Janeiro tem rombo gigante nas contas externas

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Foto: Agência Brasil

As contas externas brasileiras registraram em janeiro de 2020 um déficit de US$11,9 bilhões, informou nesta segunda-feira o Banco Central (BC). O resultado foi pior do que o apresentado no mesmo mês de 2019, quando o déficit foi de US$ 9 bilhões.

Segundo o Banco Central, o resultado foi influenciado principalmente pela retração de US$ 3,6 bilhões no saldo da balança comercial, em comparação com 2019. O saldo é a diferença entre exportações e importações.

Mesmo como dólar alto, renovando sucessivos recordes, as exportações registraram um resultado de US$ 14,5 bilhões, queda de 19,5% em relação ao mesmo período de 2019.

Nesta quinta-feira, o dólar passou dos R$ 4,40 pela primeira vez na História. Em tese, o real desvalorizado beneficia os exportadores, pois os produtos ficam mais baratos para quem compra no exterior.

Já as importações aumentaram 0,6% para US$ 17,1 bilhões. O resultado final foi de déficit de US$ 2,6 bilhões contra superávit de US$ 1 bilhão em 2019.

O déficit em transações correntes acontece quando o volume de dinheiro que sai do Brasil supera o montante que entra no país. A medida considera exportações e importações, os gastos de brasileiros no exterior e as remessas de lucros, juros e dividendos para fora.

O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, disse que não tem informações para verificar se houve efeito do coronavírus nas exportações. Rocha ressaltou que houve uma desaceleração ao longo do mês e citou uma ampliação do feriado do ano novo chinês.

– A gente não tem ainda, pelo menos eu não tenho, informações para comprovar ou refutar essa hipótese. Quando a gente olha as estatística semanais de exportações, olhamos em janeiro uma desaceleração da exportação semana a semana, isso não dá pra dizer que já é alguma coisa de coronavírus, mas na China você teve uma ampliação do feriado do ano lunar. Então é provável que tenha tido uma diminuição da demanda chinesa, mas não se tem nenhuma informação mais precisa – disse.

Segundo o BC, o déficit foi parcialmente compensado pelas reduções nas despesas líquidas de renda primária (lucros e dividendos do Brasil para o exterior, salários, pagamento de juros) e de serviços, nos valores de US$ 506 milhões e US$ 182 milhões, respectivamente.

O resultado no período de 12 meses terminado em janeiro é de um déficit de US$ 52,3 bilhões contra US$ 49,5 bilhões em 2019.

O investimento direto no país foi de US$ 5,6 bilhões no mês. O número representa uma pequena queda quando comparado com o resultado de janeiro de 2019, quando o investimento foi de US$ 5,8 bilhões.

No período de doze meses, o investimento direto foi de US$ 78,4 bilhões, correspondendo a 4,26% do PIB. No mesmo período no ano passado, o resultado foi de US$ 78,6 bilhões, ou 4,27% do PIB. Com esse resultado, o investimento direto não é suficiente para cobrir o déficit nas contas externas.

Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, explicou que investimentos diretos no país são fluxos de recursos mais estáveis, como um financiamento do aumento na capacidade produtiva e por isso é uma boa maneira de compensar o déficit nas transações correntes.

– O déficit significa que demanda mais bens e serviços do exterior e que essa maior demanda precisa ser complementada por ingressos em outras fontes, a maior dessas fontes é o investimento direto no país – disse.

O BC estima que para fevereiro os investimentos diretos fiquem ao redor de US$ 6,1 bilhões.

Os brasileiros gastaram US$ 1,4 bilhão em viagens no exterior enquanto os estrangeiros gastaram US$ 582 milhões no Brasil. Esse déficit de US$ 857 milhões é o menor para meses de janeiro desde 2016. Em comparação com 2019, os dois índices diminuíram, os brasileiros gastaram US$ 1,7 bilhão e os estrangeiros US$ 700 milhões.

Segundo o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, o resultado teve um impacto esperado da desvalorização do dólar. Comparando as médias do dólar em janeiro de 2019 e janeiro de 2020, a desvalorização foi de 10,9%.

– A desvalorização cambial torna os gastos dos turistas brasileiros no exterior maiores para quem ganha em reais e com isso há uma tendência de redução nas despesas e redução nas contas como um todo – afirmou.

Em 2019, as contas externas fecharam com um rombo de US$ 50,8 bilhões, o pior resultado desde 2015. O mês de dezembro de 2019 também fechou com déficit, mas de US$ 5,7 bilhões.

O Globo