Marcos Corrêa/PR /Antônio Cruz/Agência Brasil

Janot planejava derrubar Temer e barrar Dodge

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O Intercept Brasil revelou que, às 20h11 do dia 17 de maio, o procurador Deltan Dallagnol disse o seguinte a uma colega:

“Janot me disse que não sabe se Raquel é nomeada porque não sabe se o presidente vai cair”.

Poucas horas antes da conversa de Janot com Dallagnol havia explodido a bomba do grampo de Temer com o empresário Joesley Batista, ocorrida em março. Janot conhecia o áudio e, desde o início de maio, sabia também que o repórter Lauro Jardim recebera uma narrativa da conversa gravada.

A frase desconjuntada de Dallagnol revela que naquela noite Janot associava uma possível queda de Michel Temer ao desejo de bloquear a escolha de Raquel Dodge para o seu lugar. O então procurador-geral da República ficou na situação do japonês de Hiroshima que, em agosto de 1945, acordou, foi ao banheiro, deu a descarga e BUUUM explodiu a bomba atômica. O japonês da piada enganou-se, mas Janot achou que detonara o governo e Temer cairia. Nas 24 horas seguintes, pareceu possível que o presidente renunciasse.

A conversa de Janot com Dallagnol também sugere que o procurador-geral dificilmente iria ao Supremo no dia 11 de maio decidido a fuzilar o ministro Gilmar Mendes, matando-se em seguida. Noves fora que ele não estava em Brasília, mas em Belo Horizonte, ele tinha outro projeto: soltar o grampo de Temer, derrubá-lo, impedir a escolha de Raquel Dodge e, quem sabe, ser reconduzido para a procuradoria-geral.

A TROMPA DA NONA

O juiz Marcus Vinicius Reis Bastos, da 12ª Vara Federal Criminal de Brasília, absolveu o ex-presidente Michel Temer no processo em que era acusado de ter obstruído a ação da Justiça no diálogo que manteve com o empresário Joesley Batista.

Os critérios jurídicos que levaram o magistrado a essa decisão são de sua alçada. Contudo, o doutor desqualificou o conteúdo da fita porque o laudo da perícia registra a existência de 76 trechos ininteligíveis e outros 76 momentos de “descontinuidade”.

Os 38 minutos do grampo de Joesley Batista quebraram a perna do governo de Temer. Ele tem trechos ininteligíveis e descontinuidades e enquanto não foi conhecida a sua íntegra, ganhou interpretações precipitadas. Apesar de tudo isso, é uma peça sólida.

Desqualificá-lo pelos detalhes seria o mesmo que negar o desempenho de uma orquestra que tocou a Nona Sinfonia de Beethoven porque a quarta trompa desafinou. A trompa de fato escrocou, mas aquilo que a orquestra tocou era a Nona.

FSP