Foliões criam fantasias para criticar governo

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Foto: Ana Branco/Agência O Globo

Folião que é folião de verdade não economiza quando o assunto é criatividade de fantasias para os blocos de rua. Neste sábado, quando o sertanejo “Chora me liga” promete lotar as avenidas Antônio Carlos e Primeiro de Março, no Centro do Rio, algumas ideias chamaram a atenção do público, que aproveita para fazer uma selfie.

O engenheiro Alexandre Anicio Xavier, de 40 anos, aproveitou o bloco “Chora, me liga” para fazer um protesto bem-humorado sobre a qualidade da água da Cedae. Ele caminhou pela Avenida Primeiro de Março carregando uma caveira com a placa “São as águas da Cedae fechando o verão, é promessa de m**** com água e sabão”, paródia de “Águas de Março”, música escrita por Tom Jobim na década de 1970.

— Nós temos que aproveitar o carnaval para protestar mesmo. É uma vergonha a qualidade da água que os cariocas estão recebendo em suas casas. Eu pulo, canto, danço, mas não deixo de lado o meu lado cidadão.

— Sempre gostei muito de ser livre, mas pela primeira vez eu estou me sentindo à vontade no carnaval. Todas as mulheres deveriam fazer isso, apesar do machismo

Quem também chamava atenção no bloco era o zelador Denilson Vieira, de 54 anos. Ele saiu vestido de “coroa vírus”, arrancando risos pelas ruas.

— Está todo mundo com medo de mim por aqui — brincou o folião.

Os temas mais quentes da política nacional também se transformaram em irreverentes fantasias no pré-carnaval do bloco “Céu na Terra” que lota as ladeiras de Santa Teresa na manhã deste sábado. Críticas à crise de água no Rio, à declaração de Paulo Guedes sobre empregadas na Disney e à mal sucedida tentativa de Eduardo Bolsonaro de se tornar embaixador do Brasil nos Estados Unidos são algumas das dezenas de motes que inspiraram foliões.

— O Paulo Guedes falou que nenhuma emprega ia para a Disney, mas na verdade na época do dólar a R$ 1,80 quem ia para Disney era uma nova classe média que estava surgindo. E com a fantasia eu quis por em questão essa fala elitista que diz muito sobre o que esse governo prega — disse Carina, sensação entre os foliões que paravam para tirar fotos.

O professor Richarlls Martins, de 35 anos, parodiou com sua fantasia a tentativa de Eduardo Bolsonaro de se candidatar ao posto de embaixador do Brasil nos EUA. Segundo ele, porém, o exemplo é mais um episódio frente A um cenário mais amplo em que o humor se torna uma forma de trazer a tona reivindicações sociais.

— É uma tentativa de trazer para o carnaval temas neste momento de folia que também sirvam para refletir politicamente sobre o Brasil.

O Globo