Odebrecht: demissão de Marcelo é novo capítulo da dissolução da empresa

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Foto: Rodolfo Buhrer/Reuters

A Odebrecht demitiu, por justa causa e sem direito a indenização, nesta sexta-feira, 20, o empresário Marcelo Odebrecht, ex-presidente do conglomerado e um dos pivôs da Operação Lava Jato. Além de ser acionista do grupo, Marcelo tinha registro CLT na companhia e recebia algo em torno de R$ 115 mil por mês. Ele presidiu a companhia até 2015, quando foi afastado das funções na esteira do escândalo de corrupção revelado pela Operação Lava Jato.

Além disso, tinha toda uma estrutura bancada pela Odebrecht. A partir de agora, ele terá de bancar alguns benefícios, como secretária, motorista, segurança, advogados e assessoria de imprensa. Embora estivesse afastado de funções executivas desde sua prisão, Marcelo ainda constava como funcionário. Além disso, desde que teve a progressão da pena para o regime semiaberto, vinha frequentando o prédio do conglomerado, na Marginal Pinheiros, e até participando de reuniões com executivos, sobretudo da área de compliance.

Segundo fontes, a demissão teria partido do pai, Emílio Odebrecht. O atual presidente do grupo, Ruy Sampaio, assinou a decisão e coube ao departamento jurídico informar Marcelo Odebrecht sobre seu desligamento. Segundo fontes, a decisão de Emílio vem sendo amadurecida há algum tempo para dar um basta aos ataques do filho. Amigos próximos afirmam que o patriarca oscila entre os sentimentos de tristeza e raiva. No fim de semana, o pai tentou contactar o filho para uma trégua, mas sem sucesso.

Em nota, Marcelo afirmou que sua demissão “é apenas a demonstração inequívoca de mais um ato de abuso de poder do atual presidente da Odebrecht S.A. que, na tentativa de paralisar a apuração pelo compliance de fatos que lhe atingem e que deveriam estar protegidos por sigilo, retalia o denunciante como forma de intimidá-lo”.

A briga entre pai e filho se intensificou nos últimos dias, com a troca de comando da empresa. Na segunda-feira, 16, Luciano Guidolin, que comandava o grupo nos últimos anos, foi substituído por Sampaio, que estava no conselho do conglomerado e é visto como homem de confiança de Emílio.

Marcelo é acionista indireto minoritário da Odebrecht, com 2,69% do grupo. O comunicado do grupo diz que, a partir desse momento, todas as comunicações com Marcelo devem ser feitas somente pelos mesmos canais utilizados pelos acionistas da família e centralizados na Kieppe, holding por meio da qual a família tem participação no grupo.

Briga familiar pública
O movimento se segue a uma série de críticas que Marcelo vinha realizando à condução dos negócios da empresa. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Marcelo acusou o pai, Emílio, de ter levado a companhia para a recuperação judicial.

Internamente, comentava-se também que o ex-presidente da Odebrecht vinha ameaçando executivos da empresa na tentativa de voltar ao comando do grupo. Esse teria sido o motivo da substituição do executivo Guidolin por Ruy Sampaio, que tem entre suas missões barrar as investidas “ativistas” de Marcelo.

A troca na presidência da Odebrecht chegou a ser considerada positiva para o plano de recuperação do grupo, que tenta negociar uma dívida de R$ 100 bilhões. Na quinta-feira, 19, a companhia conseguiu adiar a assembleia com credores para o dia 29 de janeiro de 2020. No entanto, as ações recentes de Marcelo eram vistas como uma ameaça à trégua com os credores, segundo fontes próximas à companhia.

Os reestruturadores da recuperação judicial começaram nesta semana a conversar com os principais bancos credores – Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil e BNDES – para tentar acalmar os ânimos, acirrados por conta da briga declarada entre Marcelo e Emílio Odebrecht. As conversas com os credores estão sendo conduzidas pela RK Partners e pelo advogado Eduardo Munhoz.

Ruy Sampaio, que assumiu a presidência executiva do grupo no lugar de Luciano Guidolin, tem a missão de barrar as ofensivas de Marcelo – processo que já começou nesta sexta-feira, 20, com a demissão.

Estadão