Regina Duarte é derrota da extrema-direita

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Foto: Sergio Lima/AFP

A marca foi o improviso, mas dois movimentos de Jair Bolsonaro na semana passada resultaram em derrotas e, quem sabe, numa redução de espaços da chamada ala ideológica do governo. O principal deles foi uma intervenção na área ambiental, com a indicação do vice-presidente Hamilton Mourão para comandar o recém-criado Conselho da Amazônia.

Mourão, que foi comandante militar na Amazônia, está longe de ser um ambientalista, mas tem posições mais palatáveis aos olhos dos investidores do que o ministro Ricardo Salles. O titular do Meio Ambiente está desgastado e agora balança no cargo.

A motivação de Bolsonaro tampouco foi baseada em qualquer preocupação com o desmatamento ou as queimadas na região. Ele agiu depois de alertado que o ministro Paulo Guedes chegaria ao Fórum Econômico Mundial, em Davos — que este ano teve o meio ambiente como tema principal —, sob enorme pressão de investidores e governos de todo o mundo. Precisava apresentar uma medida concreta, ainda que sem metas nem prazos de ação.

A consequência política é que Mourão, desafeto de Olavo de Carvalho e dos filhos do presidente, sai do ostracismo e volta a ter alguma visibilidade no governo. Já rifado como vice na chapa à reeleição, em 2022, sem dúvida aproveitará cada minuto para ganhar protagonismo.

Interino na Presidência com a viagem de Bolsonaro à Índia, ele deu, na última sexta-feira, por exemplo, entrevistas e declarações sobre os mais variados assuntos. Reuniu-se com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, que vive uma crise com o chefe, e não saiu dos holofotes.

O segundo movimento de Bolsonaro também não foi planejado, mas uma resposta à crise que derrubou Roberto Alvim, depois de um vídeo em que parafraseou o nazista Joseph Goebbels. O convite à atriz Regina Duarte também é uma estocada na ala radical, que prega o combate ao “marxismo cultural” — embora, até agora, não se saiba de seus planos caso aceite mesmo ocupar o cargo. Acima de tudo, Bolsonaro mirou na popularidade da atriz global, há 60 anos nas telas de todos os lares.

Ainda que não tenha tido a intenção de fazer uma inflexão ideológica no governo, o presidente parece estar diante de um fato consumado — ver esses dois personagens atuando no cenário brasiliense sem ter controle total de suas ações. Até porque não poderá se livrar facilmente de suas novas escolhas. O vice Mourão foi eleito com ele e tem mandato. E quem terá coragem de demitir a “namoradinha do Brasil”?

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