Bolsonaro tenta minimizar poder de Lula

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Foto: REUTERS/Rodolfo Buhrer

Em entrevista ao programa Poder em Foco, parceria editorial entre o jornal digital Poder360 e o SBT, que foi ao ar em 23 de dezembro, o presidente Jair Bolsonaro minimizou as chances de influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas próximas eleições.

“Ele não é cabo eleitoral para mais ninguém”, disse o presidente ao jornalista Fernando Rodrigues. “Acredito que o Lula já é uma carta fora do baralho”, completou Bolsonaro. A entrevista foi gravada no dia 16 de dezembro.

Bolsonaro cumpre seu papel ao desprezar a possibilidade de influência do petista. O que não se pode é tomar esse vaticínio por uma indicação do cenário real. Pesquisa do Datafolha publicada no domingo (5.jan.2020) indica algo bem diferente disso.

O Datafolha pediu aos entrevistados que atribuíssem notas de 0 a 10 quanto à confiabilidade de 12 personalidades políticas. Conceitos até 5 indicam baixa confiabilidade. De 6 a 8, média. E para 9 e 10, alta.

O melhor desempenho foi o do ministro Sergio Moro (Justiça), com 33% dos entrevistados atribuindo-lhe notas altas, 23% médias e 42% baixas. Lula vem em seguida, com 30% altas, 16% médias e 53% baixas. Depois Bolsonaro: 22% altas, 22% médias e 55% baixas. O apresentador Luciano Huck é o 4º: 21% altas, 22% médias e 55% baixas. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Moro ficou em 1º lugar, o que foi a principal conclusão anunciada com a pesquisa. Não causa surpresa diante da reputação que o ministro conquistou quando era juiz da operação Lava Jato. Em fevereiro de 2016, pesquisa semelhante mostrou que 14% dos entrevistados atribuíram notas altas a Moro. Portanto, a confiabilidade dele mais do que dobrou.

Inesperado é o fato de Lula ainda manter o 2º melhor índice de confiabilidade. Ele supera Bolsonaro tanto nas notas altas quando na soma das altas e médias. E tem menos notas baixas do que o atual presidente –na margem de erro, há empate.

Considerando todo o desgaste que houve com suas condenações na Justiça e com o fato de ter ficado preso de abril de 2018 a novembro de 2019, é 1 capital político considerável. Em relação à pesquisa anterior, aliás, houve grande avanço: eram 20% os que lhe atribuíram notas altas. No caso de Bolsonaro, é impossível checar a evolução: o nome dele não estava na pesquisa de 2016.

A soma dos entrevistados que deram notas altas e médias a Lula (46%) é semelhante a dos que votaram em Fernando Haddad no 2º turno em 2018: 45%. Isso mostra que não houve grande perda de capital político e que Lula está longe de ser “carta fora do baralho” como influenciador eleitoral.

É algo que poderá fazer diferença em campanhas para prefeituras que tomem contornos mais ideológicos, o que tende a ser o caso do confronto em algumas capitais. Na maioria das disputas, devem ter maior influência problemas administrativos e a capacidade de cada candidato de resolvê-los.

Os números mostram também que não houve ganho em relação aos votos conquistados pelo PT em 2018. Para vencer o pleito de 2022, será preciso ampliar bastante o apoio, desafio longe de ser trivial. Sobretudo diante da perspectiva de intensificação do crescimento econômico neste ano e no próximo.

O fato de Bolsonaro ter 55% de notas baixas também lhe impõe preocupações. Isso é 10 pontos percentuais acima do eleitorado de Haddad em 2018. Pode significar várias coisas. Por exemplo, que algumas pessoas confiam pouco no presidente, mas ainda assim mais do que em qualquer petista.

Também pode indicar que Bolsonaro perdeu confiabilidade durante o exercício do cargo. Algumas das posições que ele tem na área de costumes e de meio ambiente, por exemplo, agradam muito a poucas pessoas e desagradam 1 pouco a muitas outras. É uma estratégia eficiente para manter o eleitorado mais fiel. Mas não para ser reeleito. Talvez esse comportamento tenha de ser revisto antes de 2022.

Poder 360