Projeto ampliará oferta de alimentos orgânicos em Porto Alegre

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Os consumidores de Porto Alegre em breve terão à disposição mais variedades e maior volume de alimentos orgânicos cultivados próximos de casa, na zona rural da Capital. Dos 398 produtores do município localizados nos limites da região, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Emater estima que 40 não utilizam químicos em seus cultivos. Outros 20 estão em processo de conversão da agricultura tradicional para a ecológica, todos vinculados à Rede Agroecológica Metropolitana (Rama), que certifica a produção orgânica.

– Na auditoria tradicional, é apenas um responsável. Na certificação por participação são vários olhares – conta Luís Paulo Vieira Ramos, extensionista do escritório municipal de Porto Alegre da Emater, um dos responsáveis pela qualificação dos agricultores no sistema de cultivo sustentável.

– Hoje, a enxada é a melhor amiga na roça de feijão. Como não uso adubo, se não fizer manejo, não vai dar produção boa. Aumentou o volume de trabalho, mas continuamos só com a família, apenas no pico da colheita colocamos uma pessoa para ajudar – explica o agricultor.

Rossato afirma que o trabalho será compensado pelo valor do orgânico no mercado, quando conquistar a certificação. Enquanto o quilo do feijão tradicional custa cerca de R$ 4,50, o orgânico fica na faixa de R$ 10. No futuro, o planejamento inclui implantar agroindústria na propriedade para reaproveitamento das frutas colhidas.

Referência em agroecologia

Como forma de garantir a seriedade da certificação, há uma comissão de avaliação e todos os agricultores se visitam.

O projeto de estímulo à produção faz parte das ações para transformar a zona rural da Capital em área livre de agrotóxicos até 2032. A Lei nº 12.328, de 2017 definiu em 15 anos o prazo para conversão.

– Essa transição não se concretiza no curto prazo: em um, dois ou três anos. Os químicos permanecem no solo por algum tempo – afirma Oscar Peliciolli, coordenador de Fomento de Atividades da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, explicando por que a necessidade de período maior para adequação.

Após associar-se à rede em outubro de 2018, a família Rossato começou no mês seguinte a mudar a forma de cuidar das plantas na chácara de nove hectares no Lami, na Zona Sul. Carlos Eduardo Rossato participa de encontros mensais, onde troca informações com outros produtores e recebe apoio técnico de extensionistas da Emater, conveniada com a prefeitura.

Entre as técnicas introduzidas, Rossato cita a adubação verde, onde utiliza ervilhaca e aveia preta para fertilização de ameixeiras e aipim. Ele também passou a usar casca do ovo triturada antes da capina do aipim e feijão. Em teste, deixou uma linha sem a casca e percebeu grande diferença entre as que receberam cálcio e as que não receberam.

Mais trabalho, menos custos
A família, que atua na agricultura há mais de 80 anos, produz ameixa e, em menor volume, pêssego, além de feijão e aipim. Após decisão de mudar o sistema de cultivo, foram implantados maracujá, pitaia e acerola. Em maio deste ano, a propriedade recebeu visita da Rama, onde a comissão verificou in loco o modo produtivo. Agora, Rossato aguarda pela certificação, que pode demorar quase um ano. Mas ele garante que vale a pena:

– Se antes se gastava R$ 100 com agrotóxicos, hoje caiu para R$ 2.

E, no aipim e feijão, neste primeiro ano, a produtividade foi maior do que na convencional.

Já o trabalho mudou. Antes, um operador de trator fazia o manejo, e a capina praticamente não existia.

A produção agroecológica é realidade no Sítio dos Herdeiros, no Lami, há pelo menos duas décadas. Na propriedade, com mais de 1,8 hectares, as famílias trabalham com cultivos diferentes. O casal Salvador Rosa da Silva, conhecido por Dodô, 70 anos, e Vera Lucia Ferreira da Silva, 63 anos, trabalha respeitando o ciclo das plantas. Nos meses de frio cultiva alface, chicória e ervilha torta. No calor, melão, hibisco e rúcula. Por isso, a agroindústria também tem produção sazonal, conforme o que a terra oferece.

Além da certificação participativa da Rama, o casal integra projeto de rastreabilidade do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no RS (Sebrae-RS) no cultivo de hibisco, que foi dividido por quadras identificadas. Entusiasta da planta, Dodô garante que o produto tem 200% de aproveitamento:

– Comercializamos fruto, folha.

E Vera completa:

– A folha serve para salada, arroz. O fruto, além de vendido natural, é usado em geleia, pasta.

Defensor do cultivo orgânico, Dodô acumula conhecimento a partir da observação dos vegetais, pela atenção às pragas, e por estudar o que precisa manter no mesmo canteiro para uma planta ajudar a outra. Já Vera cuida do desenvolvimento e produção das geleias e pastas, inscritas no Serviço de Inspeção Municipal de Produtos de Origem Vegetal (SIM Vegetal), o que permite a venda em feiras e na propriedade.

Hoje, o casal é referência em agroecologia em Porto Alegre. Chefes de cozinha, como Marcos Livi, já visitaram a propriedade. Na Feira Ecológica do Bom Fim, Vera e Dodô expõem seus produtos todos os sábados.

Hoje, Porto Alegre tem oito feiras ecológicas vinculadas à prefeitura, sendo que três abertas nos últimos dois anos.

Oscar Peliciolli, coordenador de Fomento de Atividades da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, detalha que o objetivo é incentivar a inclusão de agricultores familiares locais nas exposições, já que hoje 80% dos estandes são do Interior.

GaúchaZH.