Guerra do PSL tem homofobia e gordofobia

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Foto: Reprodução

Brigando entre si, eles não são nem melhores nem mais educados do que atacando seus adversários. Ao assistir à guerra interna no PSL, é evidente que temos de nos perguntar: como foi possível chegarmos a isso? E, no entanto, chegamos. E é bem provável que não seja ainda o fundo do poço. Afinal, se há coisa que não se conhece por ali é noção de limite. Não tinha como dar certo o que… não tinha como dar certo!

Nesta segunda, uma das personagens da crise do PSL, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), concede entrevista ao programa “Roda Viva”. Há em certos setores da política paulista um esforço para fazer dela uma espécie de “pensadora da crise” — ao menos no universo do peesselismo. Isso dá uma medida da miséria a que chegou a vida pública brasileira. E vai piorar um pouco antes de melhorar.

Poderíamos chamar tudo de surpreendente, não fosse o chefe da coisa toda ter estreado na Presidência espalhando um videozinho pornô sob o pretexto de moralizar os costumes; ordenado que se comemorasse o golpe de 1964; dado reiterados vivas à tortura; silenciado sobre o assassinato de crianças sob o pretexto de combater o crime no Rio; orientado políticas públicas que discriminam minorias, especialmente na cultura; pronunciado na ONU um dos discursos mais ridículos da história da entidade, em que o reacionarismo e as teorias conspiratórias se juntaram para ilustrar a insanidade destes tempos; mantido, até agora, no Ministério da Justiça uma figura nefasta que, a um só tempo, desmoraliza a Polícia Federal, emprestando-lhe ares de polícia política, e promove um pacote anticrime que, fosse aprovado na íntegra, daria às forças de segurança licença para matar pobres de tão pretos e pretos de tão pobres…

Não fosse isso tudo, poderíamos nos dizer surpresos. Mas, convenham, o que se tem aí é apenas o triunfo da lógica. E que se note: esse circo de horrores que acabo de listar nunca dividiu o PSL. Todos eles estavam irmanados nessas causas e outras ainda mais exóticas ou deletérias. O que dividiu o partido, para surpresa de ninguém, foi mesmo o velho clichê: o vil metal. A família Bolsonaro se considera a verdadeira proprietária dos votos obtidos pelos políticos do PSL. Sendo assim, quer também ter controle do caixa de uma máquina que, por um bom tempo, será milionária.

E as divergências afloraram, e nem poderia ser diferente, em “peesselês”, que é precisamente o idioma que eles falaram durante a campanha. Se é a língua que usam contra os adversários externos, não poderia ser outra a empregada contra os internos.

Assim, se Eduardo e Carlos Bolsonaro têm algo a dizer contra Joice, por que não apelar ao preconceito, à gordofobia? A deputada passou a ter a sua imagem associada à de uma porca, precisamente à personagem Peppa Pig, levando, inclusive, o “Jornal Nacional” a ter de explicar quem é a personagem.

Na zoologia a que apelaram os filhos de Bolsonaro contra Joice, também foram evocados o rato — no caso, fêmea, segundo a classificação de Damares Alves porque com orelhas cor de rosa —, a serpente, a galinha e o polvo.

A deputada contra-atacou na resposta a Carlos, apelando, por sua vez, à homofobia. Publicou a imagem de três veados, sem ignorar também os ratos, que vieram, no caso, na forma de um enigma: dois deles são cinza. Um é branco. Deve querer dizer alguma coisa.

É a língua que eles falam. Um certo Nando Moura, um dos bolsonaristas mais barulhentos das redes, abriu uma espécie de dissidência à direita. Não se conforma que seu líder não tenha aderido à CPI da Lava-Toga e vê, no que pode haver de procedimento institucional no governo, uma concessão à tal velha política. Passou a criticar a “turma do acordão”. Em uma de suas “lives”, o próprio Bolsonaro se referiu a ele como aquele que “já foi cabeludo e hoje é careca”. Tudo remete à caricatura, à briga de boteco, à baixaria, ao preconceito, à desqualificação da divergência, pouco importando a qualidade da restrição que se faça.

Dizer o quê, meus caros? Não dá para saber se é mais feio quando eles se amam ou quando eles se odeiam. Uma síntese do PSL poderia ser esta: é aquele partido em que somos levados a lamentar a gordofobia contra Joice e a homofobia contra Carlos Bolsonaro.

Eles todos se merecem.

Que os brasileiros pensem se não merecem coisa melhor.

Reinaldo Azevedo