Qualidade da água do Rio Paraopeba piora

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Foto: Geraldo Goulart Neto

Atingido por rejeitos da barragem da mina Córrego do Feijão, o Rio Paraopeba está hoje pior do que estava logo após o desmoronamento, que deixou 270 mortos, 11 deles ainda desaparecidos. A conclusão é da Fundação SOS Mata Atlântica, que monitora o rio e fez sua última expedição entre os dias 8 e 17 de janeiro. A análise foi feita em 21 pontos situados ao longo de 356 km do leito do rio, entre os municípios mineiros de Brumadinho e Felixlândia.

Segundo Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica, o rio continua impróprio e sem condição de vida e, em função das chuvas volumosas na região, metais pesados foram levados a pontos mais distantes do local da tragédia. A tragédia completa um ano no próximo sábado, dia 25.

— A situação do rio piorou. Com as chuvas, os rejeitos mais finos e os solúveis alcançaram áreas mais distantes de Brumadinho – explica Malu.

Em nove dos 21 pontos monitorados pela expedição, a qualidade da água do rio passou de ruim para péssima. Em cinco pontos a situação ficou inalterada e em seis a condição passou de péssima para ruim — uma ligeira melhora. Em um único ponto, na margem esquerda do Reservatório de Retiro Baixo, o índice saiu de ruim para regular. O reservatório serve como contenção para os rejeitos da barragem da Vale, impedindo que atinjam a represa da usina de Três Marias, no Alto São Francisco.

Entre os locais que pioraram estão, por exemplo, o trecho do rio na área urbana do município de Juatuba e na altura do Condomínio Recanto das Águas, na cidade de Pompéu.

Em Brumadinho, onde ficava a mina, a Vale construiu uma estação de tratamento da água que chega ao Paraopeba, mas Malu avalia que o resultado ainda é muito pequeno. A presença de poluentes e metais pesados, segundo a coleta de água feita durante a expedição, segue a níveis muito acima dos permitidos pela legislação. O nível do ferro, por exemplo, está 15 vezes superior ao tolerável por lei. O de cobre, 44 vezes. O de sulfeto corresponde a 211 vezes.

— Na média, a presença do sulfeto aumentou muito. Em muitos casos, isso acaba até com a condição de vida de bactérias que, antes, ajudavam na recuperação da qualidade da água. Acaba com a capacidade de o próprio rio se recuperar – avalia Malu.

Segundo Malu, os trabalhos da Vale ainda estão concentrados em Brumadinho, na chamada zona quente da tragédia, e as comunidades ribeirinhas dos demais municípios se queixam de falta de informações. Essas comunidades seguem recebendo água de caminhões-pipa para uso nas casas e consumo animal e garrafas de água mineral para consumo humano.

Todo adulto que mora até 1 km da margem do Rio Paraopeba, ao longo de toda a extensão atingida, recebe mensalmente uma indenização correspondente a um salário mínimo. Adolescentes recebem metade do salário mínimo e crianças, um quarto. O pagamento deve prosseguir até novembro deste ano.

A estação de tratamento de água feita pela Vale em Brumadinho, já pronta, reduziu a turbidez da água, mas Malu argumenta que ela serve principalmente para conter o barro, não para retirada de metais pesados. O rio mantém a coloração avermelhada que surgiu depois da tragédia, basicamente pela presença de ferro dos rejeitos da mina, onde a Vale explorava minério de ferro.

O rio foi cercado pela Vale e segue interditado para qualquer tipo de atividade. Dos 510 km do rio Paraopeba, 356 quilômetros estão sem condição de uso.

— Há uma contribuição das intervenções da Vale, mas o resultado é muito pequeno e ainda restrito à área da tragédia, em Brumadinho – diz Malu

Na avaliação da SOS Mata Atlântica, que atua em parceria com o Laboratório de Análises Ambientais da Universidade de São Caetano do Sul, o rio ainda apresenta “pouca condição de regeneração”, devido às movimentações de terra na região da antiga mina, pela manutenção de rejeitos na calha e pelas condições climáticas, já que este ano as chuvas aumentaram.

A expedição alcançou 356 km desde o Córrego Ferro-Carvão, no Córrego Feijão, onde ficava a mina da Vale, até o município de Felixlândia, na formação do lago da usina hidrelétrica Três Marias, no Alto São Francisco. Também participaram voluntários do programa Observando os Rios de Minas Gerais.

Em Brumadinho é intensa a movimentação de máquinas, obras de reconstrução de estradas e pontes de acesso a áreas bloqueadas pelos rejeitos da mina. Para a Fundação SOS Mata, o ambiente ainda é bastante hostil e desolador, com propriedades desocupadas e atividades econômicas encerradas.

O Globo