Loja foi usada para lavar dinheiro do esquema da “rachadinha”

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução

O Ministério Público do Rio (MP-RJ) afirma haver indícios de que a loja de chocolates do senador Flávio Bolsonaro (sem partido/RJ) tenha sido utilizada, a exemplo de transações imobiliárias do então deputado estadual, para lavagem de recursos ilícitos provenientes do esquema de “rachadinhas” em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Segundo o MP, há diferenças de cerca de 25% entre o faturamento auditado da Bolsotini Chocolates e Café LTDA. e o valor que ingressou na conta bancária da empresa.

De acordo com a investigação, as movimentações financeiras da empresa também levantam suspeitas de que o sócio de Flávio na loja de chocolates, Alexandre Ferreira Dias Santini, tenha sido usado como “laranja” do então deputado para encobrir a suposta injeção de recursos ilícitios na empresa.

Em sua prestação de contas à Justiça Eleitoral em 2018, quando concorreu ao Senado Federal, Flávio declarou ser dono de 50% da loja de chocolates, uma franquia da rede Kopenhagen no Shopping Via Parque, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Santini é o dono da metade da empresa, que foi adquirida por R$ 800 mil e tem capital social de R$ 200 mil, de acordo com os documentos levantados pela investigação.

Segundo o MP, a cota de participação de Santini na loja de chocolates foi coberta por Fernanda Bolsonaro, mulher de Flávio, em duas transferências bancárias que totalizaram R$ 550 mil. As transferências de Fernanda, realizadas em fevereiro de 2015 para a C2S Comércio de Alimentos, dona da franquia, também se destinaram a cobrir parte da cota do marido. Segundo o MP, Flávio declarou apenas ter pago um sinal de R$ 50 mil.

A loja foi inaugurada por Flávio Bolsonaro e Alexandre Santini no mês seguinte, em evento que contou com nomes ilustres, como o ex-treinador Carlos Alberto Parreira, o ex-jogador Bebeto e o então deputado federal Jair Bolsonaro.

De acordo com a investigação, com base em declarações de Imposto de Renda do casal à Receita Federal, Flávio e sua mulher Fernanda “não possuíam lastro financeiro entre o ano de 2014 e os dois primeiros meses de 2015 para justificar o investimento superior a R$ 1 milhão” na aquisição e operação da loja de chocolates nesse período.

Além disso, o MP apurou que, no período de 2015 a 2018, Flávio Bolsonaro retirou cerca de R$ 978 mil como sua parcela de lucros da empresa, quase o dobro dos R$ 506 mil retirados por Santini. Para os promotores, a discrepância na retirada dos lucros e no investimento na empresa são indícios de que Santini “possa ter figurado inicialmente nos contratos como ‘laranja’, para simular que os custos da operação teriam sido divididos igualmente” com Flávio.

Para o MP, este contexto “levanta a fundada suspeita de que parte dos recursos desviados da Alerj possa ter sido ‘lavado’ por meio do empreendimento comercial” de Flávio Bolsonaro. A participação de Santini na sociedade, segundo a investigação, seria uma forma de “camuflar a origem dos recursos investidos” pelo casal.

O Ministério Público apontou ainda uma divergência de cerca de 25% entre os créditos de vendas na conta bancária da Bolsotini Chocolates e Café, declarados à Receita Federal, e o faturamento da empresa auditado mensalmente pela administração do Shopping Via Parque.

Segundo a investigação, a Bolsotini declarou um total de R$ 6,5 milhões de arrecadação entre 2015 e 2018. No entanto, o valor auditado pelo shopping foi de R$ 4,8 milhões em vendas. A diferença ao longo do período foi de R$ 1,6 milhão.

“É possível apurar a divergência de valores que corresponde aos recursos de origem ilícita inseridos artificialmente no patrimônio da empresa”, afirma o MP.

Ainda de acordo com o Ministério Público, o volume de dinheiro em espécie que ingressou nas contas da Bolsotini em 2015, seu primeiro ano de funcionamento, e 2016 totalizou R$ 881,9 mil — o equivalente a quase 45% do total recebido através de pagamentos com cartão de crédito ou débito neste período. Em 2018, por outro lado, o volume de dinheiro em espécie corresponde a 27% do total de recursos obtidos com pagamentos em cartão.

Para o MP, os aportes em espécie na conta da Bolsotini coincidem com o período em que “Fabrício Queiroz arrecadava parte dos salários dos assessores na Alerj e tinha disponibilidade de papel moeda em quantia suficiente para efetuar os depósitos ilícitos na conta da Bolsotini”.

Segundo o Ministério Público, portanto, os indícios apontam o uso da Bolsotini como “conta de passagem” para recursos obtidos através da “rachadinha” na Alerj, com o objetivo de camuflar a origem desses recursos “antes do ingresso formal dos valores no patrimônio pessoal” de Flávio Bolsonaro.

O Globo