Presidente do BC justifica fuga de investimentos

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Foto: Leonardo Rodrigues/Valor

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira que a saída de investidores estrangeiros do mercado brasileiro não se deve a uma percepção negativa sobre o país, mas um efeito migratório devido a juros baixos por aqui e migração em outras oportunidades, como na Ásia.

“Conversando com estrangeiros em um evento que participei recentemente, muito concentrado em equities (ações), há uma clara percepção de que a saída do estrangeiro não é porque ele não gosta de Brasil ou está pessimista com o país”, disse em evento da XP Investimentos, em São Paulo.

Ele explicou que o movimento se deve a um “efeito migratório”, tendo em vista a queda de juros e outras oportunidades melhores, como na Ásia. No entanto, Campos Neto afirmou que “se a gente fizer o dever de casa, o estrangeiro vai voltar”. Ele diz que não haverá uma saída do investidor institucional, por exemplo, e isso gera uma perspectiva melhor.

Segundo ele, o mercado está comprando ações de países que têm crescimento mais alto. “O mercado está comprando crescimento. Países que têm crescimento mais alto têm maior entrada de fluxo”. Inclusive, o presidente do BC reiterou que o prêmio de risco do Brasil mostra que o país tem precificação que mereceria um duplo upgrade no rating, ou até mais. “Isso mostra melhora de credibilidade”, acrescentou.

Ele destacou, ainda, que o câmbio está mais depreciado, mas não num movimento tão intenso. Além disso, diferentemente de outras épocas, a depreciação veio acompanhada de queda do prêmio de risco e alta da bolsa. Ou seja, não se trata de uma piora de perspectivas.

Diante de uma plateia de nomes conhecidos do mercado financeiro, Campos Neto reiterou que o efeito da alta nos preços de proteína veio mais rápido e mais intenso que o esperado, mas a leitura é que o impacto também “se dissipará mais rápido”. Os comentários reforçam os apontamentos feitos ontem em entrevista exclusiva ao Valor.

O presidente do BC afirmou que a inflação projetada no mercado de juros – a chamada inflação implícita – que tem operado em níveis baixos, não incomoda. Mas isso não quer dizer que a autoridade monetária não esteja mirando a meta de inflação.

Em algumas métricas, a inflação implícita gira em torno de 3,5%, bem abaixo da meta de 4% em 2020. O presidente do BC disse que o mandato de metas de inflação não mudou, ou seja, o foco segue na condução dos índices de preços.

Na sessão de perguntas e respostas, o dirigente buscou esclarecer dúvidas sobre a potência da política monetária. Ele disse que o BC tomou várias medidas que tem efeito defasado, o que gera mudança “razoável” no canal de transmissão e melhora do canal de crédito.

“Mesmo uma política monetária que tem sistema entupido tem defasagem. A gente tenta quantificar e modelar esse lag (atraso)”, disse. “Quando você toma medidas que troca encanamento e aumenta a pressão [da política monetária], passa por cima do lag e tem fatores novos”, acrescentou.

Fatores novos são um terreno não navegado e alguns entram mais imediatamente e outros têm efeito mais prolongando, apontou. Ao acrescentar esses fatores, a política monetária fica mais potente, mas a defasagem é desconhecida, explicou Campos Neto.

Ao ser questionado sobre a relação entre repasse cambial e hiato do produto, Campos Neto disse que existe outra dimensão a ser levada em consideração: o prêmio de risco. De acordo com o dirigente, o mesmo hiato gera repasse diferente, dependendo do prêmio de risco.

“Tivemos uma melhora da percepção de risco”, apontou o dirigente, ao acrescentar que o movimento se apoiou na disciplina fiscal. “Repasse ocorre em função do hiato e cada vez mais do prêmio de risco”, acrescentou.

Na avaliação do dirigente, o prêmio de risco está entrando em dimensão diferenciada. “O Brasil tem ganhado com esse benefício da dúvida dos agentes”, explicou. “O prêmio de risco fez o repasse mudar. Entendemos que parte de risco tem relevância grande”.

Sobre o hiato, ele afirmou que o BC não faz projeção dessa métrica, mas “acreditamos que existe espaço de hiato relativamente grande […] e a taxa de juros está estimulativa”.

Valor Econômico