Arcebispo critica indiretamente discurso de Edir Macedo

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Greg Salibian/Folhapress

Diante da crise provocada pela pandemia do coronavírus, o arcebispo metropolitano de São Paulo, cardeal dom Odilo Scherer, 70, critica o que chama de desprezo à ciência e afirma que a igreja vem atuando para evitar a proliferação de notícias falsas sobre a emergência sanitária.

Ao longo das últimas semanas, ganhou corpo uma corrente que considera exagerados os receios sobre a pandemia e as medidas das autoridades para contê-la. O líder da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, gravou um vídeo no qual disse que a população está “apavorada por algo que não condiz com a realidade”.

À Folha dom Odilo disse por email: “É importante ser realista e não desprezar a realidade e a verdade dos fatos”.

Em relação às notícias falsas, em mensagem a bispos auxiliares, padres e diáconos no início da semana, o arcebispo metropolitano recomendou que se evite “de toda forma repassar ‘fake news’ para não desorientar o povo”.

Na carta, também pediu calma, bom senso e que se evite “toda forma de pânico”.

À reportagem o cardeal também defendeu a decisão da igreja de manter os templos abertos em meio ao risco de disseminação da doença —posicionamento também compartilhado pela denominações evangélicas.

Nesta sexta-feira (20), após o arcebispo responder à reportagem, a Justiça proibiu a realização de missas e cultos no estado de São Paulo, atendendo a um pedido do Ministério Público.

Dom Odilo afirmou que segue orientação do papa Francisco, que mandou reabrir igrejas de Roma. “Foi o que a igreja sempre fez no passado, em momentos de crise e angústia”, diz o cardeal.

No último domingo (15), a paróquia Nossa Senhora do Brasil, nos Jardins (zona oeste de São Paulo), celebrou missa ao ar livre, em uma praça ao lado da igreja, para evitar a transmissão da moléstia.

A sociedade está acolhendo as recomendações relativas à prevenção contra a pandemia do coronavírus.

A cidade já se esvaziou bastante e rapidamente. Ainda deverá acontecer mais, porém tenho a impressão de que, nos primeiros dias, [a reação] às medidas tomadas pelas autoridades está sendo positiva, o que revela uma tomada de consciência sobre a seriedade da pandemia.

Está claro que esta crise sanitária terá efeitos graves sobre a economia e outros setores da vida social, mas teremos que enfrentar esses efeitos por causa de um bem maior, que é a saúde e a vida.

No momento, o importante é unir esforços para enfrentar a emergência sanitária e evitar que o pior aconteça para muitas pessoas. As crises são ocasião para criatividade e inventividade, mesmo no campo social e das relações humanas.

Esta é uma boa ocasião para revalorizar a vida, as relações humanas simples e essenciais, as coisas que não têm preço, como o amor, a família, a solidariedade e a sensibilidade diante do sofrimento do próximo.

Manter as igrejas abertas não obriga ninguém a entrar nelas ou a participar das celebrações comunitárias.

Estamos orientando que as pessoas idosas e outras, pertencentes aos grupos mais vulneráveis, permaneçam em suas casas e assistam às celebrações religiosas pelos meios de comunicação.

Mas é importante que as pessoas possam ter igrejas abertas para seu momento de oração, de conforto espiritual e de esperança. Nisso seguimos as orientações do papa Francisco, que mandou reabrir as igrejas de Roma depois de terem sido fechadas por uns dias.

E também foi o que a igreja sempre fez no passado, em momentos de crise e angústia. As portas abertas das igrejas são um sinal de acolhida e de refúgio na angústia. Nelas há sempre alguém esperando para acolher, confortar e orientar.

É lamentável que se espalhem fake news sobre questões tão sérias. A igreja vem orientando a usar todas as formas de comunicação de forma positiva e para a edificação das relações humanas e sociais. As diversas mídias sociais, quando bem usadas, podem ser aliados valiosos no combate aos males que afligem a comunidade humana, inclusive as doenças.

É importante sermos realistas e não desprezarmos a realidade e a verdade dos fatos. Por esse mesmo motivo também devemos usar de cautela e avaliar criticamente as coisas. Mas o desprezo à ciência é grave e pode levar a consequências desastrosas.

Minha esperança é que saiamos todos mais humildes e mais unidos dessa crise sanitária. Quem imaginava que um pequeno vírus pudesse causar tanto pavor e problemas de todo tipo? Achávamos que éramos muito poderosos e acabamos todos condicionados e ameaçados por uma criaturinha aparentemente insignificante…

As polarizações deveriam ceder espaço a maior respeito, humildade e solidariedade. E se assim fosse, o vírus nos ensinaria uma boa lição de vida.

Folha