Briga com PSL enfraqueceu Bolsonaro

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Foto: Domingos Peixoto/Agência O Globo

Sem ter certeza de que o Aliança pelo Brasil, seu novo partido, será homologado antes das eleições municipais, o presidente Jair Bolsonaro vem orientando os apoiadores que sonham chegar às prefeituras em 2020 a terem um plano B, buscando abrigo em alguma legenda para não ficarem de fora da disputa. O presidente tem prometido também, conforme relatos feitos ao GLOBO, que dará seu apoio a alguns poucos candidatos considerados de confiança e alinhados ideologicamente em cidades estratégicas.

Na avaliação de Bolsonaro e seu filhos, este é o momento em que é melhor “perder em quantidade para ganhar na qualidade dos candidatos”. O pano de fundo dessa estratégia é evitar que se repita o que houve nas eleições do ano passado, quando vários candidatos a deputados e senadores se elegeram sob o manto do bolsonarismo pelo PSL , mas romperam com o presidente no racha envolvendo a crise com a legenda comandada por Luciano Bivar .

Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Belém e Campinas são alguns dos municípios nos quais o presidente planeja se empenhar pessoalmente. Nessas cidades, os nomes que surgem mantêm uma relação próxima com a família Bolsonaro.

— Vale mais prezar a qualidade do que a quantidade. Vimos no PSL figuras que surfaram a onda Bolsonaro e agora estão jogando contra o governo. Então, nem sempre você eleger uma pessoa é bom. Tem que ser uma pessoa verdadeiramente alinhada, mas quem vai definir os critérios de apoio é o próprio presidente — diz o deputado estadual de Minas Gerais Bruno Engler, que deseja seguir o presidente rumo ao Aliança.

Fundador do Direita Minas, Engler, de 22 anos, teve o apoio da família Bolsonaro quando se candidatou a vereador em Belo Horizonte, em 2016, e no ano passado, ao se eleger para a Assembleia Legislativa de Minas. Apontado como candidato certo de Bolsonaro na capital mineira, Engler diz estar confiante de que o Aliança estará apto para as eleições, mas sem descartar buscar outro caminho caso a estratégia naufrague.

— Agora é tempo de trabalhar para que o Aliança esteja pronto nas eleições municipais, mas eu coloquei meu nome à disposição. Se o presidente Bolsonaro entender que eu sou o melhor nome para a missão, eu vou abraçá-la. A palavra final é dele, não minha — disse Engler, que acompanhou Bolsonaro em agendas em Minas Gerais e no Rio na semana passada.

Para atingir o sonho de se lançar à prefeitura do Rio de Janeiro, o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ) já ensaia se desfiliar do PSC do governador Wilson Witzel . Bolsonarista convicto, busca o Aliança, mas, caso a legenda não seja homologada a tempo, já recebeu orientação da família presidencial sobre qual alternativa buscar.

— Fui orientado pelo Flávio (Bolsonaro) a procurar o Patriota. Acho que ali as portas estão abertas — afirmou Otoni.

O parlamentar diz ter se colocado à disposição de Bolsonaro para ser candidato à prefeitura e afirma ter recebido a garantia de que deve “seguir em frente”. Otoni conta que deixará o PSC de qualquer jeito, mesmo sob o risco de perder o mandato na Câmara.

— Quando o governador (Witzel) tomou partido contra o presidente (Jair Bolsonaro), eu, como aliado do presidente, tive de me posicionar e, ao fazer isso, perdi a vice-liderança do partido na Câmara, porque o governador ligou exigindo minha saída. O clima no partido ficou muito ruim — disse Otoni.

O deputado conta ter entrado no PSC por meio de um acordo com o presidente da legenda, Pastor Everaldo, mas, diante do resultado expressivo que teve em 2018, ao ser eleito com 220 mil votos, diz que quer seguir outros caminhos.

Em Campinas, a 90 quilômetros de São Paulo, o nome que deve ganhar o apoio de Bolsonaro é o do vereador e tenente da Polícia Militar Nelson Santini Neto, atualmente filiado ao PSD. Aos 37 anos e no primeiro mandato, ele é filho do general Nelson Santini Junior, morto em 2015, e irmão de José Vicente Santini, número 2 da Casa Civil.

Ex-integrante da Rota, tropa de elite da PM paulista, ele é próximo ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e recebeu o apoio do clã em sua eleição.

— Hoje eu não me coloco ainda como pré-candidato a prefeito, mas o sentimento da população que apoiou Bolsonaro é esse. Até porque ele me convidou para concorrer à prefeitura. O modelo dele é muito claro: ele até prefere perder algumas eleições, mas quer ter pessoas ideologicamente alinhadas — disse o vereador.

Tenente Santini, no entanto, reconhece que há um impasse sobre o seu futuro na legenda. Por ora, está empenhado em estruturar o Aliança em Campinas, tendo inclusive alugado uma casa para servir de escritório.

— Tenho duas opções: se o Aliança não sair, eu não concorro. Ou procuro um outro partido de direita que me dê a legenda para concorrer — diz Santini, que não vê muitas possibilidades de poder disputar a prefeitura pelo PSD.

Em São Paulo, Bolsonaro já manifestou vontade de lançar candidatos. Entre os nomes que circulam pela proximidade com a família estão Edson Salomão, presidente e um dos fundadores do Direita São Paulo, e o deputado estadual Gil Diniz (PSL-SP). O presidente Bolsonaro sonha, no entanto, convencer o apresentador José Luís Datena a se candidatar. Datena, por suas vez, já desistiu de concorrer em pleitos anteriores.

— O presidente gosta muito do Datena. É um nome extremamente competitivo. E juntaria essa empatia do presidente com a projeção que Datena já tem, mas não há nada certo. É só um flerte — diz o deputado Gil Diniz, que afirma não se colocar como candidato.

Filiado ao PSD, o deputado federal Éder Mauro (PA) negocia uma saída consensual da legenda para se lançar à prefeitura de Belém. O PSD prometeu a legenda a outro candidato e, com isso, deve liberar Éder Mauro para deixar o partido mantendo o mandato.

Sem garantias de que o Aliança será criado antes das eleições municipais, o deputado foi ao Palácio do Planalto na semana passada para traçar uma alternativa com o presidente. Éder Mauro diz ter ouvido de Bolsonaro um pedido para que continue, por enquanto, no PSD, até que os advogados concluam as estratégias para a fundação da nova legenda. Caso a criação não ocorra a tempo do próximo pleito, Bolsonaro disse ao aliado para não descartar nem uma filiação ao PSL, do rival Luciano Bivar.

O Globo