Argentina indica mulher negra para embaixada no Vaticano

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Foto: Reprodução

Depois de muitas idas e vindas, o presidente argentino, Alberto Fernández, finalmente escolheu um nome para representar seu governo no Vaticano, horas antes de aterrizar em Roma para um primeiro encontro como chefe de Estado com o Papa Francisco. De acordo com o jornal Página 12, a escolhida foi a embaixadora de carreira Maria Fernanda Silva, primeira mulher negra a ser incorporada à Chancelaria argentina. Segundo fontes locais, Maria Fernanda tem vínculos com o peronismo e especialmente com o kirchnerismo.

A ideia da Casa Rosada era anunciar o nome que será proposto ao Vaticano durante ou após a visita do presidente. Mas a opção feita por Fernández vazou e foi publicada por um dos jornais mais alinhados com o governo da aliança Frente de Todos, entre peronistas e kirchneristas.

— Ela tem boas relações com o peronismo — comentou uma fonte que conhece a mulher que deverá representar a Argentina na Santa Sé.

Maria Fernanda nunca ocupou o posto de embaixadora no exterior. Se o Vaticano der sinal verde ao pedido do governo argentino, esta será sua primeira experiência fora do país. A diplomata já passou pela embaixada que agora comandaria, mas em postos inferiores.

A embaixadora é católica e entrou para a carreira diplomática há cerca de 30 anos. Foi uma das diplomatas que acompanhou a embaixadora política Alicia Castro em Caracas, durante os governos Kirchner (2003-2015). Maria Fernanda também passou pelas embaixadas de Quito e pela atualmente enfraquecida União de Nações Sul-americanas (Unasul).

Segundo o Página 12, o chanceler Felipe Solá interessou-se pelo trabalho de Maria Fernanda sobre migração, tema que ocupa um lugar central na agenda do Papa. O jornal informou, ainda, que os pais da diplomata nasceram em Cabo Verde e que seu primeiro e único casamento foi anulado pela decisão de seu ex-marido de tornar-se padre. O processo, segundo o jornal, foi acompanhado pelo então arcebispo de Buenos Aires, cardeal Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco.

A visita de Fernández ao Vaticano é sua segunda viagem internacional. A primeira foi a Israel, onde participou das homenagens pelos 75 anos do Holocausto. O presidente argentino conhece o Papa Francisco e o visitou quando ainda não era favorito para as eleições argentinas, acompanhado pelo ex-chanceler brasileiro Celso Amorim. O encontro teve como principal objetivo pedir o apoio de Francisco à campanha pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A relação do Papa com o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) sempre foi fria, e o contato com dirigentes peronistas é público e sempre se manteve constante. Quando era arcebispo portenho, Francisco teve uma relação tensa com os Kirchner por suas críticas à situação social da Argentina. No entanto, recebeu Cristina no Vaticano quando a atual vice era presidente e respondeu rapidamente ao pedido de audiência enviado por Fernández pouco depois de assumir o poder, em dezembro passado. Em Buenos Aires, muitos especulam uma visita do Papa a seu país durante a gestão de Fernández e Cristina.

No entanto, há temas que provocam profundas divergências entre Fernandéz e Francisco, como a liberalização do aborto. Enquanto Fernández e Cristina apoiam publicamente, o Papa é contra.

O Globo