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“Bolsonaro me dá medo”, diz Juliette Binoche

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Grande referência do cinema francês atual, a atriz francesa Juliette Binoche, 55 anos, que vai a Niterói dia 29 a convite do empresário Jean Thomas, para a festa dos 30 anos da distribuidora cinematográfica dele, a Imovision, tem, acredite, mesmo sem jamais ter vindo ao Brasil, ascendência brasileira. Uma de suas ancestrais, pelo lado paterno, é Úrsula de Araújo Mattos (foto abaixo), nascida em 1838 em Saracuruna, na Baixada Fluminense. Colecionadora de prêmios (ganhou, entre outros, o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, em 1997, com “O paciente inglês” e de de melhor atriz em Cannes, em 2010, com “Cópia Fiel”), ela trocou pelo telefone, de Los Angeles, dois dedos de prosa com Ana Cláudia Guimarães e Rennan Setti.

*Minha cultura sobre o Brasil é limitada, em que pese a ascendência brasileira. Aprendi muito sobre esse país conversando com o meu amigo cineasta Walter Salles porque tivemos um projeto juntos, que terminou não saindo. Quando eu era pequena, meu pai tinha uma espécie de café-teatro em Paris e havia duas cantoras brasileiras, que se chamavam Les Étoiles (As estrelas). Eram travestis na verdade, e cantavam muito bem, e eu lembro que as olhava com estrelas nos olhos.

*A verdade é que o incêndio na Floresta Amazônica preocupa todo o planeta. As escolhas políticas do presidente de vocês, Bolsonaro, dão muito medo. Ele parece ter visões egoístas e muito radicais, que não estão em sintonia com a situação atual. Há uma preocupação geral, e a política atual do Brasil sobre a Amazônia dá medo. Mas isso ocorre em todo o mundo. É necessário haver uma mudança de atitude e consciência. Minha impressão é que será preciso ir até o limite da crise para que as pessoas acordem, o que é lamentável, porque poderíamos nos antecipar e reduzir os impactos.

*As mulheres continuam em uma situação, às vezes, de violência e de submissão, tanto moral quanto física, que não se sustenta. O masculino passa pelo feminino. Enquanto o homem esquecer a parte feminina do ser, não vai dar certo. Dar lugar a essa outra energia é também dar lugar a uma parte de si mesmo. Eu espero que todos os movimentos de mulheres ganhem cada vez mais projeção e sejam escutados. As mulheres têm razão de falar porque há muita coisa ainda para mudar.”

*A qualidade do cinema francês é sua variedade, ele propõe vários cinemas diferentes. Ele toma riscos. Eu atuei em vários países, então eu diria que não sou a mais francesa das francesas. Mas, por atuar em vários cinemas do mundo, eu sou mais francesa no exterior do que na própria França (risos). Eu não gosto de todos os filmes franceses, claro, mas muitas vezes os filmes franceses assumem riscos artísticos, fogem do comum, e isso me toca bastante. Logo, eu decidi apoiar o cinema francês.

*Ainda não sei o que vou ver no Rio. Eu prefiro ver as coisas escondidas, do modo menos turístico possível.

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