualquer concessão tem que cumprir a lei, nada mais além disso. Nunca, em nenhum momento, partiu de mim nenhuma ameaça a qualquer órgão de imprensa no Brasil.”

O discurso contrasta com as falas do presidente horas antes, durante uma transmissão ao vivo pelo Facebook, publicada logo após a transmissão da reportagem sobre o caso Marielle no Jornal Nacional.

“Teremos uma conversa em 2022”, disse o presidente se referindo ao prazo de renovação da concessão da TV Globo. “O processo de renovação da concessão não vai ter perseguição, mas tem que estar enxuto, tem que estar legal. Não vai ter jeitinho pra vocês, nem para ninguém. É essa a preocupação de vocês? Continuem fazendo essa patifaria contra o presidente Bolsonaro e sua família. Continua, TV Globo!”, diz o presidente gritando.

Entenda a denúncia
Segundo a reportagem do JN, um porteiro do condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, disse em depoimento à Polícia Civil que, no dia do assassinato, um dos suspeitos se dirigiu até o conjunto de casas onde vive o presidente, então deputado federal, horas antes do crime.

Ao porteiro, o ex-policial-militar Élcio Vieira de Queiroz teria dito que iria à casa de número 58 ? que pertence ao presidente.

Ao recebê-lo na guarita, o porteiro teria ligado para a casa 58 para confirmar se o visitante poderia entrar, e alguém na residência autorizou a entrada do veículo, um Renault Logan.

Em dois depoimentos, o porteiro disse ter reconhecido a voz de quem atendeu como sendo a do “Seu Jair”, segundo o Jornal Nacional. Uma vez dentro do condomínio, ele não foi à casa de Bolsonaro, segundo a testemunha: ele dirigiu até o imóvel 66. É onde morava Ronnie Lessa, acusado de fazer os disparos que mataram Marielle e seu motorista, Anderson Gomes.

“O porteiro ou se equivocou, ou não leu o que assinou. Pode o delegado ter escrito o que bem entendeu e o porteiro, uma pessoa humilde, ter assinado embaixo”, disse mais cedo Bolsonaro a jornalistas na Arábia Saudita.

Fake news
O presidente continuou afirmando que é contra a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que apura fake news, criada para discutir crimes de internet na Câmara e no Senado.

Iniciada em 4 de setembro com a participação de 32 deputados e senadores titulares e 32 suplentes, a comissão apura principalmente “ataques cibernéticos que atentam contra a democracia e o debate público e a utilização de perfis falsos para influenciar os resultados das eleições 2018”.

“Sou contra os propósitos que se apresentam no momento no tocante à CPMI das fake news. Alguns querem no Brasil uma comissão parlamentar dessa para censurar as mídias sociais”, disse o presidente.

Bolsonaro disse que se considera o político mais atacado por notícias falsas no país.

“Eu sou um parlamentar, uma pessoa que sempre foi a mais atacada com fake news ao longo de toda a sua vida. Mesmo assim, não prego qualquer regulamentação às mídias sociais.”

Uol