O que Regina Duarte pensa sobre Cultura?

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Foto: Jorge William/Agência O Globo

Regina Duarte diz que ainda está “noivando” com o presidente Jair Bolsonaro até definir se aceitará ou não o cargo de Secretária Especial da Cultura. Porém, declarações recentes da atriz sobre a política cultural no Brasil podem dar uma ideia de como será pautada sua futura gestão.

A atriz já se mostrou crítica à Lei Rouanet, defendeu uma intervenção mínima do estado na cultura e se opôs às trocas feitas por Roberto Alvim nas principais instituições culturais do país. Para não se perder na complexidade do tema, ela chegou a usar uma “cola” com anotações sobre o assunto em um entrevista recente.

Confira o que Regina já disse sobre a política cultural no Brasil:

Em uma entrevista dada ao “Programa do Bial” em maio de 2019, Regina Duarte mostrou grande preocupação com o tema e chegou a usar uma “cola” com anotações sobre o que deveria falar sobre o assunto. Questionada pelo apresentador sobre a lei de incentivo, ela criticou seu atual modelo e disse que o mecanismo não deveria beneficiar famosos e sim novos talentos.

— Com relação a Lei Rouanet, transparência é indispensável no uso do dinheiro público. Acho que o governo que usa o dinheiro da população deveria apoiar os que estão iniciando, a cultura regional, de acordo com uma legislação própria — disse consultando sua “cola” o tempo todo.

Vale lembrar que Regina já atuou em produções que fizeram uso da Lei Rouanet, como em 2018, no espetáculo “O leão no inverno”, com ela, Leopoldo Pacheco e outros no elenco.

Também na entrevista a Bial, a atriz defendeu uma visão liberal da relação do estado com cultura. Ela defendeu novos modelos de financiamento que operem diretamente entre patrocinadores e artistas — ao contrário da Lei Rouanet, baseada no modelo de dedução fiscal. Ela não detalhou porém qual seria o papel do estado nesse projeto e como ele estimularia os investimentos nos projetos culturais.

— Tenho encontrado pessoas modernas que defendem uma proposta muito interessante; um modelo de financiamento coletivo em plataformas digitais que captem com pessoas físicas e jurídicas de todo o país os recursos para a produção de eventos culturais com todas as contrapartidas, prestações contas previstas no contrato. Seria uma relação de âmbito privado. O produtor recebe, e presta contas às empresas diretamente. Tudo feito diretamente sem intervenção do estado. O povo deseja e precisa de um estado menor. Menos coisa pro estado tomar conta — afirmou Regina.

A atriz também defendeu o corte de verbas na área da cultura. Em entrevista ao “Notícias da TV”, ela culpou “administrações anteriores” pela atual crise financeira e defendeu a necessidade de um “aperto de cinto”.

— O momento agora é de sanar o problema, controlar os gastos. Quem não entender está sendo muito egoísta nas suas ambições. Eu acredito e confio no nosso presidente e tenho certeza de que daqui a pouco o Brasil vai se equilibrar, e as coisas vão melhorar — disse Regina ao site.

A cruzada ideológica promovida por Roberto Alvim nas principais instituições de cultura do Brasil não agradou a Regina Duarte. Quando a então presidente da Biblioteca Nacional, Helena Severo, foi exonerada, a atriz publicou numa rede social que havia levado um “susto” e sempre teve “grande respeito” por Severo.

— Não sei se as pessoas da equipe escolhida para o secretariado são pessoas experientes, com suficiente vivência de gestão pública — escreveu a atriz. — Espero que tenham sido escolhidas por critérios mais nobres do que o alinhamento ideológico. Disso já tivemos o bastante.

Em outra publicação, em que compartilhou a entrevista dada por Helena Severo ao GLOBO na ocasião de sua demissão, Regina lamentou o episódio.

— Que coisa mais triste, a ARTE em toda a sua grandeza submetida aos ditames da política do “toma-lá-dá-cá” ideológico que ameaça pairar acima da obra artística, aquela que deveria ser intocável …. não ?!

Ainda durante a campanha de 2018, quando anunciou seu apoio ao então candidato Jair Bolsonaro, Regina defendeu a liberdade de expressão e afirmou que a arte deve ser livre. Ela afirmou que cabe ao público decidir o que é ou não arte, e que o governo não deve determinar o que as pessoas podem consumir.

— O que eu espero do novo governo: liberdade de expressão. Outra coisa que eu espero do governo: censura nunca mais. A arte tem que ser livre. Quem tem que aprovar, elogiar, prestigiar, recusar, falar mal, criticar, detonar, é o publico. Não se pode deixar tudo na mão do governo. A sociedade tem o direito, deve participar — disse Regina — Reprimir criação artística é coisa de ditadura.

Em uma entrevista dada ao ator Carlos Vereza, no programa “Plano sequência”, da TV Escola, ela defendeu a existência de uma separação entre arte e ideologia. Regina disse ainda que deve haver respeito a pluralidade de visões sobre o mundo.

— Se eu não gosto do seu, eu não vou te reprimir. Por que eu vou te reprimir? Deixa você exercer a sua liberdade de ser quem você é, pensar como você quiser. A arte serve para nos ensinar a ser justos com o humano, sem repressões, sem partidarismo, sem ideologia. Arte não tem ideologia, arte não pode ter ideologia.

Na mesma entrevista, ela lamentou a atual polarização da sociedade e como ela vem atuando sobre a cultura brasileira.

— É um quebra-cabeças complicadíssimo a cultura no Brasil. É um país imenso, com expressões culturais muito variadas, com muitas dificuldades. No momento, a mais terrível, que é essa desunião, essa polarização, inspirada por questionamentos partidários, políticos. O que isso tem a ver com a gente? — indagou Regina.

O Globo