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‘Não sou subserviente à molecagem de ninguém’, diz Major

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Foi entre uma agenda com o presidente Jair Bolsonaro e os preparativos para uma viagem ao Santuário de Aparecida que Major Olímpio (PSL-SP) recebeu o UOL em seu escritório na zona norte de São Paulo. O senador tratou de sair em defesa tanto do presidente quanto do mandatário do PSL, Luciano Bivar, na confusão que tomou o partido nesta semana e que põe em risco a permanência de Bolsonaro na legenda. O alvo do Major foi Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o deputado federal com aspirações à Embaixada dos Estados Unidos.

Olímpio já vinha afirmando que o filho 03 do presidente participava de uma “conspiração” para conseguir “vantagens pessoais” no PSL, mas ao UOL ele deu nome aos bois: Eduardo estaria minando o partido no estado de São Paulo e agora tenta o mesmo nacionalmente porque quer tomar o controle total da legenda e, como ela, ficar com as verbas do fundo partidário e eleitoral, um valor que somado chega a R$ 268 milhões.

“Queriam era implodir o PSL, destituir o Bivar em projeto de poder particular, não do presidente, porque eu digo que o presidente foi vítima também”, afirmou ao UOL. Eduardo Bolsonaro buscaria “justamente a administração nacional do PSL”. “E aí você envolve tempo de televisão, fundo partidário e fundo de financiamento de campanha.”

O senador disse ainda que não será “subserviente à molecagem de ninguém” e que só votará em Eduardo para a embaixada por decisão do presidente. “O risco é dele [Bolsonaro]”, a mesma avaliação que faz sobre a permanência de Marcelo Álvaro Antônio no Ministério do Turismo, mesmo sob suspeita de envolvimento no esquema de laranjas do PSL.

O parlamentar também não poupou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que, diz ele, sofre de “complexo de escorpião”. O senador ventilou a candidatura do apresentador José Luiz Datena para governador paulista e até elogiou a oposição ao dizer que “ela não está querendo tocar fogo no Brasil” e que por isso não conta com um impeachment de Bolsonaro.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

UOL – O senhor pretende se candidatar a governador em 2022?

Major Olímpio – Se tiver saúde, condição política, sim. Sempre foi o meu desejo disputar o governo de São Paulo. Em 2018, só fizeram mais votos que eu o presidente Bolsonaro, o Haddad, o Ciro Gomes e o Doria no segundo turno das eleições. Então, eu demonstrei que tenho condição política. Vamos ver em 2022, porque ainda é muito precoce. Muita gente diz que tenho a possibilidade de disputar a Prefeitura de São Paulo, mas isso seria enganar a população. Hoje eu tenho que estar lá [em Brasília]. Sou o líder do partido no Senado.

O senhor já defendeu a candidatura da Joice Hasselmann para a Prefeitura de São Paulo, mas ela ameaça ir para o DEM para conseguir disputar. O senhor manteria o apoio a ela?

Eu vou apoiar o candidato do PSL. Ela é a candidatura mais viável dentro do partido. Tive todos os atritos do mundo com a Joice, e ela também comigo. Naquele momento foi antipatia à primeira vista. Mas ao longo do tempo chegamos a um ponto em comum. A Joice fez mais de 700 mil votos na cidade de São Paulo. Ela é a líder do governo no Congresso. Ela tem a confiança do presidente. É importante para o PSL e para Bolsonaro a conquista da eleição municipal de São Paulo.

Não dá para lançar um nome simbólico. Mas todo mundo sabe da minha amizade pessoal com o Datena, cheguei a convidá-lo para o PSL. Se ele tiver a intenção de disputar a prefeitura, é um candidato muito forte em qualquer legenda. É como o Jair Bolsonaro: uma figura popular, um comunicador. Mas eu sou um filiado do partido, não tenho esse poder de decisão.

O senhor vem mantendo conversas informais com o Datena sobre essa possibilidade?

Com o Datena, sempre. Grande amigo, de coração maravilhoso. Brincamos o tempo todo. É uma amizade que solidificou porque ele também é amigo do Jorge Kajuru, que se elegeu por Goiás. Essa possibilidade de ele entrar na vida política é muito por influência minha e do Kajuru. Ele diz: “Ah, se eu tivesse no Senado também, a gente ia estar quebrando o mundo nós três”, mas eu digo: “Se você estivesse lá, eu não estava”. Vai ser uma decisão muito pessoal. Eu acho que ele só vai definir nos limites de abril.

O assunto da semana é a crise no PSL. Não é muito cedo, dez meses de governo, para que o partido do presidente se desmanche?

O PSL e o presidente acabaram vítimas de uma conspiração. Algumas pessoas do partido, lamentavelmente o próprio Eduardo Bolsonaro, estimulados por uns advogados. Isso eclodiu com uma manifestação dura do presidente em relação ao partido e ao Bivar depois de uma reunião de parlamentares com o presidente, que apresentaram uma carta de intenção dizendo: “Olha, somos os arianos puros, os conservadores verdadeiros, os aliados mais fiéis do presidente”.

Uma conspiração mesmo porque alguns poucos foram chamados para isso. Não dá para compactuar com esse tipo de coisa. Queriam implodir o PSL, destituir o Bivar da Executiva Nacional em projeto de poder particular de alguns, não do presidente, porque ele foi vítima também. Muitas pessoas que o cercam levaram a ele informações sobre o PSL que não condizem com a verdade. Eu falo com muita tranquilidade porque sou muito mais próximo do Bolsonaro do que do Bivar, mas nós temos de ser justos. Nós não temos um segundo ícone no PSL. Temos uma liderança única de caráter nacional, que é o Bolsonaro.

O PSL ficou do tamanho que é, eu fui eleito, tantos outros por causa do Jair Bolsonaro. E o PSL foi o único partido que nos deu todas as garantias de que ele seria candidato. Sem ele e o PSL, nós não teríamos o presidente Bolsonaro. Sem Bolsonaro, nós não teríamos o PSL do tamanho que ficou. E o que foi feito foi essa conspiração por projetos de natureza pessoal.

Se Deus quiser, o Bolsonaro ficará no partido, mas houve uma fissura. O maior prejudicado é o presidente, o país e, lógico, o PSL.

Tem muita gente batendo palmas por essa fissura. Por isso que eu defendo que o partido seja rigoroso nesse momento, inclusive com apurações pelo Conselho de Ética do partido e Executiva Nacional.

Apurar essa conspiração que o senhor mencionou?

Sim, pessoas que mancharam a imagem do partido, a do presidente. Tem pessoas com mandato parlamentar que desconhece o estatuto do partido. Quer ir embora do partido? Vá, que Deus leve, guarde e esqueça onde. Mas o mandato vai ficar aqui no partido.

O senhor falou sobre um complô. Mas qual é o objetivo desse complô? O que busca o Eduardo Bolsonaro?

Justamente a administração nacional do PSL. E aí você envolve tempo de televisão, fundo partidário e fundo de financiamento de campanha. Ele também pode ter sido induzido por outras pessoas, e eu acredito que sim, mas o objetivo não é fortalecer o presidente. Coisa nenhuma! Você tem 52 deputados e vai arrebentar para ficar com 19? Eu vejo interesses mesquinhos, pessoais, disputa de poder, disputa pelo de tempo de televisão e recursos de fundos.

Quando o senhor, o Bolsonaro e muitos se filiaram ao PSL, a legenda foi chamada de partido de aluguel. Essa crise não reforça essa impressão?

Lógico. Muita gente que nunca disputou eleição vislumbrou a oportunidade. Você pode dizer que eu também fui oportunista, mas não, pera aí. Eu me coloquei para disputar uma vaga no Senado, num cenário em que eu era o sexto colocado, com sete segundos de televisão, sem aceitar um centavo de fundo partidário. Qualquer analista político falava em suicídio político. Então por que eu fui para o PSL? Porque eu estava com Bolsonaro. Não houve aluguel [do PSL], mas, naquele momento, a Executiva Nacional vislumbrou um cenário: “Temos um partido que tende à extinção por causa da cláusula de barreira, mas poderemos dar um salto de crescimento com Bolsonaro”. E foi o que aconteceu.

Mas essa crise de agora não se deve justamente à chegada de tanta gente sem identificação com a legenda?

Nunca todo mundo está unido em partido político. Vou dizer que todo mundo que se elegeu conhece o conteúdo do partido? Não. Agora que nós começamos a fazer os cursos de formação partidária. O pau quebra em todos os partidos, já estive em cinco. Os senadores do PT brincam comigo que a gente fazer oposição por conta.

Então vem essas infantilidades políticas dos mesmos que elegeram o presidente. “Olha, não deu certo essa implosão inicial do partido, então vamos para um plano A, B ou C, ou vamos pegar um partido pra fundir, coletar assinaturas para fazer o tal de Conservador [um partido político].” Olha a situação que colocaram um presidente com 57 milhões de votos e o Bivar, um cara que, para nós no PSL, é 100%. Conseguiram insuflar, “vamos fazer uma depuração da espécie aqui; vamos tomar o poder”.

Que tipo de depuração conservadora é essa?

Eu fui eleito senador e passei a presidência estadual do PSL ao Eduardo, que era vice. Mas o partido está sendo destruído no estado de São Paulo porque ninguém presta para o partido. Precisa ser um conservador ideal. Qualquer pessoa que não esteja naquele grupo de WhatsApp, aquele cara que não seja admirador do Olavo de Carvalho não presta, tiram o diretório dele.

É um negócio de maluco que não vai se consolidar como base política de nada porque só presta o interlocutor do cara. Já foram retirados mais de 100 diretórios do estado de São Paulo. Eu não aceito isso.

Aqui no Brasil ainda não é monarquia, não reconhece filho príncipe. É filiado como eu e, se tiver que ouvir, vai ouvir mesmo. Não tem conversa. Eu apoio o presidente

O senhor diz que o presidente foi levado a ter essa visão sobre o Bivar, mas talvez sua intenção não seja se afastar das suspeitas com os laranjas do PSL?

Quem está mantendo o ministro do Turismo é ele. Falo por mim, não pelo PSL: se eu estivesse no lugar do ministro, eu pediria para sair, assumiria meu mandato de deputado para usar a tribuna para me defender, defender o governo e para ter mais tempo para a minha defesa jurídica. Eu espero, sinceramente, que ele seja inocente como afirma. Agora, está sendo uma opção do presidente mantê-lo no governo. Ele quer se afastar do partido, mas continua com o ministro?

O presidente erra ao mantê-lo no cargo?

Eu não digo que ele erra. O Bolsonaro tem um coração maior que o peito. Então o ministro diz a ele: “Acredite que sou 100% inocente”, e ele diz: “Eu acredito que você é 100% inocente”. Até quando pode isso? Aí é um critério pessoal dele. Não vou me permitir criticar, mas o desgaste é dele. Agora, dizer que vai se afastar do partido em eventuais irregularidades, opa, irregularidades você aponta. Não vai matar a vaca para acabar com o carrapato. Você tira o carrapato. Por isso existe a Polícia Federal, o Ministério Público Eleitoral, Ministério Público Federal para todas as circunstâncias.

Se o presidente sair do PSL, o senhor fica ou sai também?

Eu vou ficar no PSL. Eu vou continuar apoiando e defendendo o presidente, mas vou ficar no PSL.

O senhor acha que o Bivar pede os mandatos de volta?

Pelo coração dele, acredito que não. Eu nunca vi um presidente do partido tão cordato quanto ele. Mas eu defendo apuração, sanções aos que feriram cláusulas partidárias.

No lugar do Bivar, o senhor pediria os mandatos?

Claro. Não tenha a menor dúvida. Na expulsão do Alexandre Frota, foi o Bivar que decidiu não pedir o mandato. Então não sei qual será a decisão, mas eu manifesto abertamente: na hora que você não pune quem está errado, você desconsidera aqueles que fazem as coisas corretamente. A imprensa do mundo todo questiona a implosão do partido do presidente. Na minha visão, não pode ficar de graça.

Mas não é responsabilidade do presidente o comportamento dos filhos?

Aí eu não vou entrar nesse juízo de valor porque é uma coisa pessoal da presidente, mas que isso acaba prejudicando o presidente em algumas circunstâncias… Foi como aconteceu com o Flávio e comigo. Nós perdemos uma senadora [a juíza Selma Arruda foi para o Podemos], eu ia sair também, depois fiquei na birra: estou certo, se tiver que sair, que caia fora ele. Ah, mas é o filho do presidente…

Eu quero que se dane que é o filho do presidente. Eles são tão filiados quanto eu. Tão senador quanto eu. Esses comportamentos principescos. Sou eleito senador com 9 milhões de votos e não posso perguntar por que estão trocando a direção em uma cidade?

Nós temos mais oito deputados federais que também não podem perguntar. “Olha, é o príncipe que quer.” Ah, dá licença.

Então eles são tratados como príncipes nos bastidores?

Eles confundiram as coisas. Quem tem a designação de 57 milhões de pessoas é o Jair Bolsonaro. Isso não transcende à família. O presidente não tem esses arroubos com ninguém. Ele é a cara da simplicidade.

Todo mundo que brigou com os filhos do presidente perdeu a queda de braço. O senhor não teme que aconteça o mesmo com o senhor?

Eu estou de cabelos brancos, 42 anos de vida pública. Eu não me sujeito a disputas infantis. Meu pai já me ensinava lá atrás: comporte-se como moleque que eu te bato na bunda. Eu não quero nem saber. É filiado, vou tratar como filiado.

O presidente tem de entender que são coisas diferentes: o posicionamento do Major Olímpio de defesa do governo e dele e o Major Olímpio que não suporta molecagem. É completamente diferente. Não estou preocupado em ganhar ou perder. Sou mais do que agradecido ao Jair Bolsonaro, eu devo o meu mandato a ele. Agora, não vou ser subserviente à molecagem de ninguém.

Se o Eduardo for de fato indicado à embaixada, o senhor vota nele?

Eu vou votar pela indicação do presidente, sabendo que é por conta e risco do presidente. Vamos fazer um cavalo de batalha porque é o filho dele. Eu vou votar no Eduardo, apesar de ser o filho do presidente.

E não é nepotismo?

A avaliação da lei diz que não se caracteriza nepotismo a nomeação de cargos de natureza política. Agora, eu não faria a indicação de um filho meu. Por isso eu repito: é por conta e risco do presidente.

O presidente Donald Trump tirou o apoio do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Bolsonaro não se precipitou ao se alinhar apenas aos Estados Unidos e confrontar a Europa?

O presidente pegou essa bandeira da direita sozinho quando era muito feio falar de direita. O sentimento dele foi ter um alinhamento com os EUA, Israel… Uma opção política dele. Ele não quer afrontar ninguém, mas manter a soberania brasileira sem ter vergonha de dizer “eu sou um cara de direita”. Hoje o maior parceiro comercial do Brasil não são os Estados Unidos. É a China, e ele está fomentando isso. Agora, politicamente, ele se sente mais confortável com um alinhamento aos Estados Unidos.

De olho em 2022, Doria e Witzel se afastam do presidente, que responde à altura. Não é ruim para o presidente prescindir do apoio de São Paulo e Rio?

São Paulo vai dar ao Doria o que deu ao Alckmin: 4% dos votos. Ninguém engana todo mundo o tempo todo. Em gestão, 90% é realização e 10% é publicidade. Ele é invertido: 10% de realização. Ele está fazendo uma propaganda de Robocop em São Paulo, mas os policiais do estado continuam com os piores salários brasileiros. Não acho ruim Doria e Witzel terem aspirações presidenciais, mas não significa que eles terão a maioria da população de São Paulo e Rio só porque são governadores.

Como o senhor enxerga a tentativa do Doria de se desvencilhar do “BolsoDoria”?

Na campanha, quando veio essa conversa mole de BolsoDoria, Bolsonaro brigou comigo porque eu disse que era oportunismo. Sem o BolsoDoria, o Doria teria perdido a eleição em São Paulo.

Eu disse a Bolsonaro: “Você não vai ter um voto a mais por causa do Doria. Ele só quer a sua marca agora. Mas o complexo de escorpião é duro. Na primeira oportunidade, ele começou a dar ferroada na nuca [na parábola, o escorpião pica o sapo que o leva durante a travessia de um rio e ambos morrem].

Quem é o nome da esquerda que pode encarar Bolsonaro em 2022?

Hoje eu ainda vejo o Fernando Haddad (PT). O Ciro Gomes, como centro-esquerda, foi o terceiro mais votado, mas a estrutura do PT ainda é muito grande no país. O Ciro, no PDT, tem uma estrutura menor. Passado um ano da eleição, eu vejo mais forte o Haddad.

Diante da convulsão do PSL e das polêmicas do governo, o senhor teme que o presidente sofra um impeachment?

Não posso trabalhar com um cenário desse porque Bolsonaro tem 64 anos de idade ao lado da lei. Não posso acreditar que ele possa cometer algo que seja objeto de impeachment. Há uma preocupação tão grande… Ele diz: preste atenção 200 vezes em relação ao orçamento para não cometer pedalada fiscal.

Mas, às vezes, a perda de apoio político acaba criando o clima para o impeachment.

Aí não. Eu tenho visto a oposição se portar de forma republicana. Eles marcaram uma posição, dizem que não concordam, mas não estão querendo tocar fogo no Brasil. Neste momento, a oposição não promove atos para a quebra da ordem. Isso me surpreende positivamente. Ou porque a oposição se resignou ou porque tem o imaginário de reassumir o poder no voto em um espaço curto de tempo.

De UOL