Investimento em combate ao racismo caiu 86% sob Bolsonaro

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução

O ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH), comandado por Damares Alves, foi palco de uma festa inspirada no tema “princesa” para a jovem Ana Luísa, de 9 anos, que foi vítima de racismo em Anápolis (GO) e cujo caso viralizou na internet.

Mas, apesar dos discursos inflamados da ministra afirmando que o racismo é “pecado” e que os racistas vão “para o inferno”, a realidade é que, sob sua gestão, os gastos da pasta para reduzir os casos de discriminação racial no Brasil caíram 86% em um ano.

Os dados são de um levantamento feito pelo GLOBO com base no Siga Brasil, que reúne informações do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi).

De acordo com o levantamento, o MMFDH gastou R$ 2,8 milhões em 2019 com o programa de Promoção da Igualdade Racial e Superação do Racismo. Em 2018, o Ministério dos Direitos Humanos (antigo nome da pasta comandada por Damares), gastou R$ 20,8 milhões referentes a recursos do mesmo programa.

A redução nos gastos atingiu ações como o suporte do governo federal ao fortalecimento de órgãos estaduais de combate ao racismo e a formulação de políticas de ação afirmativa que beneficiem minorias.

A queda nos gastos não é resultante apenas da redução do orçamento do programa entre um ano e outro.

Em 2018, o orçamento do ministério para essas ações foi de R$ 32 milhões, enquanto em 2019, a verba disponível foi de R$ 11,7 milhões, uma queda de 63%.

Além da redução nominal, o que chamou atenção entre um ano e outro foi a disposição do ministério em gastar os recursos que tinha à disposição.

Em 2018, por exemplo, o ministério gastou 62% da verba a que tinha direito para o combate ao racismo. Em 2019, usou apenas 24% do orçamento disponível.

Até o fechamento desta reportagem, o MMFDH ainda não havia respondido às questões enviadas sobre o assunto.

O caso de Ana Luísa Cardoso Silva ficou famoso após sua mãe fazer um relato na internet sobre o dia em que sua filha brincava de princesa com amigos de sua vizinhança, em Anápolis (GO), e uma mulher lhe disse que ela não poderia brincar porque não haveria princesas negras.

Damares disse ter ficado comovida com a história e decidiu dar uma festa para a menina com inspiração nessa temática. Os custos da celebração, segundo o MMFDH, foram pagos por servidores da pasta e voluntários.

A antessala do auditório do ministério foi transformada em um salão de festas com direito a brigadeiros, salgadinhos e arranjos como se fosse estivessem celebrando um aniversário.

Ana Luísa, que estava acompanhada de seus pais e irmãos, entrou no auditório ao lado de um cadete do Corpo de Bombeiros fardado e que fazia as vezes de príncipe.

Duas mulheres que se apresentaram como funcionárias do gabinete de Damares, Vivian Ferreira e Keisy Guimarães, usavam vestidos de baile longos, maquiagem e uma coroa de plástico na cabeça.

— Todas somos princesas e viemos aqui prestigiar a Ana Luísa, nessa festa organizada pela ministra. Não queremos que esse tipo de caso se repita — disse Keisy Guimarães.

Antes dos discursos dos convidados, Damares pegou o microfone e, tentando aproveitar o tema “contos de fadas”, atacou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), ainda que sem citar o seu nome.

— Tinha uma bruxa… e uma fada pegou uma varinha mágica e fez: impeachment! — disse, arrancando aplausos da plateia. Dilma foi afastada do poder por um impeachment em 2016.

O secretário nacional dos direitos da criança e do adolescente, Maurício Cunha, disse que a cerimônia para Ana Luísa era uma forma de “reparar” os danos causados pelo racismo praticado contra a criança.

— Estamos vivendo hoje aqui, simbolicamente, a reparação deste dano. Estamos aqui para dizer que os bruxos e bruxas que atentam contra os direitos das nossas crianças e adolescentes não serão mais tolerados — afirmou.

Em outro momento da cerimônia, Damares, falando como pastora evangélica, mudou o tom e disse que racistas vão para o “inferno”.

— Deixa eu falar como pastora também. (Racista) vai pro inferno. Não vai só pra cadeia, não. Vai pro inferno. Racismo é pecado – disse a ministra.

Indagada, Ana Luísa se mostrou feliz com a festa dada pela ministra e com a repercussão que o caso teve.

— Eu estou muito feliz, agora. Eu torço pra que o que aconteceu comigo não aconteça de novo com mais ninguém — disse a menina.

O Globo