Bolsonaro diz que foi a ‘PM da Bahia do PT’ que matou Adriano

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Foto: Carolina Antunes/PR

O presidente Jair Bolsonaro negou neste sábado, 15, ter ligação com milícias e responsabilizou a “PM da Bahia, do PT” pela morte de Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano, que era procurado sob acusação de chefiar no Rio a milícia Escritório do Crime. O mandatário afirmou que conheceu o miliciano em 2005, nunca mais teve contato com ele e citou a imprensa para afirmar que a morte do ex-PM foi “queima de arquivo”. O ex-policial foi morto pela Polícia Militar baiana, em cerco em Esplanada (BA), no domingo, 9. Fora localizado após fugir, por mais de um ano, da Polícia fluminense.

“Eu não conheço a milícia do Rio de Janeiro, não existe nenhuma ligação minha com a milícia do Rio de Janeiro, não existe nenhuma ligação minha com milícia no Rio de Janeiro, zero, zero”, disse o presidente, quando lhe disseram que Adriano era acusado de chefiar um grupo miliciano na zona oeste do Rio. Pouco antes, dissera desconhecer a vida pregressa do ex-policial. “Naquele ano (2005, quando o então policial estava preso e era processado por matar um civil), ele é um herói da Polícia Militar.” Afirmou, porém, que “as pessoas mudam, para o bem ou para o mal mudam.”

A ex-mulher de Adriano, Danielle Mendonça, e a mãe dele, Raimunda Veras Magalhães, foram assessoras de Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente, no Legislativo fluminense. As duas estão entre os investigados pelo Ministério Público no suposto esquema de “rachadinha” (devolução de salários ao parlamentar) que teria funcionado no gabinete do então deputado estadual. O MP investiga os crimes de peculato (apropriação de recursos públicos por servidor), lavagem de dinheiro e organização criminosa.

“Quem foi responsável pela morte do capitão Adriano foi a PM da Bahia do PT. Precisa dizer mais alguma coisa?”, afirmou o presidente, após inaugurar nova alça de acesso entre a Linha Vermelha e a Ponte Rio Niterói. “Não tem nenhuma sentença julgada condenando o capitão Adriano por nada, sem querer defender.”

Em 2005, Adriano estava na prisão quando foi agraciado com a Medalha Tiradentes, mais alta condecoração da Assembleia Legislativa, a pedido de Flavio. “Eu pedi pra ele (Flávio) condecorar, ele (Adriano) é um herói”, disse o presidente. Bolsonaro afirmou que o filho condecorou centenas de policiais e o chamou para falar do episódio.

“Isso tem 15 anos”, disse Flavio. O senador lembrou que fez questão de pedir para não cremarem o corpo de Adriano (manifestou-se pelo Twitter, quando a Justiça já tinha proibido a cremação, a pedido do Ministério Público) já que “pelo que soube e como mostrou a revista Veja, ele foi torturado.”

“Para falar o quê? Com certeza não é pra falar sobre nós, porque não tem o que falar contra nós, não temos envolvimento nenhum com milícia”, disse Flavio, demonstrando exaltação.

O governador da Bahia, Rui Costa, respondeu a afirmação pelo Twitter. Disse que o governo baiano “não mantém laços de amizade nem presta homenagens a bandidos nem procurados pela Justiça”. Afirmou que “a Bahia luta contra e não vai tolerar nunca milícias nem bandidagem” e terminou por dizer que agentes da lei têm direto de defender suas vidas quando colocadas em risco, “mesmo que os marginais tenham laços de amizade com a Presidência”.

A ex-mulher e a mãe de Adriano foram nomeadas no gabinete por indicação de Fabrício Queiroz, investigado por supostamente operar o esquema de “rachadinha”. Bolsonaro e o filho encerraram a entrevista quando lhe perguntaram por que as duas foram contratadas.

O Escritório do Crime foi investigado nas operações Os Intocáveis e Os Intocáveis II. Explora grilagem, promove extorsões e comete assassinatos por encomenda. Ronnie Lessa, preso sob acusação de matar a vereador Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes, em março de 2018, é ligado a essa milícia.

Depois da inauguração da alça viária, Bolsonaro e Flávio para um evento evangélico do pastor RR Soares, na Enseada de Botafogo, zona sul do Rio. Lá, o presidente dançou no palco ao lado do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PSC).

Outro lado. Procurada para comentar as declarações, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia afirmou que a polícia agiu dentro da legalidade. “A necropsia mostrou que não houve nenhum tipo de tortura e que no confronto Adriano foi atingido por dois disparos”, disse a pasta.

Estadão