Bolsomínions querem lançar príncipe fajuto a prefeito de SP

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Foto: Reprodução

O recente namoro engatado entre Jair Bolsonaro e Paulo Skaf, presidente da Fiesp, deve encontrar resistência de aliados por trás dos acenos públicos de apoio de olhos nas eleições municipais de 2020. A mais explícita foi revelada na noite do último sábado durante uma palestra da deputada Carla Zambelli (PSL-SP) a uma plateia de apoiadores e lideranças bolsonaristas em um hotel na Zona Norte de São Paulo.

Ao lado dos deputados Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), Guiga Peixoto (PSL-SP), Aline Sleutjes (PSL-PR) e da advogada Karina Kufa, tesoureira do Aliança pelo Brasil, novo partido de Bolsonaro, Zambelli afirmou haver uma insatisfação da militância bolsonarista com a possibilidade de Paulo Skaf presidir a sigla em São Paulo. Segundo interlocutores ouvidos pelo GLOBO, o temor é que aliados de Skaf pouco alinhados com Bolsonaro tenham influência na burocracia partidária.

Skaf tem feito acenos públicos de apoio a Bolsonaro. Na semana passada, o presidente cumpriu parte da sua agenda em São Paulo ao lado do empresário, que se mostra entusiasta pela construção do Aliança no estado. Zambelli tratou de apaziguar os ânimos dos bolsonaristas ao afirmar que o nome de Skaf não deve vingar para o posto.

Zambelli também revelou que, em meio às incertezas que cercam a sua viabilização a tempo das eleições municipais, o Aliança pelo Brasil já trabalha nomes para o pleito na capital paulista. A chapa a ser batizada pelo presidente Bolsonaro para concorrer à Prefeitura de São Paulo deve ser encabeçada pelo deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP). Tomé Abduch, empresário e ativista do grupo conservador NasRuas, é cotado para ser vice.

— Muitos de vocês vieram me questionar a respeito da presidência do partido aqui em São Paulo. Alguns chegaram para mim e falaram assim: “Se for o Skaf, eu tô fora”. Mas a gente já sabe quem é o predileto a presidir o partido — afirmou, voltando-se para o colega Luiz Philippe de Orleans e Bragança.

Carla Zambelli tratou as informações como sigilosas. Antes de anunciar a empreitada, a deputada pediu que as pessoas presentes no salão do evento desligassem as câmeras e gravadores e fiscalizassem os colegas para garantir que ninguém infringisse o pedido. Em seguida, ela pediu que os profissionais da imprensa se identificassem e se retirassem do local até segunda ordem.

Orleans e Bragança foi ovacionado com um coro de “Princeso! Princeso!”, uma referência à sua ascendência monarquista. Ele é descendente dos imperadores do Brasil Pedro I e Pedro II e conhecido como “príncipe”.

— A gente está ouvindo o nome do Eduardo Bolsonaro, que seria muito bem aceito, mas o Luiz Philippe é a pessoa mais discreta, mais preparada, competente para isso, tem perfil, sabe lidar com a imprensa. Ele é meu candidato a prefeito, junto com o Tomé de vice. Isso que eu estou dizendo é a minha opinião e a de algumas pessoas com as quais eu tenho conversado — disse Zambelli.

A deputada afirmou na sequência que “ainda é cedo para a gente falar isso para a imprensa, porque se não vai dar rolo” e que a escolha depende da aceitação do presidente Jair Bolsonaro. Ela sugeriu que gostaria de saber da militância se a chapa teria o apoio de todos. Foi respondida com uma aclamação em apoio a Orleans e Bragança.

Ela voltou a tocar num assunto que preocupa parte dos apoiadores e lideranças conservadoras: a aprovação do registro do Aliança no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 4 de abril, data limite para filiação de quem quiser disputar as eleições. Para ela, é preciso trabalhar diversos “planos B” em cada região do Brasil. No entanto, declarou que São Paulo ainda não tem uma segunda via para concorrer à prefeitura.

— Por exemplo, o meu irmão (Bruno Zambelli) estava indo para o Patriota, para ser vereador aqui em São Paulo. Aí acabaram de anunciar que o Arthur (do Val) pode ser candidato a prefeito. A gente já deu um passo para trás, porque o Arthur vem criticando o presidente. E eu gosto do Arthur, pessoalmente, gosto do trabalho dele, tenho respeito por ele. Mas se ele for o candidato do Patriota, o meu irmão não pode estar conectado com um prefeito que critica o nosso presidente — afirmou.

A deputada se refere a um fato ocorrido na última quarta-feira. O deputado estadual Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, se filiou ao Patriota, ex-partido de Bolsonaro, para disputar a prefeitura. A negociação envolveu também a filiação do vereador Fernando Holiday, que deve deixar o DEM na próxima janela partidária, em março, para tentar a reeleição pelo novo partido.

Integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), Arthur do Val é conhecido pelas polêmicas e pelos embates com outros políticos. Apesar de próximo dos grupos conservadores, o deputado não poupa suas críticas ao governo Bolsonaro, o que desagrada a militância mais fiel ao presidente.

Paulistano de 45 anos, Tomé Abduch é um empresário da construção civil e uma das lideranças do grupo NasRuas, fundado por Carla Zambelli em 2012. Quando a ativista deixou o comando do grupo para se dedicar ao seu mandato no Congresso, em 2019, Abduch ficou com a organização das manifestações de rua que haviam dado corpo ao NasRuas.

No ano passado, ajudou a levar milhares de pessoas à Avenida Paulista para “protestos pró-governo” e pela defesa da aprovação da reforma da Previdência. Chegou a se emocionar ao gravar um vídeo para o ministro da Justiça e Segurança Pública, do alto de um caminhão de som na manifestação, demonstrando apoio ao pacote anticrime do ex-juiz da Lava-Jato.

Rosto conhecido da militância bolsonarista, Tomé Abduch teve seu nome bem recebido pelos que querem uma chapa “puro sangue” na eleição paulistana: de direita, conservadora, contrária às pautas da esquerda e totalmente alinhada com o governo de Jair Bolsonaro.

O Globo