Datena nega ser candidato de Bolsonaro

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Foto: Divulgação/Band

Cotado para disputar a Prefeitura de São Paulo com o apoio de Jair Bolsonaro, o apresentador de televisão José Luiz Datena diz que nunca se definiu como o candidato do presidente, afirma que está conversando com todos os partidos políticos “independentemente do viés ideológico”, conta que poderá almoçar hoje com o ex-governador Márcio França (PSB) para discutir chapa e formação de alianças e despista sobre a decisão que tomará, garantindo que pode adiar a entrada na política até 2022 para disputar uma vaga no Senado. Há poucos dias, Datena havia sinalizado a intenção de concorrer ao governo paulista, um indicativo claro das oscilações do apresentador no campo político. Ele já considerou concorrer a cargos públicos em outros pleitos, mas nunca embarcou em nenhuma candidatura.

Datena avalia a possibilidade de ser o cabeça de chapa em uma eventual composição com Márcio França ocupando a vice, conforme relatou ao Valor. Em São Paulo, França antagoniza com a direita por conta do processo eleitoral de 2018, no qual disputou o segundo turno com o hoje governador João Doria (PSDB), que à época o chamava de “Márcio Cuba” – referência que o associou à esquerda e ao PT. França foi procurado pela reportagem para comentar as negociações políticas com Datena, mas não retornou até o fechamento desta edição.

A seguir os principais trechos da entrevista.

Valor: O senhor já decidiu se vai concorrer a prefeito de São Paulo e por qual partido? José Luiz

Datena: Ainda não decidi e isso não significa que eu não vá ser candidato, porque tem muita gente falando comigo. Espero uma melhor perspectiva ou então posso optar por uma vaga nas eleições para senador.

Valor: O senhor foi convidado para o almoço com Bolsonaro na Fiesp no começo do mês e não apareceu. Isso foi interpretado como um possível desalinhamento com o presidente. O senhor não é mais o candidato dele em São Paulo?

Datena: Não necessariamente, nesse dia o Bolsonaro foi em seguida na Bandeirantes [emissora em que o apresentador trabalha]. Mas eu nunca me defini como candidato do Bolsonaro, e nem ele me definiu como o candidato dele. Eu entrevistava o Bolsonaro na TV quando ninguém dava bola para ele e passei a ter um relacionamento legal com ele. Me definiram como o candidato do Bolsonaro, mas isso as pessoas acham, nunca foi acertado, até porque as eleições estão em aberto. Agora, todo o apoio de um presidente da República é bem-vindo, sem dúvida. Mas eu sou um cara que preza pelo cumprimento da Constituição, não sou um cara ideológico.

Valor: Vai se encontrar com o Bolsonaro para definir seu futuro político?

Datena: Terei um encontro com ele em breve para a gente definir algumas coisas. É claro que independentemente de ser apoiado pelo presidente ou não, como ele já disse que eu seria um bom candidato, que eu ganharia a prefeitura, qualquer decisão que eu tomasse, até por uma questão de cortesia, de respeito, eu comunicaria a ele.

Valor: E com quais lideranças políticas o senhor tem conversado sobre a aliança para eventual candidatura a prefeito?

Datena: Com muita gente, mas só falo com quem me procura. Tenho um almoço amanhã [hoje] com o Márcio França, tem de ver só se não haverá conflito de agendas. Conversei com o [pré-candidato a prefeito] Andrea Matarazzo (PSD), é um cara legal, mas com ele não tem papo, o candidato do PSD é ele e ponto. Já o Márcio França primeiro me propôs que eu fosse o vice dele e eu falei não. Aí ele falou de ser vice e eu na cabeça de chapa. O Márcio talvez apoie o Bolsonaro. Política é um negócio onde tudo é possível, bicho. O [Winston] Churchill [ex-primeiro ministro britânico] disse, na Segunda Guerra Mundial, que se o Hitler invadisse o inferno ele se proporia a ser aliado do diabo. O [ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva] Lula já abraçou o [ex-senador] Antonio Carlos Magalhães e saiu em foto de campanha com o Maluf.

Valor: O Márcio França comentou se concordaria em sair do PSB?

Datena: Não, de jeito nenhum, nem se cogita isso. O que se falou é de uma candidatura pelo PSB. Vamos ver.

Valor: O que motiva o senhor a trocar a carreira de apresentador pela política?

Datena: Todo mundo que postula um cargo, desde que não seja picareta ou vagabundo, quer fazer o que muita gente não fez, em vez de roubar, trabalhar; em vez de pensar no bolso, pensar no povo. E mudar o foco da minha carreira, porque falando como jornalista eu não consegui mudar muita coisa. São 50 anos de profissão. Talvez na política eu possa, e provavelmente ocuparei o cargo de uma pessoa que, se fosse eleita no meu lugar, quem sabe não fosse um bom político. Acho que é um ato de cidadania, pessoalmente eu tenho muito mais a perder do que ganhar. Tenho cinco stents no coração, já passei por uma operação complicada de pâncreas para retirar um tumor. Outro dia o Bolsonaro perguntou se estou bem de saúde. Eu falei que ele tomou uma facada na barriga e está aí, presidente do Brasil. O meu médico, o [cardiologista Roberto] Kalil falou que eu corria risco lá atrás, que hoje eu tô bem de saúde.

Valor: E quando o senhor vai decidir se entrará na política?

Datena: Eu ainda vou decidir. Eu te falei que tenho mais a perder do que ganhar. Tem a coisa da mosca azul do Machado [de Assis, autor do poema “A Mosca Azul” que fala sobre a vaidade]. Ainda tem tempo até a eleição.

Valor Econômico