Sergio Cabral acusa sua ex-mulher, Adriana Ancelmo

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Foto: Marcos Arcoverde/Estadão

Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho afirmou pela primeira vez que Adriana Ancelmo, com quem vivia antes de ser preso, sabia da existência de um caixa paralelo no escritório de advocacia em que era sócia. “Ela sabia que meus gastos eram incompatíveis com a minha receita formal”, disse Cabral. Ele também confirmou, na audiência na tarde desta segunda-feira, 10, ter fechado acordo de delação premiada com a Polícia Federal (PF).

A audiência era parte de processo que investiga o uso do restaurante Manekineko para lavar dinheiro durante o governo Cabral (2007-2014). A denúncia aponta que essas operações ocorreram no escritório de Adriana, que teria “esquentado” dinheiro oriundo de corrupção. Em 2016, a Operação Calicute apontou um “crescimento vertiginoso” do escritório de Adriana durante os dois governos de Cabral. Já em 2010, reportagens do Estado apontavam a expansão incomum da banca.

Condenado a mais de 280 anos de prisão em outros processos, Sérgio Cabral depôs pela primeira vez diante de Bretas na condição de testemunha. O ineditismo do depoimento gerou até uma cena inusitada no início da audiência desta tarde. Cabral ia se sentar na cadeira destinada ao réu, quando foi alertado de forma bem humorada por Bretas de que daquela vez seu lugar não era aquele.

“O senhor hoje foi promovido (a testemunha). Pode se sentar do outro lado”, disse o juiz.

Em depoimentos prestados como réu, Cabral já denunciou ex-aliados, procuradores e membros do Judiciário.

Italo Garritano Barros, dono do Manekineko, confirmou ao juiz que seu restaurante pagava mensalmente valores ao escritório de Adriana Ancelmo. De acordo com Barros, os repasses eram geralmente pagos por boleto, e o dinheiro tinha origem lícita. Provinha da conta do restaurante e era declarado para fins contábeis. O motivo dos pagamentos, admitiu o empresário, era pagar uma “folha salarial B” (por fora) de parte dos vencimentos de seus funcionários. Assim, evitava pagar encargos trabalhistas.

Segundo acordo de delação firmado por Italo Barros com o Ministério Público Federal (MPF), o esquema teria sido sugerido por Thiago Aragão Gonçalves Pereira e Silva. Ex-sócio do escritório de Adriana Ancelmo , ele é casado com a irmã da mulher de Italo. O MPF acredita que o escritório utilizava os pagamentos numa manobra para lavar dinheiro recebido como propina de fornecedores do governo Cabral.

Barros admitiu em juízo a fraude trabalhista. Por causa dela, está pagando multa milionária. Alega, porém, ter sido enganado por Thiago. Nega qualquer envolvimento com o esquema de lavagem.

Cabral confirmou os pontos levantados pelo empresário. Afirmou que Italo não sabia que os pagamentos que fazia ao escritório eram usados para lavar dinheiro.

Em nota, a defesa de Adriana Ancelmo refutou as declarações do ex-governador.

“Não vejo como possível levar a sério esse novo depoimento de Sergio Cabral. Se ele sequer mencionou o fato à Polícia Federal, ao que se sabe, em sua delação, passa-se a ideia de que o ex-governador quer se posicionar como um colaborador da Justiça, confessando tudo o que lhe for perguntado, a fim de auferir benefícios que nem mesmo o Supremo Tribunal Federal concedeu”, declarou no texto o advogado Alexandre Lopes. “Parece desespero pelos quase 300 anos de pena já impingida.”

O Estado não localizou a defesa de Aragão Gonçalves Pereira e Silva.

O acordo de delação, segundo o advogado do ex-governador, Marcio Lambert, já foi homologado junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). A colaboração premiada com a PF foi firmada em dezembro passado. O conteúdo está sob sigilo.

Ao confirmar que fechou acordo de delação, Cabral foi alertado pelo juiz Marcelo Bretas que qualquer declaração do ex-governador na audiência desta segunda-feira poderia ter reflexos futuros no próprio acordo. O ex-governador se disse ciente, mas não se furtou a responder qualquer pergunta ­– a não ser quando foi inquirido pela defesa de Adriana Ancelmo sobre pontos envolvendo a delação.

Estadão