Folha não menciona Lula em reportagem sobre o Nobel
Foto: Miguel Schincariol/AFP
A adolescente que inspirou protestos em defesa do meio ambiente, o líder indígena símbolo da proteção da Amazônia, o premiê que costurou um acordo de paz entre Etiópia e Eritreia e a primeira-ministra que se nega a falar o nome do atirador que matou 51 pessoas em seu país são alguns dos cotados a receber o Nobel da Paz deste ano.
O vencedor do prêmio mais respeitado do mundo, que reconhece uma iniciativa de promoção da paz, será anunciado nesta sexta (11), em Oslo.
Ao lado da sueca Greta Thunberg, do etíope Abiy Ahmed e da neozelandesa Jacinda Ardern, quem também está em alta nas bolsas de apostas é o líder indígena brasileiro Raoni Metuktire.
Ele esteve na cúpula do G7, em agosto, para debater a preservação da Amazônia com líderes mundiais, o que gerou críticas de Jair Bolsonaro.
Durante o discurso na Assembleia Geral da ONU, o presidente brasileiro disse que Raoni é usado “como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia”.
Se o líder indígena ganhar, ele pode ou não ser o primeiro brasileiro agraciado —depende do ponto de vista. Em 1960, Peter Brian Medawar, nascido em Petrópolis (RJ), levou o Nobel de Medicina.
À época da honraria, no entanto, ele não tinha mais cidadania brasileira, pois teve um problema com o serviço militar obrigatório. Medawar recebeu o Nobel, então, pela Inglaterra, terra de sua mãe, graças ao desenvolvimento de um soro capaz de reduzir drasticamente as chances de rejeição em transplantes de órgãos.
Para escolher o vencedor entre os 301 finalistas deste ano, os cinco jurados do comitê norueguês se encontraram regularmente entre fevereiro e setembro na sede do Nobel da Paz, na capital da Noruega.
Dos concorrentes, 223 são indivíduos e 78 são organizações. Estão bem cotados o Repórteres Sem Fronteiras, que lutam pela liberdade de imprensa e proteção de jornalistas, e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
Trata-se, porém, apenas de apostas, já que não há uma lista pública para consulta. Pelas regras, os nominados só podem ser divulgados 50 anos após o anúncio do vencedor.
O Nobel foi concedido pela primeira vez em 1901. Inicialmente, eram cinco categorias: paz, literatura, química, física e medicina. Uma sexta —economia— foi adicionada décadas mais tarde, em 1969.
Até a metade do século 20, os vencedores da categoria paz eram “políticos ativos que procuravam promover a paz internacional, a estabilidade e a justiça por meio da diplomacia e de acordos internacionais”, explica a premiação.
Desde o fim da Segunda Guerra, o prêmio passou a reconhecer esforços nas áreas de desarmamento, democracia e direitos humanos. Na virada para o século 21, o foco mudou para iniciativas que tentem limitar mudanças climáticas causadas pelo homem.
Entregue apenas a autores vivos, o prêmio nasceu para cumprir o testamento do químico e inventor Alfred Nobel. O curioso é que, em vida, o sueco ficou conhecido por ter inventado um artefato utilizado em guerras: a dinamite.
Seu pai era dono de uma fábrica de explosivos em São Petersburgo, e foi lá que um jovem Nobel, com pouco mais de 15 anos, descobriu e se interessou pela nitroglicerina, elemento essencial do explosivo.
A descoberta não tinha o objetivo de ser usada em campos de batalha. A ideia inicial de Nobel era que o artefato lhe ajudasse em seu trabalho: como engenheiro, construía pontes e prédios em Estocolmo, e a dinamite poderia implodir pedras para tal fim.
Ele patenteou a invenção nos EUA em 1867, quando tinha 34 anos. Nas décadas seguintes, fez disso um negócio lucrativo, e no final da vida era dono de 355 patentes, boa parte delas relativas a novas descobertas feitas a partir da dinamite.
Pouco antes de morrer de hemorragia cerebral, aos 63, deixou em seu testamento que 94% de seus ativos deveriam ser destinados à criação de um fundo para premiar iniciativas que ajudassem a humanidade.
O ganhador leva para casa US$ 930 mil (R$ 3,79 milhões) mais uma medalha de ouro. A cerimônia de entrega acontece todo dia 10 de dezembro, em Oslo —a data marca o aniversário de falecimento do criador.
VEJA LISTA COM OS ÚLTIMOS DEZ VENCEDORES DO NOBEL DA PAZ
2018: O congolês Denis Mukwege e a iraquiana Nadia Murad, que denunciaram a violência em relação a vítimas de violência sexual como arma de guerra
2017: Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares (Ican), por chamar a atenção para o risco de armas nucleares
2016: Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia que negociou o acordo de paz com as Farc
2015: Quarteto para o Diálogo Nacional da Tunísia, pela contribuição decisiva na construção de uma sociedade plural no país
2014: A paquistanesa Malala Yousafzai e o indiano Kailash Satyarthi, premiados pela defesa dos direitos das crianças e à educação
2013: Organização para a Proibição de Armas Químicas, sediada na Holanda, foi premiada por sua defesa da proibição de armas químicas
2012: A União Europeia, por mais de seis décadas promovendo os direitos humanos e a paz na Europa
2011: Ellen Johnson Sirleaf, Leymah Gbowee e Tawakkol Karman, premiadas pela luta não violenta pela seguranças das mulheres e por seu direito de participação plena em processos de paz
2010: Liu Xiaobo, ativista chinês premiado por sua luta longa e não violenta pelos direitos humanos em seu país
2009: Barack Obama, ex-presidente dos EUA, reconhecido por reforçar a diplomacia internacional e a cooperação entre as pessoas