Evo Morales indica candidato à presidência

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Foto: AFP

O ex-ministro da Economia, Luis Arce, foi o escolhido por Evo Morales para ser o seu sucessor como presidente enquanto o ex-chanceler, David Choquehuanca, foi o escolhido para vice pelo Movimento Ao Socialismo (MAS) nas próximas eleições gerais. “O candidato a presidente é o companheiro Luis Arce Catacora e a vice-presidente é o irmão David Choquehuanca”, anunciou Morales ao final da convenção num hotel no centro de Buenos Aires sem, no entanto, ter os dois escolhidos ao seu lado.

Evo Morales explicou que, com a dupla, procura “uma combinação entre companheiros da cidade e companheiros do campo”. O conflito entre campo e cidade resume a divisão na Bolívia: camponeses indígenas, alinhados com Morales, e cidadãos urbanos, contrários. O país em duas metades: pobres (indígenas) contra ricos (cidades).

“Precisamos de aliados da cidade, do campo, outros intelectuais com conhecimento científico do nosso tempo”, explicou em referência a Luis Arce, um técnico, e a David Choquehuanca, um líder nos movimentos sociais, sindicais e indígenas.

Luis Arce, de 56 anos, é o ex-ministro da Economia de Evo Morales. É o responsável pela estabilidade da economia boliviana que teve forte crescimento com superávit fiscal e comercial até 2014, graças ao elevados preços das matérias primas, principalmente o gás.

Com Luis Arce como candidato a presidente, Morales tenta recuperar o eleitorado perdido de classe média e tenta dar um sinal de pragmatismo e de moderação ao mercado.

Com o candidato a vice-presidente de 58 anos, David Choquehuanca, Evo Morales procura a coesão dos movimentos indígenas e sindicais, origem de Choquehuanca, quem foi o chanceler de Morales entre 2006 e 2017. “É uma boa dupla do ponto de vista eleitoral porque Luis Arce apela à classe média, setor que Evo Morales perdeu nos últimos tempos. Essa é uma escolha para recuperar esse setor.

David Choquehuanca vai representar a base indígena do MAS”, explica à RFI o analista político boliviano, Raúl Peñaranda. “É uma dupla que funciona para os atuais desafios do partido de união e de ampliação da sua base eleitoral”, acrescenta.

Previamente ao anúncio dos candidatos escolhidos, os principais referentes do partido assinaram um “acordo pela unidade e pelo fortalecimento” do MAS, um instrumento para evitar que os rumores de ruptura interna no partido tornem-se realidade.

“O MAS está hoje dividido entre aqueles que, com a ausência de Evo Morales da Bolívia, começaram a ter voz no partido. Alguns são mais moderados e pragmáticos. Entendem que a situação na Bolívia mudou. Já outros têm uma posição mais radical, mais próxima de Morales”, avalia Peñaranda. “A divisão pode ser entre moderados e radicais ou entre mais distantes mais próximos de Evo Morales”, sintetiza.

Na semana passada, o Pacto de Unidade, uma aliança de movimentos sociais, sindicais e indígenas escolheu como candidatos do partido para presidente David Choquehuanca e, para vice, o jovem Andrónico Rodríguez, de 30 anos. Evo Morales justificou ter retirado da chapa o jovem líder do cultivo de coca, Andrónico Rodríguez, considerado o herdeiro de Morales e quem lidera as sondagens de intenção de voto, como uma estratégia em nome de um projeto político. “É verdade que liderava as sondagens, mas, às vezes, temos de saber sacrificar-nos por um projeto político. Claro que dói”, desculpou-se Evo Morales.

“Evo demonstrou que é quem toma as decisões finais. Demonstrou que a sua liderança não está em dúvida”, observa Peñaranda. “Não me abandonem”, pediu Morales ao auditório com cerca de 50 dirigentes do MAS e integrantes da numerosa comunidade boliviana na Argentina. Falta ver como o partido vai reagir em La Paz com aqueles que não quiseram vir à reunião. São setores que respondem à presidente do Senado, Eva Copa, e ao presidente da Câmara de Deputados, Sergio Choque, os que mais distanciaram-se de Morales.

“A esses setores o partido deve oferecer vagas para deputados e para senadores para mantê-los, de alguma maneira, satisfeitos com este acordo. Há espaços para repartir cargos no Legislativo nas próximas eleições”, aponta Raúl Peñaranda.

A Bolívia terá primeiro turno em 3 de maio, em substituição das anuladas eleições de 20 de novembro passado, marcada por denúncias de fraude que levaram a três semanas de protestos, greves, uma rebelião policial e a perda de apoio dos sindicatos, da Igreja e das Forças Armadas.

Nas sondagens preliminares, a intenção de voto no MAS ronda os 23% enquanto o voto contra Evo Morales soma 47%, mas dispersos em vários candidatos que se uniriam num segundo turno marcado para 14 de junho. “Vamos ganhar no primeiro turno”, profetizou Morales, ciente das dificuldades de superar um segundo turno.”Provavelmente, Morales perca no segundo turno, mas o MAS terá uma bancada numerosa”, prevê Raúl Peñaranda.

RFI