Laranjal gera crise no PSL

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Foto: Pedro Ladeira – Folhapress

 

Desde fevereiro, o partido de Jair Bolsonaro (PSL) enfrenta denúncias envolvendo candidaturas “laranjas” na eleição do ano passado. Os casos já levaram à queda de um ministro, a acusações contra outro e à perda de força do presidente da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PE). Os efeitos políticos das denúncias já puderam começar a ser vistos na terça-feira (8), quando Bolsonaro pediu para um apoiador esquecer o PSL.

Após a repercussão do comentário, uma ala da legenda também organizou um manifesto de apoio a Bivar.

Essa já é uma ação defendida pela deputada federal Alê Silva (PSL-MG), que está de malas prontas para deixar o partido. “Eu também estou dando o mesmo conselho para meus seguidores, meus eleitores: esqueçam o PSL. E eu também estou louca para esquecer”, diz. Hoje, estuda medidas jurídicas para deixar o partido sem perder seu cargo. Silva denunciou o esquema de candidaturas “laranjas” no PSL.

No começo do ano, reportagens do jornal Folha de S.Paulo apontaram que o presidente licenciado do PSL em Minas Gerais e ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, tem ligação com um esquema de candidaturas de mulheres. Elas receberam verba pública para campanha, mas não haveria comprovação de que tenham feito propaganda para a disputa eleitoral. Empresas de funcionários do gabinete do então deputado federal teriam recebido dinheiro vindo do esquema em 2018.

Álvaro Antônio nega ter participação no esquema. O ministro, que já foi denunciado pelo Ministério Público, foi mantido no cargo por Bolsonaro.

Na mesma época, a Folha também revelou que haveria um esquema semelhante em Pernambuco, onde o PSL tem influência de Bivar, presidente nacional do partido. Uma candidata “laranja” teria recebido R$ 400 mil de dinheiro público para a eleição de 2018. Segundo a Folha, a quantia foi enviada pela direção nacional do PSL, que, na época, estava sob responsabilidade de Gustavo Bebianno, secretário-geral da Presidência no início do governo Bolsonaro.

Bebianno saiu do cargo pouco após o escândalo surgir, mas mais por polêmicas com o filho do presidente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). Bivar continua no comando do partido.

“É desgastante para todos nós”, disse ao UOL o líder do partido do Senado, Major Olímpio (SP), sobre as denúncias. “Isso assusta a população. Mas vamos acreditar na Justiça, na investigação plena, e que se apure tudo.”

Sobre o caso do ministro do Turismo, ele disse que “o ministro Marcelo afirma, com muita convicção, inocência”. O senador, porém, defende que Álvaro Antônio se afaste do cargo para voltar à Câmara e usar a tribuna para “rebater e fazer a defesa pública mais veemente”.

Já Silva diz que ficar no PSL é insustentável. “Eu não tenho clima para continuar nesse partido. A alta cúpula dele está envolvida em corrupção. A minha bandeira de vida pública sempre foi contra corrupção.”

Cientistas políticos ouvidos pelo UOL avaliam que as denúncias, que ficaram conhecidas como “laranjal do PSL”, podem ter efeito negativo no partido e também na popularidade do presidente.

“É um efeito que ainda não pode ser completamente mensurado, porque ainda está na etapa de investigação. A gente ainda sabe o tamanho do estrago”, pontua Maurício Fronzaglia, professor de sociologia e ciência política na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e no Mackenzie.

Tanto Fronzaglia quanto Glauco Peres, professor de ciência política da USP (Universidade de São Paulo), apontam que o PSL é um partido pequeno, que ganhou projeção com a vitória de Bolsonaro e o resultado obtido na eleição de 2018. E essa inexperiência do partido surge ao lidar com as denúncias. “O partido nunca passou por um teste desses, há uma inexistência de forças para cobrar”, diz Peres, que ressalta que o PSL tem, hoje, uma “liderança muito personalista”, que surge na figura do presidente da República.

A liderança pode estar de saída do partido. Na terça, um apoiador gravou um vídeo com Bolsonaro em que diz: “Eu, Bolsonaro e Bivar juntos por um novo Recife”. “Cara, não divulga isso, não. O Bivar está queimado para caramba lá. Vai queimar o meu filme também. Esquece esse cara, esquece o partido”, comentou Bolsonaro.

A deputada já projeta o que será do partido caso Bolsonaro realmente o deixe. “O PSL vai voltar a ser o que era: um partido nanico”, disse Silva. “Vai ser uma questão de tempo.”

A deputada recorda que políticos acabaram se reunindo dentro de um “grande grupo”, mas que, para a eleição do ano passado, eles teriam ido para qualquer partido que abrigasse Bolsonaro.

O PSL é um partido que não cresceu. Ele inchou
Alê Silva, deputada federal (PSL-MG)

Olímpio e Silva afirmam que, em 2018, os eleitores votaram em Bolsonaro, não no partido. “Jair Bolsonaro se estivesse no PSL era [eleito] presidente, no PX era presidente”, comentou o senador.

“E, agora, o que a gente tem visto é que o partido dele não seguiu essa linha”, disse a deputada sobre os principais pontos da campanha do atual presidente, como o combate à corrupção. Para ela, quem é “bolsonarista raiz” se sente contrariado com as atitudes do partido.

Os dois parlamentares também dizem saber que “nenhum partido é perfeito”. “Irregularidade está sujeito qualquer partido a ter. Onde tem o ser humano, ela pode acontecer. Mas todo mundo sabe o tamanho da responsabilidade que tem”, comentou o senador, que não pensa em deixar o partido. “Se estamos partindo do pressuposto que tanto o Marcelo quanto em Pernambuco [Bivar] estão dizendo que não aconteceu irregularidade, como é que vamos dizer para que não aconteçam novas irregularidades? Seria um contrassenso”, finaliza Olímpio.

Uol