Mistérios do caso Porta dos Fundos

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Foto: Reprodução

O ataque à sede da produtora de vídeos Porta dos Fundos, ocorrido na véspera de Natal, completa dez dias neste fim de semana. O prédio da empresa, localizado no Humaitá, Zona Sul do Rio, sofreu um atentado após a repercussão do especial de fim de ano “A tentatação de Cristo”, no qual Jesus Cristo é retratado como homossexual.

Em pouco mais de uma semana de investigação, a Polícia Civil do Rio identificou um suspeito de integrar o grupo de cinco pessoas que incendiaram o prédio da empresa com coquetéis molotov. Agora, a corporação tenta prender o foragido e segue em busca de possíveis comparsas.

Além da identidade e do papel de cada um dos envolvidos na ação, restam outras dúvidas a serem esclarecidas, como a eventual associação deles a um grupo de pessoas mais numeroso e a possível existência de episódios anteriores em que eles possam ter se envolvido. Confira abaixo quais informações já foram apuradas e o que ainda falta ser descoberto.

O que já se sabe:
Quantas pessoas teriam participado do ataque?

A polícia acredita que cinco pessoas estiveram envolvidas diretamente na ação. Elas estavam a bordo de um carro que foi registrado por câmeras de segurança na rua da sede da produtora e em outros bairros do Rio, como Botafogo.

Quem são os suspeitos já identificados?

Apenas o economista e empresário Eduardo Fauzi Richard Cerquise, de 41 anos, foi identificado até o momento. Ele atuava como guardador de carros no Rio. Em uma das imagens de câmeras de segurança recolhidas pela polícia, é possível vê-lo desembarcando e retirando uma fita que escondia o número da placa do automóvel utilizado no ataque. Os investigadores afirmam que Fauzi foi responsável por dirigir o veículo e filmar a ação e, por isso, pediram um mandado de prisão contra ele. Fauzi, no entanto, não foi encontrado.

Qual foi o resultado da operação policial contra o suspeito?

Agentes da Polícia Civil fizeram busca e apreensão em quatro endereços ligados a Fauzi na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, no Engenho Novo, na Zona Norte, e no Centro da Cidade. Foram apreendidos R$ 119 mil em dinheiro, uma arma falsa, munição, camisa de entidade filosófico-política e quatro computadores.

Onde está Eduardo Fauzi?

A polícia confirmou na quinta-feira que Fauzi embarcou para Moscou, capital da Rússia, em 29 de dezembro, um dia antes de o mandado de prisão contra ele ser expedido. O suspeito só passou a ser considerado foragido no dia seguinte à viagem.

Quais eram as pistas sobre a localização do foragido?

Fauzi teria dito a amigos por meio de um aplicativo de mensagens instântaneas que estava em Florianópolis. Por isso, a polícia do Rio havia resolvido pedir auxílio da corporação em Santa Catarina. No entanto, com a confirmação de que, na verdade, ele está na Rússia, a pista se provou falsa. O Portal dos Procurados do Disque Denúncia chegou a divulgar um cartaz com o rosto de Fauzi e uma oferta de recompensa de R$ 2 mil por informações sobre o padeiro dele.

Como Fauzi saiu do Brasil?

Ele embarcou no Aeroporto Internacional do Galeão, na Zona Norte do Rio. Chegou ao local em um táxi e se dirigiu à área de embarque, onde passou pelo dectector de metais e seguiu até o avião enquanto falava em um celular. O percurso do suspeito no local foi registrado por câmeras de vigilância.

Quais motivos podem ter levado o suspeito a optar pela Rússia como destino?

Fauzi tem laços familiares na capital russa: uma dançarina russo-israelense, de 30 anos, com a qual ele se relaciona mora na cidade junto com o filho do casal, de três anos. Segundo a polícia, ele esteve três vezes no país em 2019. Uma delas foi em abril, durante o aniversário da criança.

Há chance de Fauzi ser preso no exterior?

A Polícia Civil já solicitou a inclusão do nome dele na lista de procurados pela Interpol. Se Fauzi for preso na Rússia, a polícia irá pedir sua extradição para o Brasil.

O que ainda falta descobrir:
Quem eram as outras quatro pessoas envolvidas no ataque?

A polícia já investiga outros quatro suspeitos além de Fauzi. Eles tiveram o sigilo de dados telemáticos quebrados por decisão judicial e as mensagens que enviaram por meio de redes sociais e e-mails estão sob análise.

Qual foi o papel de Fauzi na ação?

Ainda não se sabe se o suspeito foi responsável por liderar o ataque ou se houve outra pessoa responsável por comandar a execução.

Quais crimes serão imputados aos autores do ataque?

No decorrer dos trabalhos, a polícia investiga os crimes de explosão, tentativa de homicídio, associação e organização criminosa. Na semana passada, o secretário da Polícia Civil, Marcus Vinícius Braga, informou que o crime de terrorismo foi descartado.

Os autores do grupo estavam associados a um grupo ou movimento expressivo?

Em vídeo no qual assumem a responsabilidade pelo ataque, supostos autores disseram fazer parte de um grupo chamado “Comando Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira”. A Frente Integralista Brasileira, vertente mais expressiva do integralismo hoje, negou envolvimento com o caso e resolveu expulsar Fauzi de seus quadros na ultima terça-feira. Outra organização da qual o empresário fazia parte, chamada Accale, também divulgou nota afirmando que, apesar de discordar do especial de Natal do Porta dos Fundos, não faria “algo criminoso”.

O grupo já havia atuado em outros episódios anteriores ao do Porta dos Fundos?

Em dezembro de 2018, um grupo que se autodenominou da mesma maneira asssumiu em um vídeo ter retirado de um campus da Unirio bandeiras com dizeres contrários ao facismo e as queimado em seguida. Não há, por enquanto, ligação comprovada entre esse episódio e Eduardo Fauzi.

O Globo