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Fake News: NÃO é óleo e NÃO é no Brasil

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São enganosas as publicações nas redes sociais que usam um vídeo de um navio próximo a uma praia despejando uma substância escura. As postagens afirmam que se trata de um navio venezuelano que estaria despejando petróleo na costa do nordeste brasileiro.

O vídeo, na verdade, foi gravado em 30 de abril e mostra um navio realizando serviço de dragagem na praia de Matosinhos em Portugal.

O vídeo mostra uma draga, embarcação específica para retirar resíduos, areia e sedimentos do fundo de vias navegáveis e nas proximidades de portos. Os resíduos são depositados na beira da praia, facilitando a navegação e criando assim um “paredão” de areia.

As imagens foram gravadas por Humberto Silva, liderança do movimento “Diz Não Ao Paredão”, e publicado na página do grupo no Instagram. Por email, Silva confirmou a autoria ao Comprova.

Na postagem original, a legenda era: “Cenário da Praia de Matosinhos hoje, durante as dragagens de manutenção do @portodeleixoes”. Após o contato do Comprova, foi adicionada a informação de que o vídeo não foi feito no Brasil.

Por email, Humberto Silva enfatizou que o vídeo não se trata de despejo de petróleo. A organização “Diz Não ao Paredão” é contrária a uma obra para ampliação, em 300 metros, do quebra-mar do Porto de Leixões. O grupo alega que o projeto pode prejudicar atividades como o surfe e também a preservação ambiental da região.

Uma publicação no perfil “Porto de Leixões” no Facebook, da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL), também confirma a realização de operações de dragagem na data de 30 de abril.

O Comprova verificou postagens nas páginas “Capitão Bolsonaro” e “Moro Presidente 2026” no Facebook.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Givaldo Rodrigues, pescador, mostra óleo concentrado perto das pedras na praia de Sítio do Conde (BA). Raul Spinassé/Folhapress/

Manchas de óleo começaram a aparecer em praias do Nordeste no início de setembro. Até este domingo (13), são ao menos 166 locais de 72 municípios em nove estados atingidos pelas manchas de óleo.

Ainda não se sabe exatamente qual a origem do petróleo. A análise do óleo, realizada pela Petrobras, Marinha e universidades do Nordeste, indica que o material é de origem venezuelana, o que, na prática, não quer dizer que a Venezuela tenha ligação direta com o vazamento. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse, nesta quinta (10), ter ‘quase certeza’ que derramamento de óleo foi criminoso.

O Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também corroborou a versão da estatal. “Esse petróleo que está vindo muito provavelmente é da Venezuela, como disse o estudo do Petrobras. É um petróleo que vem de um navio estrangeiro, ao que tudo indica, navegando perto da costa brasileira, com derramamento acidental ou não.”

Um estudo realizado pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (UFBA) também aponta que o petróleo que atinge o litoral do Nordeste é similar aos óleos de origem venezuelana.

“O IGEO/UFBA por iniciativa própria e independente, coletou e analisou material oleoso de praias de Sergipe e Bahia e constatou que ele tem características químicas (biomarcadores) similares aos óleos produzidos pela Venezuela. Nossa capacidade analítica permite a identificação da bacia petrolífera que esse óleo foi gerado.”

No dia 10, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, também falou sobre o assunto. “Não é o Brasil, o Brasil não tem aquele tipo de óleo. Num levantamento preliminar estamos levantando as possíveis navios e as possíveis bandeiras que, pelo período, podem ter sido responsáveis pelo vazamento.”

Para esta verificação, o Comprova inicialmente realizou busca reversa de uma imagem congelada do vídeo, mas não conseguiu identificar resultados. Em seguida, a equipe pesquisou os termos “navio venezuelano” no Facebook. Ao localizar o vídeo, encontrou uma marca d’água que sinalizava que o vídeo havia sido compartilhado do perfil no Instagram do movimento “Diz Não Ao Paredão”.

Com essas informações, o Comprova visitou a página “Diz Não Ao Paredão” e confirmou a origem do vídeo, postado em 30 de abril. O Comprova não conseguiu encontrar nenhum registro anterior dessas imagens na internet ou em redes sociais.

No Instagram, foram pesquisadas as imagens que haviam sido publicadas com a localização “Praia de Matosinhos”. Há uma postagem do dia 30 de abril do usuário @tiagofazendeiro. Por mensagem na rede social, ele confirmou ter sido o autor da foto e disse ser morador da região e apoiador do movimento.

Além disso, buscamos informações nos sites da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo, que gerencia o Porto de Leixões, em Matosinhos, da Assembleia Municipal do Porto e de veículos de imprensa brasileiros e portugueses.

Também entramos em contato por email com a organização “Diz Não Ao Paredão”, que faz campanhas online e manifestações contra a construção do paredão no porto.

Participaram desta apuração O Estado de S. Paulo, SBT, Jornal do Commercio e TV Band.

De FSP