Marta promete se empenhar por aliança de esquerda

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Foto: Reprodução

A ex-senadora Marta Suplicy diz que, diante da situação do país, classificada por ela como “muito perigosa” por causa do avanço das pautas promovidas pelo governo Jair Bolsonaro , está disposta a fazer “o que for necessário” para tirar do papel uma frente ampla de oposição. Marta, que havia anunciado a sua saída da política e está atualmente sem partido, não fecha as portas para uma candidatura , apesar de afirmar que não pretende brigar por qualquer posto.

A declaração foi dada ao final de um jantar promovido na noite de domingo pelo grupo Prerrogativas, que reúne juristas de todo o país e pauta sua atuação pelas críticas ao que consideram “exageros” da Operação Lava-Jato. No evento, Marta se encontrou com vários políticos petistas. Na semana passada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificou o movimento para tentar reaproximar a ex-senadora do PT, e chegou a dizer que ela foi a melhor prefeita que São Paulo já teve.

— Eu fiquei muito honrada com a fala do Lula e estou imersa na atividade da frente ampla. Porque eu acho que é a frente ampla que tem a possibilidade dar uma resposta a esse retrocesso civilizatório. Eu me pus como cabo eleitoral — afirmou Marta.

A ex-senadora contou que quando anunciou a sua desfiliação do MDB no ano passado estava decidida a largar a política.

— Aí percebi uma situação que não permite a alguém que luta pela democracia ficar fora.

Indagada diretamente sobre a possibilidade de ser candidata, Marta negou que esse seja o seu propósito, mas comparou o momento do país com a situação vivida pela Europa na época da ascensão do nazismo.

— Eu não tenho o desejo (de ser candidata), não vou brigar para ser isso ou aquilo, não estava no meu radar. Meu radar é criar uma frente forte porque estamos correndo risco (…) Nós temos que perceber o que o povo judeu não percebeu na época. Estamos vivendo uma situação muito, muito perigosa, e para isso eu me disponho a fazer o que for necessário.

Na saída do jantar realizado em uma churrascaria de São Paulo, Marta conversou com um assessor de Lula que cuida da agenda do ex-presidente. O líder petista era aguardado no evento, que homenageou a memória do advogado Sigmaringa Seixas, morto no ano passado e que era um dos seus melhores amigos, porém, não compareceu.

Fábio Luís, um dos filhos do ex-presidente, foi e sentou-se a poucos metros de Marta. A ex-senadora passou o jantar ao lado do ex-deputado federal petista Vicente Cândido. Ela também cumprimentou Rui Falcão, deputado e ex-presidente do PT, com quem havia se desentendido no passado.

Na semana passada, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que Marta poderia compor como vice um chapa encabeçada por um petista para disputa da prefeitura em 2018.

Pelos menos dois outros nomes citados como candidatos a prefeito estavam no jantar. O ex-governador Márcio França (PSB) passou boa parte da noite conversando com o marido de Marta, Marcio Toledo. O petista Fernando Haddad, que nega a possibilidade de concorrer, mas vem sendo pressionado dentro do PT, se sentou na mesma mesa que Marta, mas distante da ex-senadora.

Além de representantes do PT e do PSB, o evento também teve a participação do deputado federal Marcelo Freixo (RJ), pré-candidato do PSOL à prefeitura do Rio, e que tenta atrair uma frente de partidos de esquerda em torno de seu nome. O presidente nacional da legenda, Juliano Medeiros, também compareceu.

Os discursos dos advogados foram marcados pelos riscos à democracia que o país enfrenta. O grupo Prerrogativas, que teve início há seis anos a partir de debates no Whatsapp, teve papel fundamental nas ações diretas de constitucionalidade (ADCs) contra a prisão em segunda instância no Supremo Tribunal Federal (STF). O reconhecimento do STF no último dia 7 da procedência das ADCs permitiu que Lula e outros presos na Lava-Jato fossem soltos. Fazem parte do grupo os principais criminalistas do país, entre entres Antônio Claudio Mariz de Oliveira, ex-advogado Michel Temer, e Alberto Zacarias Torom, defensor do deputado Aécio Neves (PSDB-MG). Além de Sigmaringa, foram homenageados os juristas Celso Bandeira de Mello e Weida Zancaner.

O advogado Lênio Strecker, um dos que discursaram, manifestou preocupação com as iniciativas do Congresso para mudar a lei e permitir a prisão em segunda instância. Para ele, a alteração colocaria em risco a presunção de inocência.

— Depois da luta de três anos pelas ADCs, o Parlamento pode destruir o que fizemos. Eis a grande luta agora: derrotar uma narrativa que foi vendida no sentido que o Supremo teria proibido a prisão em segundo grau.

O jantar terminou com uma apresentação musical do advogado Antonio Carlos Almedia, o Kakay. Enquanto políticos e juristas deixavam o local, ele soltava a voz em hits como o clássico da música sertaneja “Evidências”.

O Globo