Onyx mentiu sobre base de Anápolis

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Foto: Jorge William/Agência O Globo

A Base Aérea de Anápolis (GO), que está sendo cogitada para receber os brasileiros que virão da China e precisarão passar por uma quarentena, não foi utilizada no episódio do césio 137, como alegou o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. A Força Aérea Brasileira (FAB) e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, afirmaram que a base não foi utilizada. Na época, as pessoas expostas à radiação foram tratadas inicialmente em Goiânia e depois no Rio de Janeiro.

Na segunda-feira, Onyx disse que havia uma “sinalização muito forte” para a base de Anápolis ser escolhida justamente porque “trabalhou com essa coisa do isolamento” no episódio do césio 137. O governo procura um local para levar os brasileiros que serão retirados de Wuhan, cidade epicentro da epidemia do novo coronavírus. Uma equipe técnica com integrantes dos ministérios da Saúde e Defesa fez uma vistoria na base nesta terça-feira. Outra localidade cogitada é em Florianópolis.

— Há uma sinalização muito forte para Anápolis porque, no período do césio, lá trás, foi uma área militar que trabalhou com essa coisa do isolamento — disse Onyx, em entrevista à Rádio Gaúcha.

Em nota, a Comissão Nacional de Energia Nuclear informou que a base aérea “não foi utilizada para isolamento/tratamento dos pacientes do acidente”. De acordo com o órgão, “todos os paciente foram isolados no 3º andar do antigo Hospital Geral do Inamps (atual Hospital Alberto Rassi)”, que fica em Goiânia. Depois, “parte dos pacientes foram transportados e atendidos no Hospital Marcílio Dias na cidade do Rio de Janeiro, hospital de referência para tratamento de radioacidentados”.

Por telefone, a assessoria de imprensa FAB também informou que base não foi utilizada. O GLOBO procurou a Casa Civil para saber se o ministro se equivocou, mas ainda não houve retorno.

Em setembro de 1987, um equipamento contendo uma cápsula com césio 137 foi parar num ferro-velho no Setor Central de Goiânia, vendido por dois catadores de lixo. O dono do estabelecimento abriu a peça, para aproveitar o chumbo, sem saber que pertencera ao Instituto Goiano de Radioterapia e era usada em tratamentos médicos. Dentro, encontrou uma pedra que emitia uma luz azulada. Eram, na verdade, 19,26 gramas de cloreto de césio 137.

A novidade foi exibida para parentes e amigos. Poucos dias depois, as pessoas expostas ao césio 137 começaram a apresentar os sintomas típicos de contaminação, mas nos hospitais de Goiânia, foram medicadas como se tivessem alguma doença contagiosa. Somente 17 dias depois de a cápsula ser aberta é que a contaminação radioativa foi identificada.

As vítimas foram tratadas inicialmente em Goiânia. Parte delas foi transferida no início de outubro para o Hospital Naval Marcílio Dias, que funciona até hoje no Lins de Vasconcelos, na Zona Norte do Rio. Foram lá que morreram as quatro vítimas oficiais da radiação. Os registros oficiais indicaram apenas essas quatro mortes, mas a Associação de Vítimas do Césio 137 aponta 60 mortes e pelo menos 1,6 mil pessoas afetadas diretamente pela exposição ao material.

Em 2017, a Academia Nacional de Medicina (ANM) homenageou a Marinha do Brasil, por meio do Hospital Naval, pela atuação no atendimento de 14 vítimas do acidente.

O Globo