Greves da PM preocupam Congresso e STF

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Foto: Agência Brasil

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e parlamentares da cúpula do Congresso veem com apreensão a série de levantes de policiais militares, cujo ápice aconteceu nesta quarta-feira, no Ceará, com o senador Cid Gomes baleado. Integrantes do Judiciário e do Legislativo avaliam que é preciso conter essa “escalada autoritária”.

Logo depois do episódio em Sobral, políticos e magistrados passaram a repetir a tese de que governadores podem perder o controle de suas polícias. Para ministros e parlamentares ouvidos pelo GLOBO, o episódio no Ceará ganha ainda mais importância por ter acontecido em meio ao clima de tensão entre governadores e Bolsonaro e depois de novo embate entre o Congresso e o Palácio do Planalto.

A preocupação com o efeito cascata dos motins pelo país também fez com a cúpula do Judiciário incentivar um raio-x da atual situação das polícias de todos estados. A ideia é identificar possíveis focos de conflitos e, eventualmente, uma ligação entre os grevistas.

Na segunda-feira, vinte governadores divulgaram uma carta criticando Bolsonaro por não contribuir para a “evolução da democracia”. No dia seguinte, em um jantar na residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o ministro Gilmar Mendes (STF) falaram da importância de reações imediatas e enfáticas a qualquer sinal de autoritarismo do presidente e sua equipe.

Com a presença de 12 deputados à mesa, o governador João Doria explanou a intenção de fortalecer o Parlamento para, assim, fortificar a democracia, segundo relato dos presentes. Decidiu-se que os presidentes da Câmara e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), sairiam em defesa do Parlamento sempre que identificado algum “ataque” contra a democracia. Davi Alcolumbre não participou do jantar.

Um dos presentes afirmou ao GLOBO que o sentimento extraído é de que “o Congresso precisa estar unido e fortalecido para proteger não o Legislativo, mas a democracia”. Naquele momento, a preocupação era com as insinuações sexuais que o presidente Jair Bolsonaro havia feito à jornalista Patrícia Campos Mello, do jornal “Folha de S. Paulo”.

Naquela terça, Bolsonaro insinuou que Patrícia “queria sair” com Hans River do Nascimento, ex-funcionário de uma empresa que fez disparos em massa pelo WhatsApp nas eleições de 2018. A declaração do presidente se deu após depoimento de Hans River à CPI das Fake News, que acabou desmentido pelo jornal com a publicação de troca de mensagens entre os dois.

No dia seguinte ao jantar, veio o teste de fogo. Como acordado, Rodrigo Maia saiu imediatamente em defesa do Parlamento quando revelado pelo GLOBO que o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, sugeriu a Bolsonaro a enfrentar o Congresso e a “não ceder às chantagens” do Parlamento.

Maia afirmou ser “uma pena que o ministro com tantos títulos tenha se transformado num radical ideológico contra a democracia, contra o Parlamento”. Em seguida, Davi Alcolumbre, completou que “nenhum ataque à democracia será tolerado pelo Parlamento”.

— O momento mais do que nunca é de defesa da democracia, independência e harmonia dos Poderes para trabalhar pelo país — continuou Alcolumbre.

A apreensão com a escalada autoritária fez com que governadores criassem um grupo de WhatsApp para trocar mensagens sobre decisões rápidas a serem tomadas. Para um dos representantes do Fórum de Governadores, eles estão se unindo para a tentar impedir ações autoritárias.

O Globo