Alvim e seu inconcebível discurso nazista

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Foto: Secretaria de Cultura

O secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, não resistiu muito mais que 24 horas no cargo depois de postar vídeo em que apresenta o “Prêmio Nacional das Artes” não apenas ecoando Joseph Goebbels, chefe da publicidade e propaganda do Führer Adolf Hitler, mas mencionando palavras e construções do próprio comandante nazista, na defesa de uma arte nacionalista, “imperativa”, “heroica”, acompanhado por uma trilha sonora com a ópera Lohengrin, de Richard Wagner, compositor alemão de música erudita, ícone no III Reich.

Foi demitido hoje, depois da grande e necessária reação na imprensa profissional, tão menosprezada e atacada pelo governo. Mesmo nos círculos de direita radical que defendem o presidente Bolsonaro e seu grupo houve críticas. Foi animadora a reação de vigor na defesa de limites que não podem ser ultrapassados em um estado democrático de direito. Mas a demissão não esgota o assunto. Pelo contrário, o revigora.

Há uma visível tentativa no meio bolsonarista de considerar que Alvim não está “bem da cabeça”. Maneira de até tentar-se amenizar — sem êxito — o ataque que ele, como diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, fez em setembro à atriz Fernanda Montenegro. Ali já era caso de demissão. À época, a Secretaria — na verdade, o antigo Ministério da Cultura — estava subordinada à pasta da Cidadania, de Osmar Terra. Depois foi rebaixada para a de Turismo, sob a guarda de Marcelo Álvaro Antônio, investigado por haver semeado um laranjal no PSL para desviar dinheiro do Fundo Eleitoral.

A extrema direita no poder relega a área de cultura por considerá-la controlada pela esquerda. E assim aquela produção cultural e artística que depende de recursos do Estado, como acontece em todo o mundo, vai minguando, sem formar, sem desenvolver artistas e sem preservar a cultura nacional que o bolsonarismo tanto diz querer proteger.

O próprio prêmio apresentando por Alvim ao som de Wagner e com um discurso nazista será usado, percebe-se, com vieses, inclusive de uma visão religiosa que não cabe em um Estado republicano, laico por definição. Este uso do dinheiro público — liberando-o ou retendo-o — para manipular a produção cultural e artística ocorre desde o início do governo. Nada muito diferente do que aconteceu no lulopetismo. Mas a intensidade com que ocorre chama a atenção. Roberto Alvim exagerou mais uma vez e caiu.

O governo e as diretrizes oficiais continuam os mesmos. O surto de nazismo explícito de Roberto Alvim funciona para testar a sensibilidade de instituições e da sociedade para detectar o inadmissível. Teste positivo. Devem vir outros.

O Globo