Bolsonaro é “morodependente”

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Foto: Carolina Antunes/PR/Flickr

Um lugar-comum da política diz que o governante se beneficia ao lançar sua candidatura à reeleição apenas na reta final do mandato. Jair Bolsonaro não seguiu essa lógica. Não é uma surpresa, já que quase todas as suas ações têm sido marcadas pela improvisação e pela falta de racionalidade. Em apenas quatro meses, se lançou às eleições de 2022. Ainda embalado pela alta popularidade e pelo ambiente polarizado, surfou em 2019 como nome imbatível para permanecer no Planalto até 2026. Certamente é o principal nome da corrida, mas há vários sinais recentes de que o Brasil pode ter um novo cenário daqui a três anos.

Entre as incertezas, inspira dúvidas a saúde fragilizada do presidente — um problema que ele mesmo não cansa de ressaltar. Como problema central, Bolsonaro é incapaz de criar alianças, o que faz o risco de um impeachment assombrá-lo permanentemente — outro tema recorrente de suas falas. O mandatário ainda é um franco-atirador bonapartista que se fia no apoio popular para suas causas, driblando o Congresso. Este ainda está do seu lado por ele ter ampliado a distribuição de verbas no varejo e encarnar bandeiras majoritárias. Mas isso vai declinar ao longo do mandato e começam a surgir dúvidas na base sobre sua fidelidade a temas como o combate à corrupção, que ele encarnou mesmo sem merecer. As seguidas rasteiras no ministro Sergio Moro e o abandono das trincheiras da Lava Jato para proteger seus filhos trincaram sua imagem pública e o desgastaram entre seus militantes — a bancada no Congresso já havia sido implodida pela própria família Bolsonaro. Há menos adesão nas redes e cresce o desgaste do “gabinete do ódio”. O tom do presidente desde o final do ano passado é mais contido, cauteloso e acuado.

Hoje há bem menos confiança na estabilidade da administração Bolsonaro. Por isso, é fundamental ao presidente manter a adesão de Moro, ainda a figura mais popular do governo, e torcer para que a agenda do ministro Paulo Guedes avance. Isso, no entanto, ainda não está dado, já que as reformas dependem do Congresso, e o mercurial titular da Economia ainda não acertou de fato o passo com os parlamentares — basta ver sua hesitação em referendar a essencial Reforma Tributária. É muita dependência, o que fragiliza Bolsonaro e pode abrir seu flanco para nomes mais moderados. Ainda há muito tempo para que seja definido o panorama das próximas eleições presidenciais, mas a figura chave cada vez mais parece ter queimado a largada.

Ainda há muito tempo para que seja definido o panorama das próximas eleições presidenciais, mas Bolsonaro cada vez mais parece ter queimado a largada.

IstoÉ