Nove políticos foram assassinados no RJ em 2019

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RIO — O ano pré-eleitoral de 2019 termina com nove assassinatos e cinco atentados contra políticos no Estado do Rio, entre prefeitos, vereadores e ex-vereadores. No ciclo das eleições municipais de 2020, é o período com a maior violência ligada à atividade política — o triplo das três mortes do ano passado. Cidades da Baixada Fluminense e da Região dos Lagos têm sido identificadas pela polícia como as mais perigosas. Desde dezembro de 2015 já foram assassinados 25 políticos e dois assessores no Estado do Rio.

Nas linhas de investigação, os inquéritos trabalham como hipóteses para os crimes disputas por currais políticos, a interferência do tráfico de drogas e da milícia, além da máfia de roubo de combustíveis. Parte das vítimas combateria o crime organizado ou estaria, supostamente, envolvida com atividades ilícitas.

O crescimento das milícias no estado é apontado como causa de grande parte dos casos pelo novo presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ), Cláudio Brandão de Oliveira. Uma semana depois de assumir o cargo, em entrevista ao GLOBO na última terça-feira, o magistrado admitiu a preocupação com o recrudescimento da violência ligada à política no estado.

— A milícia está de fato mais forte na Baixada e na Região dos Lagos. O tribunal vai se preparar. Temos nessa primeira fase a consciência de que é muito grave essa situação, e de que em muitos municípios esse vai ser nosso principal problema. Vou conversar com o governador (Wilson Witzel). E defendo que o tribunal participe das investigações de crimes ligados a eleições — afirmou o desembargador.

Armas e blindados

O total de mortes desde 2015 deixa de fora o filho de um vereador, morto junto com o pai, e outros três políticos vítimas de crimes passionais, segundo a polícia. O período de dez meses que antecedeu as eleições de 2016 foi o mais violento, com a morte de três vereadores e nove pré-candidatos, além de um assessor. O ano de 2017 passou sem registros de violência, enquanto em 2018 foram mais três assassinatos de políticos, incluindo o da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL), além de seu motorista Anderson Gomes.

Seropédica e Nova Iguaçu, na Baixada, lideram os casos de violência, seguidos por Magé. Os ataques sem mortes em 2019 envolveram políticos de Belford Roxo e Duque de Caxias, incluindo os prefeitos das duas cidades. Temendo o aumento da violência em 2020, pré-candidatos mudaram suas rotinas e cobram maior segurança.

Em Belford Roxo, vereadores passaram a andar em carros blindados e deixaram de expor suas famílias nas redes sociais. Eles relatam que a maior parte dos locais de votação no município é cercada, no dia das eleições, por homens armados da milícia e do tráfico, uma forma de intimidar eleitores. Durante a campanha, o crime organizado também impediria a entrada de candidatos em comunidades. Entre as cobranças para 2020 feitas por pré-candidatos à Justiça Eleitoral está o remanejamento das seções de votação e operações com o emprego da Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

— O que acontece nas cidades da Baixada e, principalmente, em Belford Roxo é que o controle do município pelo crime está dividido. Numa parte o tráfico; na outra, a milícia. No dia de votação os eleitores chegam para votar com homens armados cercando os locais de votação. As seções deveriam ser mudadas de lugar — sugere Cristiano Santos (PL), vereador e pré-candidato a prefeito, que evita envolver sua família em eventos políticos.

Cães envenenados

Também pré-candidato a prefeito de Belford Roxo, o suplente de deputado estadual e ex-presidente do PSL no município Júnior Cruz, policial militar licenciado que escapou de dois atentados e viu seus cachorros serem mortos por envenenamento, prevê meses de violência até as eleições do ano que vem. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios de Belford Roxo.

— Mesmo licenciado, não tem conversa. Se num corpo a corpo tiver tiro, eu pego o primeiro revólver que aparecer e devolvo em balas. E vou andar com amigos armados e sugiro a aplicação da GLO — afirma Júnior, que não abrirá mão da candidatura: — Já me mataram. Perdi minha família, não posso estar com meus filhos por segurança. Não saio mais com meu filho para soltar pipa. Coisas simples como ter redes sociais ou usar o WhatsApp são luxo para mim.

O pré-candidato foi alvo de um ataque no dia 1º de dezembro. Júnior seguia com a mulher e um amigo para a Costa Verde quando o carro em que estavam foi fechado na Avenida Brasil, na altura de Irajá, na Zona Norte. Homens que estavam no veículo dispararam contra o carro de Júnior, iniciando um tiroteio. O suplente de deputado culpa adversários políticos pelos atentados, entre eles o prefeito de Belford Roxo, Waguinho (MDB). Júnior apresentou à Justiça diversas denúncias de supostas improbidades administrativas ocorridas na gestão. Procurado diversas vezes pelo GLOBO, por meio de sua assessoria, o prefeito não comentou as acusações e nem falou sobre a violência no município.

O próprio Waguinho foi alvo de dois atentados em 2019. No primeiro, em 15 de fevereiro, o carro onde estava com a mulher, a deputada federal Daniela do Waguinho (MDB), foi alvejado por tiros na Avenida Automóvel Clube, em Belford Roxo. Em outubro, seus seguranças perceberam que outro veículo seguia o prefeito e houve troca de tiros.

Outra vítima da violência em Belford Roxo é o vereador Júlio César Lourenço da Silva, o Bill da Piscina (PTN), que sobreviveu após receber dois tiros na barriga em 26 de março no bairro Parque Suécia. Quatro dias antes do atentado, o vereador de Japeri, também na Baixada, Wendel Coelho (PT doB) foi morto a tiros em Engenheiro Pedreira, distrito do município. Os tiros foram disparados por homens em motocicletas, e investiga-se a participação de traficantes.

Além de Wendel, foram assassinados em 2019 os vereadores Ciraldo Fernandes da Silva (DEM), de Araruama, e Ismael Brene (DEM), de Maricá; os ex-vereadores Serginho da Lotada (PPS), de Araruama; Darci Gomes dos Santos Filho, o Darcizinho (MDB), de Magé; e os ex-candidatos a vereador Uilian Chaveiro (PRTB), de Belford Roxo; Robson Giorno (Avante), de Maricá; Alcenir Ramos da Silva (REDE), de Seropédica; e Ruy de Oliveira, o Ruy da Padaria (PTC), de Nova Iguaçu.

O Globo