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Jeanine Golpista chama Evo Morales de covarde

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Para a presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, Evo Morales não apenas viola as condições de seu asilo no México. Em entrevista exclusiva à BBC, ela diz que o ex-mandatário deve voltar ao país e prestar contas à Justiça. Também acrescenta que Morales saiu “de maneira covarde” da Bolívia.

Em seu terceiro dia no Palácio Quemado, a sede do governo boliviano, Áñez já mudou todo o alto comando da polícia militar do país, empossou ministros e anunciou as prioridades de seu governo: substituir as autoridades eleitorais e entregar o poder a um novo presidente após “eleições justas e transparentes”.

Do México, Evo Morales a descreveu como “presidente autoproclamada” e a acusou de consumar um golpe de Estado contra ele — que estava prestes a completar 14 anos no poder.

Áñez rebateu dizendo que Morales é o verdadeiro responsável pela crise que desencadeou sua renúncia após as eleições “fraudulentas” de 20 de outubro. Segunda vice-presidente do Senado, ela tomou posse interinamente com o dever de convocar novas eleições após a renúncia de Morales.

BBC News – Pouco antes da renúncia de Evo Morales, os militares pediram que ele renunciasse. Então, um dia depois, o ex-presidente partiu de avião para outro país. Sua chegada ao governo não soa como um retorno aos tempos de golpes militares na América Latina?

Jeanine Áñez – Sem dúvida não, porque são tempos diferentes. Os golpes de Estado ocorrem em outros tipos de situação. O que está acontecendo na Bolívia é uma reivindicação dos cidadãos sobre a votação nas urnas.

Não é a primeira vez que isso acontece. Em uma ocasião anterior, Evo Morales nos levou a um plebiscito (sobre se ele poderia obter um quarto mandato) e as pessoas disseram que não. Não respeitar o voto é um mecanismo de conduta típico dos governos socialistas do século 21.

BBC News – O plebiscito pode ser alvo de críticas, mas fato é que a senhora não tinha quórum na Assembléia Legislativa (Congresso boliviano), quando Morales ainda era presidente. Os deputados do partido de Evo Morales alegam que não puderam participar da votação. Que tipo de legitimidade a sra. pode reivindicar quando chega ao poder nessas condições?

Áñez – Primeiro, um esclarecimento. Os parlamentares do partido Evo Morales não queriam entrar na sessão, ninguém os impediu. Certamente, por orientação política, eles decidiram não participar daquela sessão.

A Bolívia estava passando naquele momento por um vácuo de poder e o caos se espalhava por todo o país. A sucessão constitucional estabelece que, no caso dessas ausências, assume quem tenha o posto de autoridade e isso recaía sobre a minha pessoa.

BBC News – Apesar disso, parece que muitos bolivianos não a reconhecem (como presidente), e talvez nunca reconheçam a legitimidade do seu mandato…

Áñez – O povo boliviano reivindicou o direito de escolher suas autoridades. Essa foi a gênese de toda essa mobilização. Evo Morales nos levou em 20 de outubro para uma eleição e o que o povo viu foi uma fraude flagrante. O relatório de auditoria preparado pela Organização dos Estados Americanos nos mostrou que havia uma farsa para o povo boliviano. Foi isso que nos levou a sair às ruas.

Morales não venceu as eleições, ele queria se impor como presidente à força.

BBC News – Vimos que a polícia vem atuando de forma bastante enérgica nas ruas de La Paz e El Alto. Qual é a sua opinião sobre o comportamento da polícia?

Áñez – Devo destacar o comportamento da polícia, porque o que havia na rua era vandalismo. Houve um incitamento à violência por parte do partido do governo e até agora de Evo Morales, que não respeita as restrições da condição de asilo que o México lhe concedeu.

De lá, ele incita a violência. É por isso que valorizo o comportamento da polícia nesses momentos, porque são momentos de revolta que ainda vivemos no país.

BBC News – A senhora sinalizou que seu governo é transitório e que seu objetivo é convocar novas eleições com as autoridades eleitorais adequadas. Isso significaria renovar o Supremo Tribunal Eleitoral (órgão equivalente ao Tribunal Superior Eleitoral, no Brasil) e os Tribunais Departamentais Eleitorais (Tribunais Regionais Eleitorais). A lei em vigor na Bolívia determina que antes de realizar eleições presidenciais, primárias devem ser realizadas entre os partidos. Esse período constitucional expira em 22 de janeiro de 2020. A sra. acha que vai conseguir fazer tudo isso dentro dos prazos?

Áñez – Essa é a exigência da população, já que passamos por processos complicados como consequência da influência do Poder Executivo sobre o Tribunal Eleitoral. As autoridades eleitorais obedeciam às ordens que vinham do poder político.