Erros policiais fazem mortes “por engano” explodirem

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Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo

Ao menos 12 casos de mortes cometidas pela polícia do Rio de Janeiro, em um mês, apresentados como “confronto com bandidos”, têm indícios graves de que inocentes foram mortos por engano, segundo um levantamento feito por ÉPOCA. A reportagem analisou todas as informações disponíveis sobre as 195 “mortes por intervenção de agentes do Estado” ocorridas em julho de 2019 — o mês mais letal do ano mais letal da polícia mais letal do Brasil em mais de duas décadas. Seis meses depois, nenhum policial foi denunciado à Justiça.

Há casos com fortes indícios de erro policial, em que, ao que tudo indica, as forças de segurança mascararam a realidade para não responder pela morte de inocentes. Um dos homicídios sob investigação é o do frentista Daniel Rangel de Souza, de 20 anos, na madrugada de 28 de julho. Ele foi vítima de cinco tiros disparados por PMs do Bope, em Niterói. Quando foi baleado, o jovem carregava uma mochila com seu uniforme de trabalho, crachá, certificado de reservista, carteira de trabalho e celular. Tudo sumiu quando o rapaz foi deixado no Hospital Antônio Pedro, e até hoje nada foi encontrado.

Quatro horas antes de ser morto, Souza terminou sua jornada de trabalho num posto de gasolina na Zona Oeste do Rio. Por volta das 23 horas, deixou o local num carro da empresa, que levava para casa funcionários que moravam em Niterói, a 40 quilômetros dali. Antes de tomar a direção de casa, encontrou-se com amigos, num dos acessos ao Morro do Estado. Os policiais chegaram e houve correria. Souza foi atingido por cinco tiros pelas costas. Às 6 horas do dia seguinte, o perfil oficial da Polícia Militar no Twitter acusou o frentista de ter atacado os agentes: “Equipes do Bope realizaram uma operação no Morro do Estado, em Niterói, e apreenderam uma pistola .9mm. Um criminoso morreu após atirar contra os policiais”. A postagem teve mais de 400 respostas — a maioria de amigos de Souza dizendo que ele era inocente.

Ao todo, 151 inquéritos foram abertos para investigar as 195 mortes provocadas pela polícia em julho do ano passado (uma investigação pode apurar mais de um homicídio). Onze deles já foram arquivados: a Polícia Civil concluiu que a versão apresentada pelos agentes é coerente, e a Justiça encerrou as investigações a pedido do Ministério Público. A maioria dos casos segue aberta: 121 inquéritos, ou 80%, estão em andamento. Dados de 19 inquéritos não foram encontrados.

A partir de informações das investigações, a ÉPOCA conseguiu determinar as circunstâncias em que 135 das 195 vítimas foram mortas. Em 88% dos casos, as mortes aconteceram durante operações da polícia em favelas. Também houve casos em que os policiais realizavam ações de patrulhamento rotineiro e testemunharam roubos, e ainda ocasiões em que os criminosos foram mortos quando tentaram assaltar policiais de folga.

Época